segunda-feira, 6 de julho de 2009

HONDURAS: DITADURA MIDIÁTICA

O golpe de Estado em Honduras sobrevive através da ditadura da mídia - a maioria a favor dos golpistas e, as que são contrárias, são tiradas do ar.


A semelhança com o golpe de Estado contra Chavez em 2002 é impressionante: só que o povo estava mobilizado neste caso.
Mas em Honduras até o bispo discursou em defesa do golpe, tipo de apoio também ocorrido na Venezuela.

(a presidenta argentina Cristina Kirchner sabe disso tudo:
enviará sua polêmica proposta de nova lei de radiodifusão ao Congresso atual. O projeto, em fase final de consulta pública, atinge os interesses do "Clarín", o maior grupo de mídia do país, por abrir o mercado de TV a cabo para empresas de serviços públicos e limitar a participação dos atuais operadores, entre outros pontos).


Veja a matéria da Folha sobre Honduras

TVs locais e estrangeiras foram tiradas do ar


O governo interino de Honduras bloqueou ontem os sinais de TV e rádio no país para impedir que a população acompanhasse a tentativa frustrada do pouso no aeroporto de Tegucigalpa do avião que levava o presidente deposto, Manuel Zelaya. A medida atingiu tanto emissoras estrangeiras quanto nacionais.
Às 16h30 locais (19h30 pelo horário de Brasília), quando o sinal foi interrompido em meio aos confrontos nos arredores do aeroporto, o canal 11 era a única emissora hondurenha que transmitia as cenas de violência -os demais, que apoiam o governo interino de Roberto Micheletti, continuaram a sua programação normal.
Emissoras de TV a cabo como a americana CNN em espanhol, bastante vista nos últimos dias em Honduras, deixaram de ser transmitidas por cerca de 45 minutos.
No mesmo período, foi imposta às emissoras nacionais uma programação oficial que reprisou imagens da entrevista coletiva dada horas antes por Micheletti, na qual o presidente interino acusou a vizinha Nicarágua de enviar tropas à região da fronteira.
As TVs hondurenhas também voltaram a exibir o discurso pronunciado no sábado pelo influente arcebispo Oscar Andrés Rodríguez, exortando a Zelaya a não voltar para evitar um "banho de sangue".
Desde a deposição de Zelaya, a Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações), sob intervenção de autoridades militares, vem retirando do ar, por alguns períodos, meios de comunicação favoráveis ao presidente deposto.

MOVIMENTOS POPULARES

Execrado pelas elites econômicas e políticas de Honduras, o presidente deposto Manuel Zelaya tenta viabilizar sua volta ao país por meio da mobilização de pequenas organizações de esquerda, como sindicatos, partidos e movimentos étnicos.
"Temíamos que Zelaya ficasse no poder, mas convocar Assembleia Constituinte é uma boa medida", diz Maria Reyes, 48, do grupo Rede de Mulheres.
Reyes participava da marcha ao lado de cerca de 50 membros da Rede de Mulheres, que dá assistência a vítimas de violência familiar nos bairros pobres de Tegucigalpa.
A ativista, que não votou em Zelaya, é filiada à Unificação Democrática (UD), principal partido de esquerda que tenta crescer na política bipartidária hondurenha, dominada pelos partidos Liberal (centro-direita), ao qual Zelaya é filiado, e Nacional (direita).
Mesmo sendo a terceira força parlamentar, a UD, que apoia a convocação da Assembleia Constituinte, possui apenas 5 dos 128 deputados (o Congresso é unicameral).
Presente no protesto com 400 manifestantes, o Copin (Conselho das Organizações Indígenas e Populares) trouxe filiados do oeste do país, onde há grande população indígena.
"Zelaya veio da oligarquia, masfez propostas interessantes", explica Berta Caceres, 40, dirigente do Copin, durante a marcha rumo ao aeroporto.
Entre as iniciativas de Zelaya elogiadas por Caceres estão a aproximação com Cuba e Venezuela e a não concessão de jazidas mineiras no país.
O presidente deposto também tem o apoio de lideranças locais ligadas ao Partido Liberal, cuja cúpula rompeu politicamente com Zelaya.

CALAR É CRIME

"Há tempos em que manter-se calado é um crime, e ficar calado nesse tempo de repressão em Honduras seria um crime, dado esse golpe contra a democracia", disse Zelaya, citando um autor hondurenho.

O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, disse temer que a violência se propague na região. "Nós devemos saber ler a história e a importância de um evento em particular".


TEOREMA BRASILEIRO, CUBA E OBAMA

O jornalista Clóvis Rossi diz que "a grande inquietação do governo brasileiro com a crise em Honduras, além do golpe em si e da instabilidade decorrente, é com os presumíveis prejuízos para a política norte-americana na América Latina:


1 - Quando a Assembleia Geral da OEA discutia, no início de junho, a revogação da punição a Cuba (que acabou aprovada), o presidente Barack Obama ligou para seu colega Luiz Inácio Lula da Silva para informar-se melhor da posição brasileira.
No meio da conversa, disse que pretendia deixar as relações EUA-Cuba plenamente normalizadas até o final de seu mandato dentro de três anos e meio. Já então soou como uma ideia excessivamente otimista.
2 - Agora, o governo brasileiro sente que Obama ficará sob pressão para não normalizar as relações com Cuba, a partir do paradigma hondurenho: se o americano for duro com Honduras, como o Itamaraty acha que vem sendo, a direita nos EUA exigirá a mesma dureza em relação a Cuba.
Ou, em termos formais, fica difícil para Obama apoiar a suspensão de Honduras, com base na Carta Democrática da OEA, e não exigir de Cuba respeito idêntico a esse mecanismo.
3 - A reintegração de Cuba, como ficou evidente nas recentes cúpulas latino-americanas, é considerada a pedra de toque para a mudança nas relações América Latina-Washington, prometida por Obama."

SAÍDA?
ELEIÇÕES

O único caminho que pode conduzir a uma saída seria a realização das eleições presidenciais, marcadas para novembro antes do golpe e mantidas pelo menos verbalmente depois dele.
Dependendo das condições em que se realizar o pleito, seria em tese uma maneira de zerar o quadro institucional, se os organismos internacionais que monitoram eleições na região lhe aplicarem o rótulo de "livre e justa", que é o selo de qualidade exigido internacionalmente.

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