domingo, 1 de agosto de 2010

O cinema americano se reduziu a uma extensão da indústria de explosivos.

Rui Castro, falando do cinema dos EUA de 80 para cá....

RUY CASTRO

Canastrão incongruente
RIO DE JANEIRO - Na Hollywood clássica havia um canastrão oficial: Victor Mature. Até ele achava. Certa vez, por não aceitar atores como sócios, um clube de golfe de Los Angeles recusou sua inscrição. Mature se defendeu: "Não sou ator. E tenho 64 filmes para provar isto". Ator ou não, ganhou um Oscar (de coadjuvante, por "Paixão dos Fortes", em 1946) e ficou famoso com "O Beijo da Morte" (1947), "Sansão e Dalila" (1949) e "O Manto Sagrado" (1953).
A carreira de Mature durou dez anos -em 1955, ninguém queria saber mais dele. Já a carreira de Sylvester Stallone, que lhe copiou os papéis, os músculos e a carantonha, completou 40. E olhe que, comparado a Stallone, Victor Mature era sir Laurence Olivier.
Stallone, que andou rodando um filme aqui, disse outro dia: "No Brasil, ao filmar, pode-se demolir casas e explodir prédios de verdade e matar gente. Eles agradecem e ainda nos dão um macaco de presente". Não sei se a realidade do Brasil é essa, se a nossa hospitalidade chega a tal ponto e se há tantos macacos disponíveis. Stallone poderia ter dito também que saiu devendo dinheiro a um bando de gente no Brasil, não pretende pagar e o calote ficará por isso mesmo.
Sua diatribe foi ingrata, injusta e incongruente porque a explicação para seu sucesso reside justamente no embrutecimento do cinema americano -no fato de que, de 1980 para cá, este se reduziu a uma extensão da indústria de explosivos. Nos filmes de Stallone e de outros como ele, a ação se resume em demolir cidades, cenários e seres humanos. Os americanos adoram isso, não vivem sem.
Confesso que, até hoje, só vi um filme de Stallone: o primeiro "Rambo" (1982). Ali decidi que não precisaria ver outros. Significa que há 28 anos não saio de casa para assistir às suas porcarias. Na verdade, deveria ser-lhe grato pela excepcional qualidade de vida que tenho levado desde então.


CESAR MAIA

Guerrilhas e finanças
A questão central das guerrilhas sempre foi a de financiamento e logística. Afinal, armas e munição não caem do céu. A apropriação em combate no máximo conta-se em unidades. Por ideologia, a atração de recursos humanos e a motivação dos guerrilheiros podem ser resolvidas. Medicamentos, comida e uniformes, até se conseguem em ação.
Nos anos 80 as guerrilhas de esquerda latino-americanas atingiam seu auge, inspiradas em Cuba, no Vietnã e na tomada de poder pelos sandinistas na Nicarágua em 1979. Tive uma longa conversa, em Manágua, em 2006, com Éden Pastora -o mítico Comandante Zero-, que tomou o Palácio Nacional em 1978.
Todo o encanto ideológico se desfez para ele no momento da ocupação do poder, quando as lideranças deram lugar aos parentes e amigos de Ortega, que governou até 1990 e voltou ao poder agora, num escabroso acordo.
O processo de paz com as guerrilhas de Guatemala, El Salvador e Honduras se deu na primeira metade dos anos 90, com celebração pela ONU.
A entrega de armas e a paz seriam inevitáveis depois da queda do Muro de Berlim em 1989, da implosão do Pacto de Varsóvia e da desintegração da União Soviética em 1991. Com o término do subsídio soviético ao açúcar cubano e sem as fontes de financiamento da Europa Oriental, as guerrilhas centro-americanas foram perdendo fôlego.
O processo de paz, liderado pela ONU, foi nesse sentido quase humanitário. A democratização veio com a superação das ditaduras de direita patrocinadas pela United Fruit e congêneres, cujo caso mais extravagante foi o da ditadura "hereditária" somozista na Nicarágua. As guerrilhas transformadas em partidos políticos.
Mas há exceções, ambas na América do Sul. As Farc e o ERP na Colômbia e o Sendero Luminoso no Peru. Nos três casos as fontes público-ideológicas de financiamento das guerrilhas foram substituídas por fontes "privadas".
Primeiro as extorsões mediante sequestro, que passaram a somar milhares por ano, alcançando centenas de milhões de dólares. E em seguida o tráfico de cocaína. Inicialmente com as guerrilhas cobrando pedágio para a passagem da cocaína. E em seguida com elas mesmas dando proteção à produção de coca e cobertura aos traficantes.
A liquidação dos grandes cartéis de cocaína deu curso a sua pulverização, facilitando o "trabalho" das guerrilhas. Substituídas as fontes de financiamento públicas por "privadas", o "ouro de Moscou" pela cocaína, as guerrilhas se consolidaram nos anos 90, especialmente as da Colômbia. Que ainda estão aí oxigenadas pela cocaína.

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