O deputado e ex-pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes, do PSB do Ceará, saiu há pouco de um almoço com a candidata Dilma Rousseff (PT) dando declarações de que pode se engajar na campanha da ex-ministra. Ainda no primeiro semestre, o PSB decidiu apoiar a candidatura de Dilma o que deixou o deputado “bastante triste”, como ele próprio se manifestou por escrito na ocasião
“Quanto ao entusiasmo, o nível de engajamento [à campanha da candidata do PT], na medida em que as minhas preocupações com o futuro do país vão se revelando eu vou incrementando o meu entusiamo”, afirmou aos jornalistas ao deixar o escritório de campanha da candidata. Ciro Gomes se recusou a responder às perguntas com relação a gravações no programa eleitoral de rádio e televisão ou a possíveis participações em comícios da campanha de Dilma.
Ele deixou claro, entretanto, que não se negará a receber a ministra em viagens de campanha que ela faça ao Ceará. “Você acha que se chegar uma pessoa como a Dilma, de quem eu sou amigo a tantos anos, de quem eu sou companheiro, admirador, quem o meu partido está apoiando eu deixaria de recebê-la? Em nenhuma circunstância.”
Ciro Gomes também deu a entender que “a mágoa”, como ele próprio declarou à época, que tinha com relação à falta de apoio do PSB a sua candidatura é coisa do passado. Segundo ele, na democracia não prevalecem opiniões individuais, “por mais mérito que tenham”, e, sim, a vontade da maioria
PSB confirma apoio à candidata petista, mas não em todo o país
Vinicius Sassine
Publicação: 15/06/2010 07:00 Atualização: 15/06/2010 08:20
Quarto partido a formalizar apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff à Presidência, o PSB estará distante do PT nestas eleições em pelo menos seis estados. A Executiva Nacional da legenda já liberou a aliança local com o PSDB — principal rival de Dilma nas urnas, com a candidatura de José Serra — em Minas Gerais, Paraná e Alagoas. Na Paraíba, o candidato do PSB ao governo, o prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, recebe sem qualquer incômodo o apoio dos tucanos. Em São Paulo e no Maranhão, PSB e PT caminharão em vias opostas nas urnas.
Essa contradição, somada à rebeldia ainda não debelada do deputado Ciro Gomes (PSB-SP), coloca o partido numa situação no mínimo incômoda em grandes colégios eleitorais. “A Dilma é nossa candidata no país todo. Se ela for a esses estados, vai fazer atividades paralelas com o PSB, sem palanque”, resume o deputado federal Rodrigo Rollemberg (DF), líder do partido na Câmara.
Na própria sede em Brasília, sem a presença de Ciro Gomes e de seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes, o PSB realizou na tarde de ontem a reunião que confirmou o apoio do partido à candidatura de Dilma. Cerca de 160 filiados decidiram por unanimidade apoiar o PT na disputa à Presidência, num encontro que durou apenas 45 minutos.
Enquanto os convencionais decidiam pelo apoio a Dilma, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, explicava as razões que a Executiva Nacional levou em conta para liberar as alianças com o PSDB em três estados e os rumos próprios da legenda em outras três unidades da Federação (veja quadro abaixo). “Demos autonomia para os estados. Eles tomam o caminho que quiserem, desde que venham à Executiva Nacional para a tomada de decisões.”
Nem todas as realidades regionais, apesar de já cristalizadas, passaram pela direção nacional. Até agora, o aval para a aliança com o PSDB foi dado aos diretórios em Minas Gerais e no Paraná. O candidato tucano ao governo de Minas, Antonio Anastasia, receberá o apoio do PSB, assim como a provável candidatura do ex-governador Aécio Neves — principal liderança do PSDB no estado — ao Senado. O PSB também sobe ao palanque do ex-prefeito tucano de Curitiba, Beto Richa, candidato ao governo.
Posição dúbia
O caso de Minas Gerais é o mais sintomático da posição dúbia do PSB. Segundo o governador Eduardo Campos, o partido iria apoiar a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, do PT, mas o recuo dos petistas em prol da candidatura do ex-ministro Hélio Costa (PMDB) alterou também a rota do PSB. Nas últimas eleições municipais, PSB e PMDB entraram em rota de colisão, “com confrontos e agressões”, segundo Eduardo Campos, e por isso as duas legendas não estarão unidas em torno de Hélio Costa. O PSB vai aderir, em Minas, ao Dilmasia: fará as vezes da petista Dilma e do tucano Anastasia.
Da mesma maneira que em Minas Gerais, o partido não vai embarcar na composição imposta pelo PT no Maranhão. Os petistas maranhenses tinham um candidato, o deputado Flávio Dino (PCdoB), mas a direção nacional da legenda, orientada pelo presidente Lula, determinou o apoio à candidatura de Roseana Sarney (PMDB).
O PSB no Maranhão continua com Flávio Dino. “Nosso apoio a ele é incondicional. E vai haver um efeito contrário esse apoio do PT a Roseana. Dino vai para o segundo turno”, acredita Eduardo Campos. O apoio a um comunista se repete em relação a um tucano: o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, conta com o PSB na candidatura à reeleição.
Sem Ciro
A ausência do deputado Ciro Gomes e de seu irmão, Cid Gomes, da reunião de ontem não significa o distanciamento dos dois da candidatura de Dilma Rousseff, segundo os líderes do PSB que comandaram a convenção. Eles minimizaram as últimas ofensivas de Ciro contra Dilma. “Vai haver um momento em que ele vai se engajar na campanha”, diz o governador Eduardo Campos.
Ciro tentou viabilizar sua candidatura à Presidência e foi abandonado pelo próprio partido, agora coligado ao PT. Na tarde de ontem, o deputado estava no interior do Ceará, segundo sua assessoria, depois de um período sabático de um mês.
O governador Cid Gomes esteve em Brasília na tarde de ontem, mas não compareceu à reunião do PSB. Ele participou de uma audiência na Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a instalação de uma refinaria da Petrobras no Ceará. Nem Ciro nem Cid comentaram a ausência na convenção do próprio partido.
Até agora, já foi confirmado oficialmente o apoio do PMDB, do PDT, do PR e do PSB à candidatura de Dilma. As próximas convenções que vão legitimar a coligação ao PT serão a do PCdoB, amanhã, e a do PRB, no dia 26.
SARGENTO DESCARTA CANDIDATURA
O sargento do Exército que assumiu a homossexualidade em rede nacional, ao lado do namorado, também integrante das Forças Armadas, esteve ontem na sede do PSB e participou da reunião que decidiu pelo apoio a Dilma Rousseff. Laci Araújo negou que vá se candidatar a algum cargo eletivo neste ano. “Não sou filiado e, por enquanto, não me candidato a nada.” Segundo Laci, ele esteve na sede do partido a convite de um amigo. “O meu negócio é a música.” Laci e o namorado, Fernando Alcântara, acusaram o Exército de persegui-los por causa da revelação sobre a vida privada do casal. Depois de entrevista a uma emissora de TV, Laci foi preso pelo Exército sob alegação de deserção.
"A Dilma é nossa candidata no país todo. Se ela for a esses estados, vai fazer atividades paralelas com o PSB, sem palanque"
Rodrigo Rollemberg, deputado federal
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