sexta-feira, 26 de junho de 2009

POR QUE A GRANDE MÍDIA É CHATA?

A fábrica de escândalos em que se transformou o noticiário transforma a grande mídia nacional num meio chato e constrangedor para o leitor ou para o telespectador, que tem de engolir um monte de suposições e versões. Depois de meses, descobrimos que ao invés das versões sobram só aversão - aversão contra o sistema político, contra todos os políticos, contra toda a mídia, já cognominada de Partido da Imprensa Golpista justamente pelos exageros e do denuncismo de suposições que jamais se comprovam ou não dão em nada.

O maior problema desse desvirtuamento dos fatos, dos exageros, da manipulação da informação, é que essa fábrica de escândalos, por mais que tenham a ver com a nossa trajetória histórica de patrimonialismo e expropriação do poder pelos privilegiados de sempre, acaba desviando da principal questão que interessa à população: as leis, as decisões parlamentares - ou a omissão - que interferem no cotidiano, influenciam a vida de todos.

Quantas questões importantes que afetam o nosso dia-a-dia mas não são focalizadas pelos meios de comunicação?
Saúde, educação, oligopólio privado das telecomunicações, indústria das multas, emprego, bancos...

MANIPULAÇÃO

Como a grande mídia é pautada (ou pauta) pelos demotucanos e seus interesses, nada noticia contra as maracutaias deles. Daí termos a impressão de que há sempre um clima de golpe contra o governo atual, a demonização, a criminalização
- tudo o que os adversários dos demotucanos fazem é ilegal, antiético, principalmente os movimentos sociais, etc.

INTRERESSES E GOLPISMO
Depois de muito tempo as coisas começam a clarear.
Os verdadeiros interesses vêm à tona.

A denúncia de crise no Senado parece que tem o objetivo de denunciar esse patrimmonialismo histórico da classe dirigente brasileira, esse estamento, por exemplo, dos latifundiários (que evolui, no entanto, para o coronelismo eletrônico jamais criticado pela mídia, obviamente!).

Mas descobre-se que tinha o objetivo de derrubar o presidente do senado José Sarney para colocar no lugar dele um demotucano, que é vice presidente da Casa.

As denúncias são feitas sem que se tenha uma visão abrangente da questão.

Por exemplo, há uma luta óbvia pelo poder entre os burocratas do Senado, mas a grande mídia usa-os para aprofundar a crise, mas nada conta sobre como funciona essa burocracia - aliás, uma boa oportunidade para conhecer mais a fundo como isso funciona.

A (IR)RELEVÂNCIA E OS EXAGEROS
LEVAM ÁS REPETIÇÕES E Á CHATICE.
CRIAM OUTRA FÁBRICA DE DESVIOS!

Isto é, o noticIário releva e superdimensiona tudo e depois não tem como comprovar o que denunciou. Exagera.

O articulista Jânio de Freitas diz que "é de dentro da burocracia do Senado que tem saído tudo o que situa Sarney no centro do noticiário pejorativo".

Para ele, os acontecimentos no Senado "entram na fase perturbadora, comum a todos os grandes casos anormais no Brasil, em que tudo pode ser lançado no noticiário, não só por jornalistas. Se faltar fundamento ou sobrar desproporção, a relevância dada no início leva às repetições, e poucas vezes à verificação e às correções devidas -e embarcamos todos no mesmo desvio".

Vide o caso Collor - meses de denúncias, mas ele só caiu por causa do depoimento de um motorista.

Agora, no dito escândalo do senado, segundo ele, as duas contas ultrassecretas do Senado na Caixa, mais do que suspeitas, segundo a associação das revelações do senador Renato Casagrande com, digamos, a ansiedade jornalística. Não tardaram as explicações de que as contas são legais, de serviços externos da informática do Senado (o Prodasen) e de conhecimento do Tribunal de Contas da União. O que ficará valendo e influindo? Por ora, o segredo suspeito das contas, não verificada nem avalizada a explicação.

INVERDADES E INJUSTIÇAS
INVIABILIZAM A APURAÇÃO

Para Jânio, "os riscos que essas precipitações criam tanto implicam inverdades e injustiças, como embaralhamentos que inviabilizam a apuração dos fatos reais e dos seus responsáveis verdadeiros. Até hoje rolam por aí vários casos conturbados, também pela própria polícia, como o da maleta de dólares em São Paulo, aquele dos dólares apresentados como alegada intromissão de Cuba na eleição, e vários outros. Se bem que não desvirtuassem o desfecho necessário, os malabarismos no escândalo de Collor foram fartos, desde a grande dimensão atribuída à cascata na Casa da Dinda aos inquéritos, que se voltaram erradamente para dois Ermírio de Moraes, enquanto grandes empresários do esquema PC/Collor nem foram citados jamais."

Ele admite a verdade de que "não faltam, com frequência, concessões muito baratas ao sensacionalismo, sejam por fraqueza de jornalistas, sejam por decisão de um ou outro meio de comunicação. Mas não há como sustentar que alterações na segurança do noticiário decorram, como norma, de má-fé ou campanhas deliberadas. Razões e propósitos são complexos, e também nesse sentido o escândalo Collor serve de exemplo: revistas, jornais, e TVs que projetaram o processo de denúncias contra Collor foram, quase todos, os mesmos que mais o apoiaram até aquele momento e desde a campanha eleitoral."

Aliás, a própria Folha de São Paulo encabeçou o esquema para derrubar Collor.

MATURIDADE RETARDADA

Com a experiência inclusive desse e de outros períodos da história do jornalismo, Freitas diz que "a entrada no descontrole, a meio dos chamados escândalos, tem a ver sobretudo com o problema de maturidade do jornalismo brasileiro, retardada pela interrupção de seu percurso por duas décadas de ditadura militar. Tal maturidade não depende só, no entanto, do jornalismo mas também das circunstâncias de sociedade e instituições. E nisso estamos bastante mal."

Acrescenta que a convicção exposta ontem pelo senador José Sarney, de que há uma "campanha midiática", da imprensa & cia., para destituí-lo da presidência do Senado não é de todo equivocada. Mas incompleta e insuficiente para explicar sua posição de figura central nas revelações e nos comentários, inclusive de senadores, da realidade oculta do Congresso. Por menos que conte com a simpatia do jornalismo, Sarney está na original posição de alvo daquilo que procura proteger. É de dentro da burocracia do Senado, e não de artifícios de uma "campanha midiática", que tem saído, para os jornalistas, tudo o que o situa no centro do noticiário pejorativo sobre o Senado.

MEMÓRIA E APURAÇÃO SELETIVAS

Um dos motivos da grande mídia ser denominada de Partido da Imprensa Golpista, além de querer derrubar o atual governo para os demotucanos reassumirem o poder em 2010,
é o fato de que quer editar os fatos históricos, classificando por exemplo o período ditatorial como "ditabranda". como fez a Folha de São Paulo.

As organizações Globo usam a síndrome do esquecimento para omitir sua participação no golpe de 64 contra o regime democrático e eleito de Jango. Há centenas de exemplos.

Ao utilizar-se dessa memória seletiva, ao selecionar adversários, a grande mídia perde o foco central ou do todo. E perde a moral para criticar.

Segundo Freitas, isso que ocorre agora é prejudiciual ao próprio noticiário e para o conhecimento dos fatos ocultos.

Exemplifica: isso permite que "Renan Calheiros se ponha atrás das colunas e fique em sossego, como se nada tivesse com manobras e segredos do Senado nos anos em que o presidiu com carga incomum de poder e arbitrariedade. E assim também com outros componentes de Mesa Diretora. E isso está obscurecido, para conveniência dos diferentes grupos que manobram por um sigilo ainda maior que os descobertos."

Poderia ter incluído aí os demotucanos, que são notórios pauteiros da grande mídia e provocadores dos ditos escândalos fajutos que nunca dão em nada. Mesmo porque os escândalos são datados - só valem os do governo atual, mas esquecem que boa parte deles começou no governo FHC, que deixou a chamada herança maldita.

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