Chegada do Bope à favela leva alívio à vizinhança, assustada com os constantes tiroteios dos traficantes
Waleska Borges – O Globo
A chegada da UPP ao Morro dos Macacos foi comemorada por moradores do asfalto, em especial os da Rua Visconde de Santa Isabel, uma das mais afetadas pelos tiroteios na favela.
Na via, que abriga prédios de classe média, alguns com marcas de tiros, os moradores pensam na valorização dos seus imóveis. Já para quem vive nos arredores dos morros da Matriz, de São João e do Quieto, no Engenho Novo, onde será instalada outra UPP, o anúncio da pacificação trouxe a esperança do fim dos constantes roubos.
— Antes da UPP, eu pensava em vender meu apartamento, por causa da violência. Era muito complicado, a rua fechava por causa dos tiroteios. Agora, se a situação mudar, não quero mais sair daqui — disse o analista de sistemas Johen Eine da Silva Pinto, de 30 anos, morador da Visconde de Santa de Isabel.
Vizinhos da comunidade chegaram a blindar janelas Outro morador da rua, T., de 84 anos, que preferiu não se identificar, blindou as janelas do seu apartamento. Ele já teve o carro atingido por um tiro dentro da garagem do prédio: — Esperamos que a polícia venha para ficar, mas ainda não vou tirar o aço da janela.
Quero ver como vai ser.
A pacificação também levou alívio para funcionários do Hospital do Câncer IV (HC-IV), unidade do Instituto Nacional do Câncer vizinha aos Macacos.
— Os pacientes ficavam nervosos com os tiroteios — disse uma enfermeira.
Gerente de um posto de gasolina na Rua Luiz Guimarães, Cláudio Luiz Duarte, de 39 anos, estava empolgado.
— A chegada da UPP é muito positiva. Nos dias de tiroteio na favela, ficamos totalmente sem clientes — contou.
Para a presidente da Associação de Moradores de Vila Isabel, Ana Tinelli, a implantação da UPP precisa ser acompanhada de projetos sociais.
— Esperamos por projetos como de oferta de emprego a jovens — disse ela.
No Engenho Novo, vizinhos dos morros de São João, da Matriz e do Quieto esperam ansiosos pela pacificação. Comerciantes da Rua Barão do Bom Retiro e da Avenida Marechal Rondon contam que os tiroteios são frequentes nas favelas.
— Será melhor para todos nós que moramos aqui e também temos comércio de rua — disse o dono de uma oficina, pedindo anonimato.
Uma professora que mora na Rua Verna Magalhães, nas proximidades do Morro São João, disse que a UPP deverá acabar com os assaltos a pedestres e a carros no asfalto: — A insegurança no asfalto preocupa. Não podemos mais andar com tranquilidade pelas ruas do bairro.
IDOSA COM DROGAS
Lisonete Conceição de Oliveira Azevedo, de 62 anos, foi presa com cerca de meio-quilo de cocaína na Cidade de Deus, Zona Oeste, ontem à noite. Ao ser surpreendida por policiais da UPP da comunidade, ela tentou suborná-los, oferecendo R$ 20 mil para ser libertada. A droga vinha da Favela da Chatuba, no Complexo do Alemão, e seria distribuída em pelo menos cinco pontos de venda na Cidade de Deus. Moradora da comunidade, Lisonete era conhecida como a “titia”.
Os policiais chegaram a ela a partir de denúncias anônimas. A idosa, que também vinha sendo investigada pela Polícia Civil, foi presa na localidade conhecida como Campo do Tangará
A paz pousa nos Macacos
Um ano após a derrubada de helicóptero da PM pelo tráfico, Bope ocupa a favela em Vila Isabel para a instalação da 13ª UPP
Ana Cláudia Costa – O Globo
Um ano depois de um helicóptero da PM ter sido derrubado por traficantes da região, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) subiram ontem o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, dando início à primeira etapa da implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no lugar. Será a 13ª UPP do Rio. Ao todo, 110 homens do Bope, 40 do Batalhão de Choque e 25 do 6º BPM (Tijuca) e do 3º BPM (Méier) ocuparam a favela, além dos vizinhos morros do Pau da Bandeira e do Parque Vila Isabel. A ocupação é fundamental para a segurança da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, por causa da proximidade do Maracanã e do Engenhão.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, uma outra UPP, a 14ado Rio, será instalada em seguida junto aos Macacos, na Favela São João, no Engenho Novo. A nova unidade abrangerá ainda as comunidades dos morros da Matriz e do Quieto. Foram traficantes dessas favelas que, em outubro do ano passado, entraram em confronto com os de Vila Isabel.
Embora os tiroteios sejam rotineiros no Morro dos Macacos, tirando o sono dos moradores da região, a entrada do Bope na favela, por volta das 8h de ontem, foi tranquila: os PMs não enfrentaram resistência dos bandidos. Uma equipe entrou pela mata e ocupou a área onde existe uma cruz, no alto da comunidade; outra subiu pela Rua Joaquim Nabuco, ao lado da Polinter. Para o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a ocupação dos Macacos é um marco na história das UPPs.
— Na ocasião (da queda do helicóptero), eu disse que não íamos agir de cabeça quente, de forma emocional, porque temos um projeto definitivo.
Agora a polícia está lá. Mais importante do que prender essas pessoas (traficantes) é tirar delas os territórios que elas controlam com armas de fogo — frisou o secretário.
Ele não quis responder se o Morro da Mangueira será ocupado ainda este ano: — Não vou dizer, vocês vão ver.
Traficantes teriam fugido na véspera
De acordo com o comandante do Bope, tenente-coronel Paulo Henrique de Moraes, a polícia tem informações de que traficantes deixaram o morro na noite anterior. O oficial afirmou que o tráfico na favela já era inexpressivo: a quadrilha só se mantinha no local para que outra facção criminosa não assumisse o controle do morro. Ele disse que policiais do Bope viram anteontem a fuga de traficantes para a região conhecida como Patolinha, junto aos Macacos, que será vasculhada hoje.
Apenas um traficante foi preso ontem e um carro roubado, recuperado.
Não foram apreendidas armas ou drogas.
— Temos informações de que eles deixaram a comunidade quando souberam que o Morro dos Macacos estava na lista da pacificação. Eles teriam ido para o Morro de São Carlos, no Estácio — disse o tenente-coronel.
— Aqui, talvez não encontraremos armas e drogas escondidas, como no Morro do Pavão-Pavãozinho (Copacabana).
Vamos ver. Mas certamente há bandidos do andar inferior da escala hierárquica que podem estar escondidos na casa de parentes.
A chegada dos policiais ontem assustou moradores do morro, que correram temendo confrontos. Além disso, escolas, apesar de funcionarem, tiveram as portas trancadas. O temor inicial, no entanto, logo deu lugar à tranquilidade. Nas ruas e vielas, o movimento de moradores voltou ao normal. Alguns conversaram com policiais do Bope e pediram informações sobre benefícios sociais ligados à UPP. Crianças paravam para cumprimentar os PMs.
Policias do Bope continuarão nos morros por tempo indeterminado, vasculhando a área em busca de armas e drogas. Motocicletas, carros e pedestres suspeitos serão revistados.
Moraes disse que espera contar com a ajuda da população. Para marcar o início da ocupação, PMs instalaram perto de uma praça uma faixa com informações sobre a operação.
A bandeira do Bope deverá ser hasteada no alto do morro hoje ou na segunda-feira que vem.
Para o presidente da Associação de Moradores do Morro dos Macacos, Mário Lima, a ocupação demorou a chegar. Ele contou que os moradores da comunidade sempre tiveram bom relacionamento com os do asfalto. No entanto, esse relacionamento estava estremecido há um ano, desde a queda do helicóptero da PM. Há 48 anos no morro, Mário disse que os moradores haviam perdido a paz que esperam agora recuperar com a UPP.
— Vila Isabel é um bairro com histórico cultural. Não poderíamos ficar assim, com essa violência. Enfim o estado começa a pagar à comunidade a grande dívida social, cultural e de segurança que tem com ela, algo que todos esperavam há tempos — disse.
Segundo o porta-voz do Bope, capitão Ivan Blaz, a UPP do Morro dos Macacos vai completar mais uma etapa da pacificação, que é fechar o cinturão de segurança na Grande Tijuca.
A nova unidade vai beneficiar diretamente 12 mil moradores do morro e 27 mil do entorno
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