segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mesmo sem Nordeste, Dilma venceria Serra

Eleições: Com 56% dos votos válidos, petista vence em 16 unidades da Federação, duas a menos do que no 1º turno

Cristian Klein | VALOR
De São Paulo

Depois de uma das campanhas mais acirradas à Presidência da República, a petista e ex-ministra chefe da Casa Civil, Dilma Vana Rousseff, 62 anos, se consagrou ontem como a primeira mulher a governar o Brasil. Com 99,94% das seções apuradas, Dilma Rousseff amealhava 55.724.713 de votos (56,05% do total de votos válidos) contra 43.699.232 (43,95%) de José Serra (PSDB), 68 anos.

Oito anos após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro operário, os eleitores brasileiros deram a Dilma Rousseff uma vitória que a põe em restrito grupo. Apenas 7% dos chefes de Estado no mundo são mulheres.

A diferença da petista para o tucano foi de pouco mais de 12 milhões de votos. Essa vantagem ocorreu graças à enorme votação de Dilma no Nordeste, onde ganhou 10.717.434 de votos a mais do que Serra. Logo, mesmo se o Nordeste – maior reduto eleitoral do PT – fosse excluído dos cálculos, a candidata governista venceria a eleição por um saldo de 1,3 milhão de votos, ou 0,9 ponto percentual (50,9% a 49,1%).

Até o fechamento desta edição, Dilma alcançava uma votação 9,14 pontos percentuais superior à que obteve no primeiro turno. E Serra, 11,34 pontos acima. Isso indica que o espólio de 19.636.359 de votos (19,33%) de Marina Silva (PV), terceira colocada na primeira etapa, migrou mais para o candidato tucano.

A abstenção, de 21,39%, foi maior que no primeiro turno (18,12%). Mas os votos nulo e em branco, que foram respectivamente de 5,51% e 3,13%, caíram para 4,40% e 2,31%.

A geografia eleitoral do segundo turno mostra que José Serra avançou em três territórios que foram dominados por Dilma Rousseff. A petista, que na primeira rodada vencera em 18 Estados, levou a melhor em 16. O tucano, que tivera vitórias em oito, superou a adversária em 11: além dos Estados vencidos no primeiro turno – Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul , Acre, Rondônia e Roraima -, Serra conquistou mais três: Espírito Santo, Goiás e Rio Grande do Sul. O Distrito Federal, única unidade da Federação vencida por Marina Silva, foi conquistada desta vez por Dilma Rousseff.

Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, onde Serra vencera Dilma por 40,66% a 37,31% – tendo Marina alcançado 20,77% – o tucano ganhou de 54,1% a 45,9% e conseguiu uma vantagem de 1,8 milhão de votos sobre a adversária.

No Paraná e em Santa Catarina, Serra obteve cerca de 1,1 milhão de votos a mais que Dilma. Nestes três Estados o tucano extraiu uma boa margem absoluta, totalizando vantagem de quase 3 milhões de votos. Nos outros oito, Serra ganhou, mas ou a diferença foi pequena – como no Rio Grande do Sul, onde o placar de 51% a 49% significou pouco mais de 100 mil votos de vantagem – ou o colégio eleitoral era pequeno. Nos demais sete Estados vencidos, Serra pôs sobre Dilma uma diferença de apenas cerca de 330 mil votos.

Dilma Rousseff recuperou essa desvantagem de quase 3,5 milhões de votos nos 11 Estados perdidos e ainda pôs a diferença de 12 milhões de votos do resultado final ao obter votações maciças no Nordeste, no Amazonas, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

Em Minas Gerais, onde Dilma já vencera por uma margem folgada (46,98% a 30,76%), o empenho do ex-governador e senador eleito Aécio Neves (PSDB) no segundo turno não foi suficiente para evitar uma derrota. Até o fechamento, a petista marcava 58,4% contra 41,6% de Serra.

No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral, o tucano, com 22,53%, ficara em terceiro no primeiro turno, atrás dos 31,52% de Marina Silva. Subiu 17 pontos percentuais, para 39,5%, enquanto Dilma avançou praticamente o mesmo, 16,74 pontos. Antes fizera 43,76%, ontem marcou 60,5%.

Só com o resultado do Rio e de Minas, Dilma praticamente compensou a desvantagem nos 11 Estados perdidos para Serra. O lucro veio do Amazonas e do Nordeste, onde a petista alcançou votações arrasadoras, justamente nos maiores colégios eleitorais. No Maranhão, Dilma teve seu maior percentual da região (79,09%), seguido por Ceará (77,35%), Pernambuco (75,65%) e Bahia (70,85%). Nestes quatro Estados, Dilma pôs uma vantagem de 9 milhões de votos sobre o adversário.

O Estado onde a futura presidente alcançou o seu melhor desempenho percentual foi o Amazonas, com 80,57% (o que significou 865 mil votos a mais que Serra). O melhor desempenho do tucano foi no Acre, com 69,69%.

Dilma Rousseff teve uma votação inferior a de seu padrinho, o presidente Lula, nos segundos turnos de 2002 e 2006. A petista conseguiu o terceiro melhor desempenho de um presidenciável nesta rodada de votação, desde 1989. Sua performance contra Serra foi pouco superior ao de Collor (53,03%) contra Lula (46,97%), há 21 anos, que permance como a eleição mais apertada desde a redemocratização.

Desta vez, os institutos de pesquisa erraram menos que na primeira etapa, quando não captaram com precisão o crescimento de Marina Silva. Ibope e Datafolha, respectivamente, apontaram Dilma Rousseff com 51% e 50%. Mas a votação da petista, fora da margem de erro, foi de 46,91%. No sábado, o levantamento do Ibope apontou uma vantagem de 12 pontos da petista (56% a 44%), enquanto o Datafolha, feito na sexta-feira e no sábado, estimou em 10 pontos (55% a 45%) a diferença para o tucano. O resultado ficou mais próximo do previsto pelo Ibope.

Era esperada uma alta abstenção, devido ao feriado de Finados e ao término antecipado das corridas estaduais. Apenas 14% do eleitorado nacional, em nove Estados, precisaram voltar às urnas para definir o governador, o que contribuiu para uma menor mobilização no segundo turno. O percentual de eleitores que deixaram de votar foi de 21,39%, entre os 135.804.433 que estavam aptos. A abstenção no primeiro turno, como de costume, foi mais baixa, 18,12%. Em relação aos últimos segundos turnos, a ausência foi maior. Em 2006, foi de 18,99%, e, em 2002, de 20,47%.

Desconhecida da maior parte da população – nunca havia se candidatado a um cargo eletivo -Dilma Rousseff apareceu nas pesquisas durante muito tempo atrás de José Serra. Mas foi impulsionada pelo apoio do padrinho e fiador político. Lula conseguiu transferir para a candidata parte de sua enorme popularidade, a maior já registrada por um presidente da República.

José Serra vê frustrada pela segunda vez sua tentativa de ser presidente da República. O tucano teve diante da adversária um desempenho melhor do que o obtido contra Lula. No segundo turno de 2002, Serra fez 38,73%, contra 61,27% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

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