quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Lula: Corintiano, na vitória ou na derrota

Apaixonado pelo Sport Club Corinthians Paulista, que completou 100 anos, nesta quarta-feira (1º/9), o presidente Lula concedeu entrevista para o jornal Agora e as emissoras de rádio Bandeirante, Globo e MTV. Todas as indagações dos jornalistas tiveram relação direta com o clube do Parque São Jorge. O presidente diz que tornou-se “fiel” ao Timão ainda criança, quando chegou com a mãe Lindu e os irmãos vindo de Garanhuns, Pernambuco. E a principal causa: a cidade tinha mais torcedores do Corinthians.

A cidade tinha na época mais torcida do Corinthians do que do próprio Santos, o Pelé ainda não havia surgido. Quer dizer, desde pequeno eu convivia com muito corintiano à minha volta. Mas eu fui me tornar torcedor mesmo em 1954, quando o Timão ganhou o título do quarto centenário da cidade de São Paulo, um título histórico, muito disputado, todo mundo queria vencer. O Corinthians tinha um time extraordinário, uma linha com Claudio, Baltazar, Luisinho, só craque”, disse o presidente Lula ao jornal Agora.
O periódico paulista perguntou se Lula pretende ser presidente do Corinthians ou ajudar o clube de alguma forma direta. Lula disse que quando deixar a Presidência de República irá ajudar da arquibancada. Ele avaliou a torcida como um espetáculo.

Pode ficar certo de que vão me ver no estádio torcendo. Eu adoro. A torcida, por si só, é um espetáculo – e a torcida do Coringão, a Fiel, é um espetáculo ainda mais extraordinário. As torcidas organizadas brigam muito entre si, eu sou do tempo que a gente sentava do lado de palmeirense, de sãopaulino, hoje o estádio é dividido, mas vou voltar a freqüentar o campo assim mesmo, sempre atrás do meu Corinthians.

O presidente foi indagado também sobre as emoções vividas neste período de torcedor do Timão. Segundo Lula, em 1968, quando o time quebrou a invencibilidade do Santos de 11 anos, foi uma fase marcante. Já na Rádio Globo, ainda sobre a mesma questão, o presidente contou dos anos de dificuldades contra a equipe santista e, mais recente, no período em que o Corinthians foi rebaixado para a série B do Campeonato Brasileiro.

E eu fico emocionado com o Corinthians de qualquer jeito. Quando o Corinthians foi para a Série B, eu adorava ver jogo do Corinthians aos sábados, adorava. Ficou mais fácil, a gente ficou invicto, perdemos só um jogo. Você imagina que a gente poderia ter sido campeão invicto da Série B, campeão invicto paulista, e nós perdemos um jogo para o Bahia, por acaso”, disse na entrevista à Rádio Globo.


Entrevista exclusiva concedida por escrito pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao jornal Agora São Paulo
Publicada em 1º de setembro de 2010

Jornalista: Como se tornou corintiano? De onde vem a paixão, a ponto de a única exigência na época da prisão era ter uma televisão para assistir aos jogos do Timão?

Presidente: Eu cheguei a Santos ainda criança, em 1952, tinha seis anos, e a cidade tinha na época mais torcida do Corinthians do que do próprio Santos, o Pelé ainda não havia surgido. Quer dizer, desde pequeno eu convivia com muito corintiano à minha volta. Mas eu fui me tornar torcedor mesmo em 1954, quando o Timão ganhou o título do quarto centenário da cidade de São Paulo, um título histórico, muito disputado, todo mundo queria vencer. O Corinthians tinha um time extraordinário, uma linha com Claudio, Baltazar, Luisinho, só craque.

Jornalista: Pretende um dia ser presidente do Corinthians ou ajudar o clube de alguma forma direta?

Presidente: O Corinthians tem pessoas competentes trabalhando 24 horas por dia que podem comandar o clube muito bem. Eu, quando deixar a Presidência, vou ajudar das arquibancadas. Uma coisa que para mim vai ser uma paixão vai ser voltar a sentar num estádio, junto da torcida, para falar o palavrão que todo torcedor fala, para gritar. Pode ficar certo de que vão me ver no estádio torcendo. Eu adoro. A torcida, por si só, é um espetáculo - e a torcida do Coringão, a Fiel, é um espetáculo ainda mais extraordinário. As torcidas organizadas brigam muito entre si, eu sou do tempo que a gente sentava do lado de palmeirense, de sãopaulino, hoje o estádio é dividido, mas vou voltar a freqüentar o campo assim mesmo, sempre atrás do meu Corinthians.

Jornalista: Qual foi a maior emoção e a maior decepção com o Corinthians?

Presidente: Ah, a minha maior emoção foi quando a quebra do tabu contra o Santos, em 1968, depois de onze anos sem ganhar. Você veja, eu morei em Santos, me tornei corintiano lá, então, o Santos era um rival muito presente na minha vida. E com Pelé e companhia, dava ainda mais vontade de derrotar. E nós ficamos onze anos sem conseguir, uma eternidade. Graças a Deus que o Paulo Borges e o Flavio marcaram aqueles gols no Pacaembu. Agora, uma grande decepção, um jogo que eu nunca esqueci, foi a perda do Paulista para o São Paulo em 1957. O Corinthians tinha ainda muita gente de 1954, o Claudio, o Luisinho, e o São Paulo com Maurinho, Amauri, Gino, Dino e Canhoteiro. Foi o primeiro jogo que eu vi ao vivo no estádio. Uma tristeza...

Jornalista: Por que o Corinthians tem essa identificação tão forte com o povo?

Presidente: É uma coisa meio inexplicável, mas eu acho que tem a ver com a origem do clube. O time foi fundado por alguns operários, gente trabalhadora, e contam que um deles, o Miguel Bataglia, que foi também o primeiro presidente, disse que o Corinthians ia ser o time do povo e o povo é quem ia fazer o time. E só num clube desses é que poderia ter nascido aquele movimento que misturou futebol com política, que queria liberdade para o povo, a Democracia Corintiana, com pessoas importantes como Sócrates, Casagrande, que não eram e não são apenas jogadores, tinham e têm até hoje consciência política.

Jornalista: O senhor se considera maloqueiro e sofredor? Por quê?

Presidente: Eu costumo dizer que o Corinthians não tem torcida, tem militância, porque é uma paixão, uma grande paixão, como eu vejo que acontece com o pessoal do PT. Eu acho que sou sim um sofredor, porque sou de uma geração que pegou o jejum de 23 anos sem ganhar nada, e foi o tempo em que eu mais fui ao estádio, mais gritei na arquibancada. E foi também, acho, o período que a torcida mais cresceu. Quer dizer, quanto mais o time perdia, mais a gente gostava e torcia. Só pode ser coisa de sofredor, mesmo...

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