segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Como a internet muda o cérebro das pessoas?

RONALDO LEMOS - ronaldolemos09@gmail.com

QUAL É o efeito da internet no cérebro das pessoas? Essa é a questão do momento.
Há palpiteiros (como Nicholas Carr) dizendo que as conexões cerebrais são modificadas pela avalanche de informações da rede.
A capacidade de concentração ficaria prejudicada, tornando as pessoas superficiais, incapazes de lidar com questões em profundidade. O "multitasking" (fazer várias tarefas ao mesmo tempo) passa a ser comum.
Escrever um texto enquanto escuta música, checa os e-mails, atualiza o perfil no Facebook, conversa no MSN, assiste a um vídeo no YouTube e lê as últimas fofocas em um blog de celebridades.
Essa é hoje a vida de muita gente que passa o dia em frente a um computador.
Isso sem falar nas mensagens que chegam pelo celular e nas interrupções do mundo "real", de amigos, família e colegas.
Apesar do palpite de Carr, o fato é que ainda não existem estudos definitivos sobre o efeito de tantos estímulos e distrações sobre a cabeça das pessoas.
Uma reportagem recente do "New York Times" (nyti.ms/9LiLDw) mostrou que os cientistas que estão começando a estudar o assunto estão divididos em dois grupos.
Um acredita que o dilúvio de informações cansa o cérebro, inibe a imaginação e causa ansiedade.
O outro acredita que o esforço constante funciona como exercício. O cérebro vai se fortalecendo à medida que é exigido.
Ainda é cedo para saber quem tem razão. Mas todos concordam com uma coisa: desconectar-se de vez em quando faz bem.
Por exemplo, uma sugestão é ficar ao menos três dias seguidos longe da tecnologia. De preferência em contato com a natureza (o que, para muita gente, pode parecer um pesadelo).
É como se os poemas de Woodsworth, que, no século 19, via a natureza como remédio para as tensões da cidade, tivessem ganhado novo sentido nos nossos dias. Só que, agora, neurocientistas também estão com ele.

Diem que muita estimulação digital pode " levar as pessoas que estariam bem e colocá-los em uma escala onde eles não estão psicologicamente saudável. "

O uso de tecnologia pesada pode inibir uma profunda reflexão e causar ansiedade.
Um problema emblemático dos anos 50, a ansiedade, ressurgiu no século 21.


"HÁ o paradoxo da amizade sem qualquer ligação real entre as pessoas".

Que essa solidão é novamente um problema nesta década de 10 certamente é indicado por uma tendência registrada no "Times": em algumas cidades americanas e europeias, até as pessoas mais tradicionalmente solitárias, as "corujas", passaram a se reunir em grupos de trabalho noturnos aconchegantes e sociabilizantes.
Talvez essa queima do óleo da meia-noite com outros ajude a aliviar a solidão. Mas pode o mesmo paliativo derivar daquilo que nossa era criou principalmente para combater a solidão: a mídia social? O Facebook nos ajuda a criar a ilusão de que temos uma legião de amigos em constante expansão. Mas a maioria desses "amigos" são pessoas com quem temos uma tênue conexão, que mal se classificam como simples conhecidos. E certamente não ajuda o fato de que muitos usuários do Facebook, como relata o "Times", não apreciam o Facebook em si, vendo-o como uma espécie de serviço público arrogante, a exemplo de empresas de eletricidade e gás.
Algumas pessoas talvez prefiram as soluções mais dúbias que as multidões solitárias de entediados dos anos 50 encontraram enquanto sua década se esvaía para a de 60: as maneiras atraentemente confusas glamourizadas pela série de TV "Mad Men". Em outras palavras, flertes extraconjugais com vários drinques e nuvens de fumaça de cigarro.
Katie Roiphe, no "Times", sugeriu melancolicamente o óbvio: que nossa era talvez esteja precisando de um pouco da loucura de "Mad Men". "Hoje em dia, o antropólogo cuidadoso observa breves incursões furtivas no mundo do excesso em pessoas funcionais e organizadas", ela escreve. Os produtores da série provavelmente viram os paralelos e sentiram que seu drama de época tocaria o espírito desta nova Era de Ansiedade.
É claro que não devemos esquecer qual foi o destino da licenciosidade sofisticada de "Mad Men". "A Era da Ansiedade da década de 1950 tornou-se a Era da Depressão nos anos 70, 80 e 90",

Nenhum comentário:

Postar um comentário