blog de informacoes jornalisticas e culturais, literatura, ciencia, jornalismo, midia, poesia,governo lula, eleicoes 2010, musica, palavra, educacao...
terça-feira, 3 de novembro de 2020
Visão crítica da relação entre jornalismo e democracia, por Carlos Castilho
Até o início da era digital, o fluxo de notícias jornalísticas viabilizado pela imprensa era a principal fonte de informações que as pessoas dispunham para formar opiniões políticas. PorAo criar uma suposta interdependência entre jornalismo e democracia, as elites políticas e empresariais dos Estados Unidos e Reino Unido, por volta de 1880, procuraram estabelecer um vínculo entre a atividade informativa e uma forma específica de governar. O objetivo seria criar um escudo moral para proteção mútua, garante o pesquisador norte-americano John Nerone, num trabalho apresentado no congresso da International Association for Media and Communication Research, em Istambul, em 2011. O discurso adotado por liberais norte-americanos e britânicos acabou se expandindo para o resto do mundo, especialmente no século XX, após as duas guerras mundiais quando os países ocidentais procuravam exorcizar tanto a ameaça nazifascista, como a comunista. O fundamento teórico da associação entre jornalismo e democracia está no pressuposto de que a liberdade de informação é indispensável ao exercício da democracia, ou seja, para a o funcionamento de um tipo específico de regime político. As novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) , surgidas na metade do século XX, acabaram gerando uma série de questionamentos à relação jornalismo/democracia no meio acadêmico, tanto nas escolas de comunicação social como nas faculdades de ciências políticas. A desconstrução teórica do modelo indicou a necessidade de atualização dos vínculos entre a produção jornalística e o sistema político vigente na maioria dos países ocidentais. Professores como Barbie Zelizer, da Universidade da Pennsylvania, nos Estados Unidos, passaram a sugerir a hipótese de que o paradigma jornalismo/democracia está com seu “prazo de validade “ vencido, o que torna necessária a busca de um novo discurso sobre o papel do jornalismo na sociedade atual. Zelizer acredita que a ideia da democracia como componente vital para o exercício do jornalismo perdeu a relevância adquirida no século passado porque houve uma incorporação dos princípios democráticos à cultura política da maior parte dos povos do planeta. Segundo a professora da Escola Annenberg de Comunicação, o jornalismo consegue sobreviver, e em alguns casos até prosperar, em países submetidos a regimes autoritários, como destacou em seu artigo On the shelf life of democracy in journalism scholarshipao analisar o surgimento de novas realidades sociais e tecnológicas para o exercício do jornalismo. Até o início da era digital, o fluxo de notícias jornalísticas viabilizado pela imprensa era a principal fonte de informações que as pessoas dispunham para formar opiniões políticas. Mas a partir das últimas décadas do século XX , esta dependência acabou com a multiplicação de fontes de informação na internet o suprimento de notícias tornou-se tão abundante e diversificado que o jornalismo deixou de ser a condição indispensável para a sobrevivência do regime democrático. Em compensação, a produção jornalística ganhou novas e transcendentais funções, como a da checagem da veracidade de notícias e o fornecimento de insumos informativos para a produção de inovações. O jornalismo passou a ser a grande ferramenta para acelerar, diversificar e aprofundar o fluxo de informações sobre dados, fatos e eventos indispensáveis à produção de novos conhecimentos. A inovação é hoje o grande motor da economia digital e da melhoria das condições de vida da humanidade. Inovar significa recombinar informações para produzir algo melhor e diferente. Para que ocorra esta recombinação, que alguns chamam de remixagem numa analogia à música eletrônica, é indispensável que os insumos noticiosos sejam apresentados de forma atraente, clara, exata e pertinente, destacando a credibilidade e relevância contextual. É justamente isto que o jornalismo sempre se propôs a fazer. Jornal GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário