terça-feira, 25 de janeiro de 2011

elite, política e história - brasil -Bandeirante era assassino do sertão

DE SÃO PAULO

Ainda que estradas, avenidas e palácios levem seus nomes, os bandeirantes eram mais assassinos do que heróis desbravadores.
É o que mostram os relatos sobre esses responsáveis pelo frutífero negócio de trazer índios do interior do país para a escravidão no século 17.
Segundo o relato de jesuítas, "na longa caminhada até São Paulo, chegam a cortar braços de uns [índios] para com eles açoitarem aos outros". Mais: "matam os velhos e crianças que não conseguem caminhar, dando de comida aos cachorros".
Nomes como Raposo Tavares, Fernão Dias e Domingos Jorge Velho com frequência apareciam associados à violência e a assassinatos.
Não foi apenas moral a ilusão criada sobre os bandeirantes, porém. Até suas roupas são retratadas de maneira errada. Não usavam, por exemplo, botas, nem que o destino fosse muito longe: o próprio Jorge Velho foi descalço de São Paulo ao Piauí.
A aparência corpulenta e a pele alva das pinturas também não são reais.
"A maioria era filho de branco com índia, com a pele mais escura", diz Manuel Pacheco, da Universidade Federal da Grande Dourados. "A alimentação era restrita. O bandeirante gordo dos quadros é muito improvável."
Esse mito dos bandeirantes foi consolidado após décadas de "marketing".
A imagem heroica foi incentivada com a ascensão dos cafeicultores paulistas à elite econômica do Brasil, no fim do século 19. A partir de 1903, essa orientação foi incorporada à política, e o governo estadual passou a bancar obras de arte que apoiassem essa aura mítica.
Com o passar dos anos, o mito foi sendo incorporado a outros grupos, que queriam se associar a essa imagem de coragem. Entram aí os constitucionalistas de 1932, o governo Vargas e até a ditadura militar. (RM, SR e GM)

SÃO PAULO DE ONTEM

Grandes nomes têm passado mais vermelho que dourado


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BANDEIRANTES ERAM HOMENS DUROS, ANDAVAM DESCALÇOS E NÃO TINHAM PUDOR DE ENGANAR OS ÍNDIOS
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JOSÉ ROBERTO TORERO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dia gostaria de escrever um romance histórico sobre os bandeirantes. Mas o livro não teria muito a ver com aquela imagem de homens destemidos que buscaram expandir as fronteiras. Nem suas roupas seriam como as daquela estátua de gosto duvidoso de Borba Gato em Santo Amaro, que está vestida quase como um nobre.
Aliás, nobreza é uma coisa que os bandeirantes não tinham.
Eram homens duros, que falavam mais guarani do que português, andavam descalços e não tinham pudor de usar golpes baixos para enganaros índios,comose disfarçarem de padres.
Seria um romance com sangue e lama, aventura e morte. Tenho dúvidas sobre o personagem principal.
Poderia ser Manuel Preto, dono da região que hoje é a Freguesia do Ó. Tinha mais de mil escravos índios. Sua relação com Deus era um tanto conflituosa. Ao mesmo tempo em que mandava erguer uma capela para Nossa Senhora do Ó, matava padres nas missões jesuíticas no sul.
Ironicamente, morreu vítima de uma flechada.
Seu concorrente ao cargo de protagonista seria Raposo Tavares, que lutou contra os holandeses em Pernambuco, foi inimigo dos jesuítas (chegou a ser excomungado), esteve em gigantescas expedições para aprisionar índios e comandou a Bandeira dos Limites, talvez a grande aventura brasileira do século 17.
Ela saiu de São Paulo com mais de mil pessoas, foi até o Paraguai, de lá para Mato Grosso, depois subiu pelo rio Paraguai até sua nascente, navegou pelo Amazonas e foi parar na fortaleza de Gurupá, no Pará. Foram 10 mil quilômetros por mais de três anos.
E, é claro, no meio disso tudo, ainda foram travadas algumas batalhas.
Apenas 59 brancos e poucos índios chegaram ao final da aventura. "Os que restavam mais pareciam desenterrados que vivos", disse o padre Antonio Vieira. Contase que, ao voltar a São Paulo, nem os parentes reconheceram Raposo Tavares.
Enfim, seria um romance que mostraria que sobrenomes como Pires de Mendonça, Paes Leme e Vaz de Barros, que sugerem pompa e circunstância, riqueza e poder, têm um passado mais vermelho que dourado.

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