sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

mídia e poder - Experiências em comunicação sindical mostram que é possível disputar hegemonia

Publicado: 30/11/2010 por blogdonpc em 16º Curso NPC!,
Najla Passos - NPC]

O relato de experiências bem-sucedidas no campo da comunicação popular pautou o debate realizado no início da tarde de sábado (27/11), no 16º Curso de Comunicação Sindical e Popular do NPC, no Rio de Janeiro (RJ). Na mesa, exemplos de conquistas dos trabalhadores em diferentes veículos mostraram como é possível disputar a hegemonia com a mídia controlada pelo grande capital.

O jornalista Edo Cerri relatou a experiência do jornal do Sindicato dos Químicos de Osasco que, conforme pesquisa qualitativa independente encomendada pela entidade, agrada a 92% da categoria e informa a 82% dos seus leitores. O jornalista deu especial destaque à importância da profissionalização da linguagem. “‘A luta continua’ e ‘Juntos somos fortes’ eram expressões que a gente escrevia em 1960. Hoje, é preciso dados concretos para que o trabalhador saiba que a causa que o jornal está defendendo é justa. Ditar regras não funciona. O jornal não pode ser gritado como se o dirigente estivesse em um caminhão. É preciso respeitar o projeto gráfico, o tamanho dos títulos, não se pode adjetivar os textos.”, recomendou.

Para Cerri, o jornal deve apresentar um viés classista, mas é preciso discutir como fazer isso. “O fato de produzir o jornal e entregá-lo na mão do outro não assegura que a comunicação esteja estabelecida. É preciso conhecer o seu leitor. Muitos dirigentes sindicais só enxergam o trabalhador como trabalhador. Esquecem que, nas outras 16 horas diárias, esse trabalhador é pai, é mãe, é esportista, é cidadão, etc”. Ele alertou, ainda, que o jornalista não pode se comportar como datilógrafo do pensamento do dirigente sindical. “O jornalista tem que ser chato, tem que insistir, tem que lutar, tem que tentar convencer os dirigentes a fazer jornalismo de forma profissional”.

União nas ondas do Rádio

O jornalista Anderson Engels, da Rádio Fortaleza, de Blumenau (SC), contou como dez sindicatos do município se uniram, há três anos, para colocar uma rádio comunitária no ar, diariamente, de 6 a 22 horas, com música, jornalismo, programas de cultura, variedade, saúde, segurança e prestação de serviços, dentre outros. Segundo ele, os representantes dos sindicatos se reúnem de 15 em 15 dias para discutir a pauta, tocada por dois jornalistas no cotidiano, com o apoio dos moradores da cidade. “Não aceitamos apoio empresarial para não colocar em risco a independência da rádio. O apoio que buscamos é dos sindicatos. E isso é muito importante para ampliar a comunicação com os trabalhadores”. Mais informações www.comunitariafortaleza.com.br.

Comunicação para a família

A jornalista e professora universitária Claudia Costa, assessora de comunicação da CSP-Conlutas, falou sobre sua experiência a frente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, onde participou da criação do jornal Metalúrgico em Família, na década de 1990.

“Foi um período conturbado, com a implantação do neoliberalismo, em que nós observamos que trabalhadores de outras categorias estavam aderindo a este discurso. Nós avaliamos que apenas o jornal direcionado ao trabalhador não daria conta de disputar a hegemonia, e decidimos criar um veículo que abrangesse toda a família do nosso sindicalizado”.

No início da década de 90, com o neoliberalismo, nós percebemos que iríamos ter que enfrentar um período difícil. Em várias categorias, os trabalhadores estavam absorvendo esse falso discurso da modernidade. Por isso, trabalhamos a ideia de criar um veículo de comunicação para a família do trabalhador, com matérias gerais. Esse jornal existe até hoje”.

Revista unifica sindicatos

Paulo Donizetti, editor da Revista do Brasil, dividiu a experiência de construir uma revista que tem aglutinado setores da luta sindical que, mesmo pertencendo à mesma corrente, não costumavam tocar grandes projetos juntos. “Nós precisamos nos convencer de que temos que levar ao trabalhador a informação que ele quer receber, e não a que o dirigente do Sindicato quer passar a ele”.

Jornalista há 22 anos, ele conta que, em 1992 começou a trabalhar na equipe de comunicação do Sindicato dos Bancários de São Paulo como redator. Em 1993, após pesquisar junto aos diretores como eles gostariam que fosse a publicação da entidade e verificar que interessava a eles informações de fora do local de trabalho, o sindicato criou a revista. “Eles queriam uma revista de atualidades”, disse. O primeiro editor da Revista dos Bancários foi Renato Rovai e, em 1995, Paulo Donizetti se tornou coordenador da secretaria de imprensa do Sindicato. Para ele, a edição da revista da Revista dos Bancários foi uma decisão política que permitiu que, pelo menos uma vez por mês, o Sindicato entrasse na casa daqueles trabalhadores para discutir assuntos que ele não encontra no trabalho e, muitas vezes, não tem acesso fora, na mídia convencional. A revista do Sindicato circulou durante 13 anos.

Em 2006, a partir de experiências com revistas, vários sindicatos decidiram dar início ao projeto que viria a ser a Rede Brasil Atual, começando pela revista, por já terem acumulado know how neste tipo de veículo. “Dezenove sindicatos se uniram para distribuir a revista, que chegou a editar 360 mil exemplares”, explicou.

Ele garante que, em 4,5 anos, a Revista do Brasil nunca teve interferência dos diretores na definição das pautas. “Nós temos conselho editorial, mas a concepção da revista é totalmente profissional e técnica. Os jornalistas tocam a concepção gráfica, a pauta, tudo”, explicou. O resultado é que, hoje, 60 sindicatos contribuem financeiramente para que a revista saia. “Depois do governo, o movimento sindical hoje é a principal força social com capacidade para fazer uma comunicação independente. A medida que os sindicalistas perceberem a importância de socializar as informações com os trabalhadores, a partir de notícias que eles não tem acesso, esse movimento estará prestando serviço para ajudar a mudar o Brasil”.

A primeira TV dos trabalhadores

Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT, Valter Sanches apresentou a experiência da TVT, inaugurada em agosto passado. “Venho de um sindicato que já descobriu há muito tempo a importância de se investir na comunicação. É claro que a comunicação mais importante, insubstituível, é a comunicação olho no olho com o filiado. Mas é necessário também fazer comunicação de massa”. Segundo ele, a luta pela concessão de um canal de TV começou em 1997. “Em 2005, conquistamos concessões de duas rádios e duas TVs. Só agora, conseguimos colocar a primeira TV no ar”.

Segundo ele, foi um percurso difícil. “Para se ter uma emissora, é preciso ter um aporte financeiro para disputar chamada pública. No nosso caso, foi de R$ 15 milhões. Depois, tivemos que passar pelo crive da Anatel e pelo Congresso. É um trâmite enorme e é por isso que quase todas as emissora do país estão ligadas a algum político”.

Sanches conta que a TVT possui, hoje, um quadro de 102 trabalhadores que geram uma programação diária de 19 às 20:30 horas, com programas diversos. “Nós não pretendemos que a TVT seja uma TV sindical. A ideia é que seja uma TV que dialogue com a sociedade, mas de forma a amplificar a voz dos movimentos sociais. Não é uma TV que pretenda concorrer com as comerciais ou educativas, mas que seja importante para dar voz aos movimentos sociais, que são tratados de forma negativa na mídia convencional”. A TVT pode ser vista em 11 estados brasileiros e pela internet. Mais informações http://www.tvt.org.br/portal/

Comunicação popular na prática é tema do último debate de sábadoPublicado: 28/11/2010 por blogdonpc em 16º Curso NPC!, Uncategorized
0Professores e sujeitos que trabalham com a mídia comunitária na prática encerraram os debates de sábado, 27 de novembro, penúltimo dia do 16º Curso do NPC. Foram apresentadas experiências em rádios comunitárias, jornais, revistas, cartilhas e páginas na internet, mostrando o amplo espaço que é preciso ocupar para a importante disputa de hegemonia tão discutida ao longo desses quatro dias.

A Associação Cantareira, localizada na região de Brasilândia, periferia de São Paulo, é um dos exemplos de investimento na comunicação popular. “Não basta estar no ar, é preciso ser comunitária”. Esse é o mote da Rádio Comunitária Cantareira 87,5 FM, conforme explicou o Padre Cilto Rosembach, um dos responsáveis por essa iniciativa. A emissora foi criada em 1995 mas, assim como muitas comunitárias, dez anos depois a rádio foi fechada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Foi apenas em julho deste ano que a rádio conquistou sua regulamentação, e em agosto as transmissões foram retomadas. Quem quiser ouvir, pode acessá-la em www.cantareira.org.

Além da rádio, a Associação também criou, em 1996, o jornal Cantareira, e agora estão investindo na nova página, que vai ao ar em dezembro. “A importância da democratização da mídia tão discutida nesse curso já está ocorrendo de fato. Onde vocês estiverem apóiem os jornais, as rádios e emissoras de TV verdadeiramente comunitárias”, concluiu Cilto.

O jornalista Hamilton Octavio de Souza, editor da Caros Amigos e colaborador do jornal Brasil de Fato, atentou para a importância de se construir uma mídia alternativa que de fato esteja ao lado do povo trabalhador, oprimido e excluído pela mídia burguesa, a qual, como lembrou, está afinada com os interesses da classe dominante. “Um exemplo concreto é o que está acontecendo agora no Rio de Janeiro. Se pegarmos jornais, rádios e TVs dos grandes grupos, veremos como estão preparando a população para apoiar a ação policial no Rio de Janeiro, uma verdadeira carnificina”.

Segundo ele, é preciso haver de fato um enfrentamento a essa mídia e ao modelo de sociedade que ela defende: a imprensa alternativa, popular e sindical deve travar uma verdadeira batalha contra-hegemônica: “Não basta termos jornais e emissoras se não tivermos linhas editoriais de fato críticas, que realmente sirvam para elevar o nível de consciência da nossa sociedade e contribuam para a organização dos trabalhadores”. Para Hamilton Octavio de Souza, o risco é a chamada mídia alternativa seguir reproduzindo o modelo de sociedade que já vem sendo pautado pela mídia hegemônica. “A mídia que precisamos construir é a que possui um compromisso sério com a luta pela transformação do país”. Como exemplo concreto, Hamilton Octavio de Souza lembrou a Caros Amigos, nas bancas em novembro, que deu capa a Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, quando a discussão feminista ficou rebaixada nessas eleições.

Comunicação popular: conceitos e práticas

O jornalista Rozinaldo Miani, professor da Universidade Estadual de Londrina, trouxe a discussão sobre a comunicação popular a partir da sua experiência na formação de profissionais. Em uma rápida avaliação identificou que o tema tem sido tratado em duas vertentes: uma voltada a práticas culturais, como, por exemplo, a literatura de cordel, independente do conteúdo político que veicula; e a outra, que é a mais comum, é a dos programas massivos, aqueles que têm grande alcance na população. A perspectiva que defendeu e que veio sendo trabalhada ao longo do curso é a que diz respeito à comunicação efetivamente produzida pelas organizações e movimentos sociais com uma perspectiva contra-hegemônica.

Ao final, Miani lançou uma provocação, lembrando que nas universidades não há muito espaço para que essa discussão apareça, já que o ensino está cada vez mais preocupado com a formação dos alunos para o mercado de trabalho. “A minha questão é a seguinte: quando me apresento como interessado em transformar meus alunos em sujeitos políticos que compreendem a sociedade em que estão inseridos, eles esperam que aquele espaço apenas sirva para a questão profissional”. Para Miani, essa é mais uma das questões a ser enfrentadas.

Quem finalizou o debate foi o rapper Fiell, ex-aluno do curso de comunicação popular promovido pelo NPC a moradores de comunidades deste ano. Coordenador do Visão da Favela Brasil, Fiell enumerou as iniciativas de comunicação na favela Santa Marta, onde mora. Além da rádio comunitária recém-instalada, eles também lançaram a cartilha sobre Abordagem Policial, para esclarecer os moradores sobre seus direitos e conscientizá-los dos abusos cometidos pelas instâncias de poder. “Enquanto toda mídia aplaudia, lá no morro nós sofremos com a entrada das UPPs. Foi por isso que fizemos essa cartilha, para esclarecer sobre os direitos dos moradores frente aos absurdos praticados pelos policiais ditos ‘pacificadores’ por essa mídia mentirosa”, contou.

Em relação às dificuldades financeiras de se criar e manter meios de comunicação, Fiell pediu a colaboração de sindicatos para fazer esses materiais. “Esses são alguns problemas a serem enfrentados. Uso a comunicação para poder chegar aos nossos irmãos favelados, mas precisamos da ajuda de vocês. Hoje nas favelas estão apoiando o que está acontecendo em outras favelas, e isso é triste porque mostra o poder da mídia”. No fim, como avaliou, qualquer mídia alternativa deve falar a linguagem do povo. “Nossa preocupação deve ser como nos comunicar com todo aquele povo das favelas escravizado pela carteira de trabalho. A linguagem deve estar de acordo com a nossa realidade, com o nosso dia-a-dia”. Para encerrar, Fiell cantou o rap que abriu o 16º Curso Anual do NPC, mostrando o protagonismo dos trabalhadores, sempre identificados como coadjuvantes ao longo de nossa história. A discussão mostrou que uma comunicação construída pelos e para os próprios trabalhadores é o caminho para que isso comece a mudar.

Quando a favela descer… nada mais será como antes!Publicado: 27/11/2010 por blogdonpc em 16º Curso NPC!, Uncategorized
0[Por Gizele Martins - NPC]

A primeira mesa de debate do segundo dia (25/11) do 16º Curso Anual do NPC contou com a participação de Márcia Jacintho, conhecida por ter lutado sozinha para provar que o seu filho, assassinado pela polícia há oito anos, era inocente. Contou também com a presença de Orlando Zaccone, Delegado de Polícia, com o Subsecretário de Defesa e Promoções de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, Pedro Strozenberg, com o Mc Leonardo, presidente da Apafunk e com o jornalista José Arbex.

Esta primeira mesa “A década do medo: mídia, violência e UPP” foi uma das mais esperadas pela platéia, já que o tema violência não sai das páginas dos jornais cariocas, principalmente, nos últimos dias.

Ainda no início, Claudia Santiago, coordenadora do NPC, que mediou a mesa, falou de quando começou a perceber que a luta do trabalhador, do sindicato, era também a luta da favela. “Fui cobrir um protesto feito por moradores do Morro do Borel há sete anos quando a polícia assassinou diversos moradores daquela favela, um deles o filho de Maria Dalva da Silva, que hoje milita para que outras mães não sofram o mesmo que ela. Vi o morro descer e naquele protesto não vi nenhum sindicalista que sempre diz lutar pela defesa do trabalhador. O que me fez pensar, analisar e perceber que o sindicato não pode deixar de perceber a realidade do trabalhador. É preciso estar nos espaços que eles estão, participar da luta que o povo está”, argumentou Claudia.

Logo depois da observação de Claudia, foi tocado a música “Pedaços de mim”, de Chico Buarque, e Maria Dalva, foi homenageada pela sua força e luta. E uma de suas falas foi: “Eu não perdi o Tiago, apenas o devolvi para Deus!”.

Zaccone: Desvincular a favela do crime é a solução!
Para Zaccone, o jornalista tem muita dificuldade em discutir violência porque nas reuniões de pauta, não se discute direitos humanos. “E este tema é de fundamental importância em relação aos fatos que estão acontecendo hoje, porque a mídia, os órgãos de imprensa, acabam fazendo e reproduzindo o discurso do censo comum”, afirmou o delegado.

Zaccone, alertou que é preciso que os jornalistas tenham um olhar crítico sobre o tema que envolva a favela, a violência e o crime. “Os jornalistas e toda a sociedade precisam desvincular a favela da violência e do crime. É necessário também fazer resgates históricos e diferenciar cada acontecimento, a realidade, o dia a dia”, disse o delegado. Ele citou um exemplo claro que ocorreu em 1992, quando os jornais colocavam em suas páginas os diversos arrastões que estavam ocorrendo em Ipanema e em outras praias do Rio. E, hoje, este termo volta às capas de jornais. “Os jornalistas têm a função de investigar, e perguntar o por que esta onda de crimes só começou depois das eleições. É preciso questionar a forma apresentada. E, para a mídia, o direito humano é vinculado sempre ao direito de bandido e isso precisa ser questionado sempre”, disse.

Além disso, ele aponta ainda que para a favela deixar de ser criminalizada a saída é resgatar os fatos e desvincular todo o fenômeno da desigualdade social da política de segurança pública. “Temos que tentar entender esse fenômeno fora da política de segurança. Não cabe à polícia criar ordem, a função que a polícia tem é a de manutenção. A desordem existe porque há uma sociedade desigual”, concluiu Zaccone.

Márcia Jacintho: Um olhar próximo da realidade
“Tem muita gente aqui que acredita no que a televisão mostra, mas tem muita gente aqui que não vive o que a gente vê na TV. Tem gente que acredita que aquele corpo que desceu do morro foi um traficante, já está se banalizando a vida. Eu fico indignada com isso”, palavras da moradora do Morro do Lins, Márcia Jacintho, mãe de vítima da violência policial do Rio de Janeiro.

ua indignação contagiou todos os quase trezentos participantes que a assistiam. Márcia contou sua experiência de ter investigado sozinha todo o caso do seu filho, que nunca teve uma atenção merecida, já que se tratava de um favelado. “Sou negra, pobre e moradora de favela, mas também sou sociedade, eu exijo respeito, eu desci para fazer a diferença. Tive coragem de descer o morro para limpar o nome do meu filho. Tive coragem de investigar o caso sozinha”, disse a militante.

Além desta moradora de favela ter enfrentado a dor de ter perdido um filho, teve que encontrar coragem para provar para o mundo que os direitos humanos precisavam valer também para o seu filho, mesmo que já tenham tirado a sua vida. “A dor me fez ter coragem. O meu filho foi tachado como traficante, como bandido, arrisquei até a minha própria vida. Eu nunca dependi do Estado para dar o leite aos meus filhos, mas uma bala tirou a vida de um filho meu”, concluiu Dalva.

José Arbex: A polícia é violenta porque a sociedade é violenta
Para o jornalista José Arbex, a polícia só é violenta porque a sociedade é violenta e aplaude as barbaridades que eles fazem dentro das favelas. “A gente não vê a nossa participação na violência. E a polícia não é violenta numa sociedade que não é violenta. Ela só vai ser violenta porque a sociedade é violenta”, falou. De acordo o jornalista, existe uma classe média e parte do povo pobre que apóiam a violência. “Vi uma entrevista que dizia que o Rio vive numa guerra e que o povo deve cooperar e ajudar a polícia. Como é possível assassinar milhões de pessoas e depois dizer: ‘eu não sabia disso’?”, completou Arbex.

O jornalista chamou a atenção de todos os jornalista presentes, pois, de acordo com ele, esta responsabilidade de colocar nos jornais que a favela é criminosa e de que é preciso resolver a desigualdade social com violência também é culpa dos jornalistas. “Não é possível, não é admissível que o sindicato não coloque em pauta a favela, o morticínio. Se tivesse uma resistência organizada no país, não falariam isso do povo na televisão. Estamos quietos, estamos calados. Quando os favelados se levantarem e falarem, ‘chega’, é aí que vai acontecer a revolução. Não é no sindicato, não é o jornal sindical. É na favela”, finalizou José Arbex.

Pedro Strozenberg: Estamos numa democracia, ela precisa ser radicalizada, mas ela existe
O Subsecretário de Direitos Humanos do Estado Pedro Strozenberg teve papel essencial na mesa. Ele trouxe explicações sobre o que é a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e disse acreditar na UPP Social, mas que ela deve ser feita de dentro da favela para fora, pensada e realizada com a sociedade civil. “Esta é uma democracia incompleta, que precisa se radicalizar, mas é uma democracia. Vejo a UPP como um caminho de transição, são passos. Acho que hoje temos uma polícia diferente do que tínhamos há 15 anos. A polícia está passando por uma transformação interna. Não vou defender a polícia. Mas ela está sofrendo alterações”, contou.
O subsecretário trouxe alguns exemplos de funcionamento da polícia, afirmou também que este é um resultado influenciado pelo sensacionalismo da mídia. “Há dois anos saiu uma pesquisa que apontava a Polícia Militar como a que mais mata no mundo. Ela bateu record de autos de resistência. A polícia aprovou a chacina no Morro do Alemão, que ocorreu há dois anos, e esta atuação da Política de Segurança Pública é a grande resposta da mídia”, completou.

Pedro alega que a UPP é um pequeno resultado da transformação que está ocorrendo dentro da polícia. “Ela não trás mudanças novas, estratégicas, ela diz que vai estar presente nas favelas e fazer sua missão. Mas quando ela entra, ela se depara que a presença do Estado na favela é a polícia, e nesse modelo de presença do Estado, vem o lazer, a educação, a saúde etc. O que faz a polícia deixar de fazer seu papel e parte para outras demandas”, disse. Para ele, essa polícia vai cometer crime até a sociedade se revoltar. O desafio é como a gente cria mecanismos e envergonhe, constranja o policial em suas práticas ilícitas, e a UPP Social pode ser uma possível mudança.

Mc Leonardo: Chega da favela chorar!

Mc Leonardo, presidente da Associação dos Profissionais e amigos do Funk (Apafunk ) começou sua fala relatando a sua volta para casa na noite anterior e opinou que tudo isso é resultado da ausência do Estado. “Ontem à noite ninguém queria andar devagar, os táxis perderam para os carros de polícia esta noite. Eram 20 mil policiais nas ruas. E isto é resultado da falta de uma política de Segurança Pública de qualidade neste país, no Rio”, contou.
O MC, que morou na Rocinha durante anos, diz que o que o Rio está vivendo é resultado da criminalização da favela, onde se culpa sempre a favela pela violência, onde tudo se resolve com a violência. “Se esta prática de entrar nas favelas e massacrar a todos, algo que é feito há décadas, funcionasse, o problema da violência e do crime organizado já teria sido resolvido. O governo é imediatista, e as ações nas favelas não podem ser imediatas. O que o Estado faz é colocar na favela carros blindados para acalmar a classe média. Nós somos vítimas ou somos culpados?”.

A observação que o cantor trouxe para os jornalistas foi que a mídia tem papel fundamental nisso tudo, já que ela, com seus interesses empresariais e com um punhado de preconceito de censo comum, fazem jornais sensacionalistas, pondo o pobre, o negro e o favelado sempre como o marginal. “A nossa responsabilidade é muito mais. Existe um abismo muito grande de informação dentro da favela, o jornal Meia Hora, por exemplo, não é informação”.

Outro questionamento que o MC Leonardo trouxe foi também sobre a criminalização do funk, sua experiência de luta nos movimentos sociais. “Quando o moleque da favela está do outro lado da trincheira, falando e cantando o seu funk, a sociedade o mata, o criminaliza. Mas, os jornais sensacionalistas põem palavras de incentivo ao crime, põem a mulher de forma vulgarizada em suas capas. E a sociedade não quer que ele cante o que ensinam a ele, não faça o que ensinam a ele”, finaliza. Segundo o Mc, para mudar essa história, é necessário que o povo participe das reuniões de todas as secretarias, que se junte a outras lutas, a outras resistências

Nenhum comentário:

Postar um comentário