Por Fábio Barbosa em 1/3/2011
Reproduzido da seção "Tendências/Debates" da Folha de S.Paulo, 27/2/2011; intertítulo do OI
A interdependência veio para ficar e já está alterando, há algum tempo, a relação entre os países. Tendências como os fluxos migratórios, problemas ambientais e crises financeiras têm passado por cima das fronteiras, demonstrando até pouco respeito à independência de cada país. Uma crise num mercado se alastra rapidamente para outro e, portanto, aumenta a necessidade de coordenação entre os países. Acordos financeiros globais são negociados em Basileia, acordos ambientais, em Kyoto e em Copenhague, e negociações sobre fluxos migratórios são tratadas entre blocos econômicos, quando não através de (frustradas e frustrantes) construções de muros.
A independência de um país para definir o destino dentro dos seus domínios está sendo cada vez mais abalada pela interdependência que se sobrepõe. Os governos não estão aparelhados para lidar com essa crescente onda de problemas supranacionais e só agora começam verdadeiramente a buscar novos caminhos, pressionados pelos novos tempos. A notícia é que a interdependência será cada vez maior, goste-se ou não. Com 5,3 bilhões de celulares no mundo e com cerca de 2 bilhões de pessoas conectadas pela internet (dados da União Internacional de Telecomunicações), a comunicação está mais rápida do que nossos padrões de conhecimento conseguem compreender. Isso impacta a todos, mas se dá de forma mais acentuada, claro, entre os jovens.
Transparência e interdependência
Um fato recente que tem chamado muito a atenção é o que está acontecendo em vários países do mundo árabe. Não vou explorar o aspecto político, mas destacar o papel dos jovens na mobilização da sociedade pelas redes sociais. Foi com esse mecanismo pouco estruturado, mas muito eficiente, que concentrações enormes foram articuladas. Da forma como estão organizados, os governos também não estão conseguindo compreender e muito menos controlar essa rede de informações. É tudo muito rápido e muito fluido. Os tempos do que se chamava de "comando e controle" estão ficando para trás. Caso recente e ilustrativo é o de alguns congressistas de países ocidentais que ficaram perplexos com os acontecimentos no mundo árabe. O foco dessa perplexidade, porém, não é no que aconteceu em si, mas em como lidar com essa nova situação em que a informação sobre as mobilizações chega diretamente a eles e a todos, via redes sociais, antes mesmo que seus sofisticados serviços de informação secretos tenham tido tempo de saber, entender e interpretar.
O fenômeno das redes sociais impacta também as empresas e, por conta disso, elas precisam aprender a tratar com novas mídias dentro de casa (blogs) e nas relações com o mercado (Facebook, internet, blogs e Twitter). A fonte de notícias não é mais somente a mídia tradicional. Além de TVs, jornais, revistas e rádio, a divulgação das informações também já está definitivamente online, pulverizada e democratizada. Novos tempos. Muitos hábitos dos jovens também estão mudando por conta disso e sua fonte de informações é muito diversa. Por exemplo, no caso de produtos e serviços, os jovens se informam não só pela propaganda dos anunciantes, mas querem saber pelas redes sociais o que seus amigos acham da experiência que tiveram com determinado produto ou serviço.
Difícil dizer quais serão as implicações de todas essas mudanças. Arrisco-me, porém, a dizer que serão mudanças muito positivas, pois teremos mais transparência, mais participação, mais engajamento. Vejo os jovens do mundo inteiro ávidos por serem protagonistas desse mundo interdependente, contando agora com um instrumento de comunicação e participação – as redes sociais – que é formado por eles, consolidando, agora, sim, a aldeia global. Com a boa-nova de que esses jovens estão conectados de maneira mais intensa e com consciência social e ambiental maior do que a geração anterior.
O mundo já está e ficará ainda mais transparente e interdependente. E isso é uma excelente notícia.
MÍDIAS SOCIAIS
A serviço do leitor e do jornalismo
Por Wemerson Augusto em 1/3/2011
O que as redes sociais têm a ver com o jornalismo? Existe uma frente de jornalistas e um crescente número veículos de imprensa, principalmente os portais, que utilizam as mídias sociais para interagir com leitores e fontes e, de quebra, diferenciam seus conteúdos e reforçam posições no ciberespaço da notícia. Por outro lado, há órgãos que ainda defendem que não há relação alguma e que elas são espaços, apenas, de jovens desocupados.
Portais, blogs e jornalistas que utilizam os artefatos a serviço do jornalismo, têm conseguido credibilidade e leitores. O uso correto da tecnologia tem dado retorno. A avaliação é baseada nos comentários expostos nos perfis dos veículos. Os que possuem feedback, de forma humana e precisa, conquistam leitores mais exigentes, críticos e formadores de opinião.
A situação dos grandes portais é diferente. Muitos apostam numa prática mecânica de conversar com o leitor. Lotes de informações são disponibilizados de maneira robótica. Jogam todo ou quase boa parte do conteúdo, sem muita preocupação em dar retorno aos internautas. A existência automática destes sites está com os dias contados. Eles precisam mudar ou vão continuar perdendo leitores.
800 milhões de usuários em 2012
Entender as redes sociais como um universo complexo e rico de impressões pode ser um caminho para a empatia de leitores e diferenciação do conteúdo. Nelas é possível encontrar pessoas com os interesses distintos. Propor e buscar informações das pessoas que interagem com o perfil é um passo adiante neste processo. A prestatividade na troca de informações poderá avançar a relação.
É preciso reconhecer que a tecnologia digital é um produto de nossas intenções e propósitos, como afirma Raquel Recuero, em seu livro Redes Sociais na Internet. Para a autora, "o modo como nos apropriamos delas, os usos que fazemos, reinventam constantemente suas características". O argumento orienta, entre outras possibilidades, a tentativa de buscar encaminhamentos e mecanismos para conversar com os internautas.
Público este que cresce diariamente no mundo inteiro. Até 2012, as mídias sociais terão mais de 800 milhões de usuários, segundo estudo da IBM. Já o Brasil é um dos países que seus internautas passam maior parte do tempo nas redes sociais. A constatação foi realizada pelo instituto Nielsen, no ano de 2010. A pesquisa fez o comparativo com 10 países, entre eles, Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha e Austrália.
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