Kimimasa Mayama/Bloomberg – 26/10/2009
Gabrielli: “O investimento em refino era limitado e duas companhias estavam sendo preparadas para venda, a Fafens e a Reduc”
VALOR
A seguir os principais trechos da entrevista do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ao Valor:
Valor: Por que o senhor se lançou na discussão sobre a Petrobras no governo FHC?
José Sérgio Gabrielli: O Congresso Nacional, que representa o povo brasileiro, ainda não decidiu o que vai ser feito no futuro. O David [Zylbersztajn, ligado ao PSDB] vai recomendar ao PSDB votar a favor do projeto da partilha da produção? O José Serra vai recomendar ao PSDB que vote a favor do projeto de partilha? Essa é a questão. Eu não estou discutindo eleição. Estou discutindo o futuro do petróleo no país.
Valor: Fica a impressão de que a empresa estava afundando.
Gabrielli: Afundando não. Sendo afundada. Se a companhia seguisse naquela mesma linha, se continuássemos inibidos nos leilões para deixar que os outros entrassem, preparássemos as refinarias para ser vendidas, se continuássemos proibidos de entrar na petroquímica, se continuássemos com aqueles contratos de termoelétricas em que a Petrobras só entrava com o custo e toda a rentabilidade ia para os sócios. E se continuássemos aquela política de internacionalização em que os ativos não tinham resultado, a política de enfraquecimento da engenharia interna e redução do investimento sem acelerar a contratação de gente, nós mataríamos a Petrobras. É isso que eu estou chamando a atenção. A empresa estava com um conjunto de ações que inibiria o crescimento. A lógica era essa. O modelo era para a Petrobras ficar pequena e o mercado ocupar a maior parte.
Valor: Todos os blocos do pré-sal foram comprados em 2000 e 2001. Como falar em inanição exploratória no governo FHC?
Gabrielli: Sim, mas a área exploratória da Petrobras estava definhando. Decresceram em 1998 e 2004 e começaram a crescer em 2005. A Petrobras foi limitada na participar dos leilões até 2003 e a partir daí foi bastante agressiva.
Valor: Muita gente na companhia discorda dessa avaliação
Gabrielli: 99% da produção atual da Petrobras vêm de áreas descobertas no monopólio e 1% de áreas descobertas depois no monopólio. Não quer dizer que não seja comum, só mostra que existe um ciclo longo de exploração e produção. De 1998 a 2003, a Petrobras estava sendo inibida no crescimento de sua área exploratória e uma empresa que vive da produção de petróleo com áreas de exploração limitadas vai morrer por inanição. Esse é o primeiro elemento. O segundo elemento que eu chamei a atenção é que o investimento em refino estava extremamente limitado. A empresa investia menos de US$ 200 milhões por ano e hoje são US$ 200 milhões por mês. Eu posso ir adiante e lembrar que as outras companhias estavam preparadas para serem vendidas. As Fafens [fábricas de fertilizantes], a produção de xisto e também a Reduc [Refinaria Duque de Caxias].
Valor: A Petrobras passou por uma grande mudança na governança na gestão passada
Gabrielli: Não mudamos a governança. O mote era que nós éramos políticos e eles eram técnicos. Se for isso, não tem como discutir. Estou querendo discutir o modelo de negócios dessa companhia para o futuro. Uma empresa que vai ser a maior produtora de petróleo do mundo em águas profundas, que vai ter a responsabilidade de ser a única operadora do pré-sal brasileiro, que tem o maior crescimento da produção previsto por novas descobertas do mundo, uma empresa que tem três vezes mais unidades produtivas em águas profundas do que qualquer outra do mundo. É importante como ela se organiza, como ela funciona. (CS
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário