quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Caroni: Balas de prata e os tempos das filhas

O que poucos se dão conta é que o uso da “bala de prata” é improvável por uma logística inédita: dessa vez o “lobisomem” e o atirador estão umbilicalmente ligados. Qualquer disparo fulmina os dois. Simbiose perfeita.

Gilson Filho

É cristalino o significado político das últimas declarações de José Serra. Ao comparar, em um telejornal das Organizações Globo, a presidenciável petista, Dilma Rousseff, ao ex-presidente Fernando Collor, o tucano deixou claro que já não lhe sobra margem para argumentos sutis. Quando responsabiliza a ex-ministra pela quebra do sigilo fiscal de sua filha, Verônica Serra, o candidato do PSDB, comprova, mais uma vez, que, neste momento, está refugiado à sombra de togas obscuras e barões midiáticos, aos quais deve prestar vassalagem até o dia 3 de outubro.

Carente de apoio popular, perdendo força a cada dia na classe média, e constatando a decomposição de seu apoio político-parlamentar, Serra só espera sobreviver a partir do apoio que vem obtendo de redações que se transformaram em extensões de seus comitês eleitorais. Sua candidatura está em estranha suspensão, em compasso de espera entre o imprevisto e um novo ato do drama de retrocesso calculado. Esperando por uma improvável “bala de prata", parece estar pronto para enveredar por uma aventura de alto preço para o país: um golpe branco em nome da preservação do Estado Democrático de Direito. Melancólico, mas é o que parece lhe restar.

Fingindo não saber que acabou o teatro esquizofrênico do falso moderno que pensava ser rei, o tucano não teme o ridículo: “O Collor utilizou o filho do Lula em 1989. Agora, pegaram a minha filha (...) para meter nesse jogo político sujo por preocupação com a minha vitória. Dilma está repetindo Collor". Traçar paralelismos requer cuidados que, quando não são tomados, revela a verdadeiras intenções do discurso e do gesto. A mistificação - e Serra deveria saber disso - costuma cobrar preço alto.

Vamos por partes, para melhor detalhar o processo. Collor foi eleito através de uma campanha em que misturou um discurso modernizante com apelos a valores e crenças tradicionais. A reforma do Estado e a moralização da sociedade eram os eixos centrais do discurso. Quem, a essa altura da campanha, está adotando a receita do bolo collorido? A total ausência de compromisso com a verdade e com a ética é marca de qual candidatura? Não convém brincar com o passado recente. O país, hoje, já não padece de aguda crise de cidadania. A sociedade civil já não se submete às surradas cantilenas reacionárias.

Collor atiçou o medo das camadas médias denunciando futuras medidas socializantes de candidatos mais à esquerda, principalmente Lula. Quando, seguindo a mesma trilha do “caçador de marajás”, um prócer tucano afirma que ”devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários “, cabe a pergunta: quem está repetindo quem? Que democracia é preservada quando se pretende reduzir o aparato estatal a uma espécie de polícia da produção a serviço dos ditames do mercado? Como obter a submissão do mundo do trabalho sem a supressão de direitos democráticos?

Por fim, o ex-presidente da UNE, deveria se lembrar que Collor atacou seu adversário no segundo turno, manipulando uma antiga namorada de Lula. Em tudo isso, o ex-presidente contou com uma máquina de apoio e propaganda como nunca tinha sido visto, custeada por grandes grupos econômicos. O apoio da Globo foi, como é, notório e especialmente importante. Como se vê, não cabe misturar filhas e tempos distintos.

Lurian Cordeiro da Silva surgiu no cenário eleitoral como golpe baixo de uma campanha ameaçada pela curva de crescimento da candidatura oponente. Verônica Allende Serra, sem que se saiba ainda quem encomendou a quebra de seu sigilo fiscal, vem a público por emanações do mercado financeiro. Não é plausível confundir coisas e nomes. Sociedades financeiras e namoros apaixonados são coisas bem diferentes. Disso sabem todos, de Miriam Cordeiro a Daniel Dantas.

O que poucos se dão conta é que o uso da “bala de prata” é improvável por uma logística inédita: dessa vez o “lobisomem” e o atirador estão umbilicalmente ligados. Qualquer disparo fulmina os dois. Simbiose perfeita.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Poe "The Raven" - NUNCA MAIS OS CORVOS LACERDISTAS

LULA: "QUEM DÁ GOLPE NÃO É A ESQUERDA"

CARTAMAIOR
EXCLUSIVO:



( Leia a entrevista de Lula a Carta Maior, abaixo, realizada no dia em que Serra e Gilmar Mendes tramaram para dificultar o voto popular; 30-09)

Esquerda fez opção pela democracia na América Latina”

Em entrevista à Carta Maior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz um balanço de oito anos de governo, aponta as conquistas e mudanças que esse período trouxe para o Brasil e para a América Latina e fala sobre o aprendizado que teve neste período a frente da presidência da República. Entre outros assuntos, aborda também a relação com os meios de comunicação e destaca o compromisso assumido pela esquerda na América Latina: "A esquerda fez uma opção pela democracia. "quem dá golpe não é a esquerda. Não foi ninguém de esquerda que deu o golpe em Honduras".

Redação - Carta Maior

Em entrevista concedida à Carta Maior e aos jornais Página/12 (Argentina) e La Jornada (México), na manhã desta quinta-feira, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um balanço de seus oito anos de governo e as mudanças que esse período trouxe para o país e para a América Latina. Na conversa, entre outros assuntos, o presidente fala sobre o aprendizado que teve neste período - Quando você está no governo, você não pensa, você não acha e você não acredita; você faz ou não faz. E o governo é um eterno tomar de posição – sobre a relação com os meios de comunicação – Se dependesse da imprensa eu teria 10% de aprovação, ou menos – e sobre o compromisso assumido pela esquerda na América Latina: A esquerda, na América Latina, fez uma opção pela democracia, e está chegando ao poder em vários países pela via da democracia. E quem dá golpe não é a esquerda. Não foi ninguém de esquerda que deu o golpe em Honduras.

Participaram da entrevista, o sociólogo e colunista da Carta Maior, Emir Sader, e os jornalistas Martín Granovsky, do Página/12 (Argentina), e Carmen Lira, do La Jornada. A Carta Maior publica a íntegra dessa conversa. Aqui está a primeira parte.

Emir Sader: A primeira questão é sobre o que o seu desempenho na Presidência lhe ensinou? Quais foram os aprendizados, as mudanças? O que o Lula de 2003 tem de diferente do Lula de hoje. E o que o Lula de 2010 tem de diferente em relação ao de 2003?

Presidente Lula: Eu penso, Emir, que na Presidência primeiro a gente aprende a governar. Quando você chega à Presidência da República, você se depara com a tua convivência de muitos anos de oposição em que você vai para um debate, você vai para uma reunião e você diz aos teus interlocutores “eu penso, eu acho, eu acredito”. Quando você está no governo, você não pensa, você não acha e você não acredita; você faz ou não faz. E o governo é um eterno tomar de posição. Você aprende a ter mais tolerância e você aprende a consolidar a tua prática democrática, porque a convivência política na adversidade é um ensinamento estupendo para quem acredita na democracia como um valor incomensurável na arte de fazer política. E isso a gente só aprende exercitando todo santo dia. Eu não acredito que tenha uma universidade capaz de ensinar alguém a fazer política, a tomar decisão. Você pode teorizar, mas entre a teoria e a prática tem uma diferença enorme no dia a dia. E eu penso que esse é o aprendizado. Por exemplo, no segundo mandato meu, todo mundo sabe que eu tinha medo do segundo mandato. Eu tinha medo do esgotamento, eu tinha medo da chatice, eu tinha medo de que você vai repetir a mesmice.

Quando nós criamos o PAC, na verdade nós fizemos um transplante de todos os órgãos vitais do governo e fizemos um governo novo, muito mais produtivo, muito mais eficaz, muito mais atuante, e as coisas estão acontecendo. Eu acho que isso, para mim, foi um aprendizado estupendo e que eu não quero desaprender nesse tempo em que eu vou deixar a Presidência. Eu preciso continuar aprendendo porque passar pela Presidência, enfrentar as adversidades que nós enfrentamos, e chegar ao final do mandato na situação que nós estamos chegando, eu penso que o exercício da democracia foi praticado intensamente.

Foram 72 conferências nacionais sobre todos os temas, de Segurança Pública a Comunicação, de portador de deficiência a GLTB [LGBT], e todas as políticas deliberadas por nós são resultado dessas conferências. Portanto, o povo participou ativamente das decisões e das políticas públicas do governo. Então, essa é a mudança fundamental, além do que, quando eu cheguei em 2003, a gente gastava R$ 1 bilhão por ano no Ministério dos Transportes, por ano, e hoje nós gastamos R$ 1,6 bilhão por mês. Ou seja, aprendemos a gastar e aprendemos a fazer obras.

Houve essa mudança no mesmo ministério?

Presidente Lula: No mesmo ministério. Hoje, nós gastamos 1,6 bilhão por mês, pagamos, contratamos, coisa que a gente só fazia 1 bilhão por ano. Nós tínhamos 380 bilhões de crédito para o Brasil inteiro. Hoje, nós temos 1,6 trilhão de crédito. Olha, o dia que a imprensa brasileira resolver divulgar a revolução que aconteceu no Brasil, o povo vai se dar conta porque é que o governo aparece com 80% de aprovação nas pesquisas. Não é o Lula, é o governo que aparece com 80% de aprovação no oitavo ano de mandato. Qual é o fenômeno? Porque não depende da imprensa. Se dependesse da imprensa, eu teria 10, menos 10 de aprovação. Eu estaria devendo pontos. Ou seja, qual é o fenômeno? O fenômeno é que as coisas estão chegando na mão do povo. O povo está recebendo os benefícios, o povo está vendo as coisas acontecerem. E quem não falou não fez parte da história nesse período. Eu acho que essa foi a grande mudança que eu vejo de 2003 para 2010.

Carmen Lira/La Jornada: O senhor acabou de mencionar uma coisa muito interessante para os mexicanos. Fizemos coisas que algum dia a imprensa vai divulgar. Não foi divulgado através do governo?

Presidente Lula: Olha, aqui no Brasil, há um debate muito interessante. E eu tenho notado que não é um debate do Brasil. Eu tenho notado que na Argentina tem o mesmo debate, e que nos países da América Latina há o mesmo debate. E eu tenho notado até o Obama que, quando tomou posse, disse que a Fox não agia como um meio de comunicação, mas como um partido político. Bem, eu converso com muitos dirigentes do mundo inteiro. Todo mundo reclama. Eu não reclamo muito da imprensa porque eu acho que eu cheguei onde cheguei por causa da imprensa. Ela contribuiu muito para que eu chegasse onde cheguei. Portanto, eu sou um defensor juramentado da liberdade de expressão e da democracia. Agora, tem gente que confunde a democracia, a liberdade de comunicação com atitudes extemporâneas. E eu não sei se é uma coisa mundial... que não há notícias boas.. não vendem jornal, talvez o que venda jornal seja só escândalo...

Veja, eu vou terminar o meu mandato sem nunca ter almoçado com nenhum dono de jornal, nenhum dono de televisão, nenhum dono de revista, durante o meu mandato. Mantive com eles uma relação democrática, respeitosa, entendendo o papel deles e querendo que eles entendessem o meu papel. Acho que muitas vezes o povo sabe das coisas boas que acontecem neste país porque nós divulgamos, em publicidade do governo, porque a internet divulga, os blogs divulgam, o blog do Planalto divulga....Mas às vezes, se dependesse de determinados meios de comunicação, eles simplesmente não falam a respeito do assunto. Alguns até dizem “olha, nós não temos interesse em fazer essa cobertura oficial, de inauguração de coisa”. Sabe, não têm interesse. Pode ser verdade...

O dado concreto é que eu acho que se o povo fosse melhor informado, o povo saberia de mais coisas e o povo poderia fazer juízo de valor melhor, sobre as coisas. Então, para mim, a arte da democracia é essa, é as pessoas terem segurança na qualidade da informação, na lisura da informação e na neutralidade da informação. Quem acompanha a política brasileira nesse momento vai perceber que seria muito mais fácil que alguns meios de comunicação assumissem, categoricamente, o seu compromisso partidário. E aí, a gente ficaria sabendo quem é quem, mas não é assim que funciona no Brasil. Parece tudo independente, mas é só ver as manchetes que a independência termina onde começa.

Esse é um processo de aprendizado, ou seja, nós temos muito pouco tempo de democracia, se vocês compreenderem, nós estamos vivendo neste instante o maior período de democracia contínua do Brasil, seja a partir da Constituição de 88, seja a partir da eleição do presidente Sarney. São vinte e poucos anos, portanto, é uma democracia muito incipiente, que está muito fortalecida e com instituições sólidas. Aqui, nós fizemos um impeachment e não aconteceu nada com o país. Aqui se elegeu um metalúrgico e nós estamos percebendo um avanço geral na América Latina e eu acho que isso vai consolidando a democracia independentemente dos saudosistas que sempre disseram que um metalúrgico não poderia chegar no andar de cima, que um índio não poderia chegar no andar de cima, que um negro não poderia chegar no andar de cima, que uma mulher não podia chegar no andar de cima. Nós estamos quebrando esses tabus, e estamos mostrando algo que precisa ser valorizado: a esquerda, na América Latina, fez uma opção pela democracia, e está chegando ao poder em vários países pela via da democracia. E quem dá golpe não é a esquerda. Não foi ninguém de esquerda que deu o golpe em Honduras. Então, as pessoas precisam saber que se a informação fluir corretamente, ela facilita a vida das pessoas na tomada de decisões.

E eu penso que no Brasil nós vamos aprendendo, nós vamos aprendendo e vamos construindo a nossa democracia, e eu, sinceramente, não... eu sou um homem que não tem o direito de reclamar, porque eu vou terminar o meu mandato, certamente com a maior aprovação que um governo já terminou. Tem gente que não começa com o que eu vou terminar. Então, eu tenho que agradecer ao povo brasileiro, agradecer à democracia brasileira e, por que não dizer, agradecer à imprensa, porque o comportamento dela, pró ou contra, foi formando um juízo de valor. Eu tenho uma tese que vale para a imprensa e que vale para o nosso comportamento cotidiano: se você é, todos os dias, favorável ao governo, você perde credibilidade. Mas se você, todos os dias é contra, você perde credibilidade. Ou seja, os dois extremos, quando se encontram, o resultado é burrice. Então, você tem que falar as coisas boas do governo quando elas acontecem, para te dar credibilidade para falar das coisas ruins quando elas acontecem e ter a mesma credibilidade. Eu acho que é isso que dá desenvoltura à consolidação da liberdade de comunicação no país. É o compromisso com a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade, doa a quem doer.

Martín Granovsky: Presidente, me desculpe, mas eu não falo português. Eu me lembro que na campanha de 2002, o mercado não entendia a necessidade de que os brasileiros tivessem que ter três refeições diárias. Esse era um dos principais objetivos do seu governo. Após dois governos, esse objetivo foi cumprido?

Presidente Lula: Olha, eu penso que nós conseguimos fazer uma revolução nesses dois mandatos, nesses oito anos de governo. Primeiro, uma coisa que aconteceu no Brasil: você tirar 27 milhões de pessoas do estágio de miséria absoluta e, ao mesmo tempo você levar 36 milhões de pessoas para a classe média brasileira não é pouca coisa. Gerar 15 milhões de empregos...

Martín Granovsky: Trinta e seis é quase uma Argentina.

Presidente Lula: É, quase uma Argentina. Criamos 15 milhões de empregos em oito anos. Ao mesmo tempo, fizemos programas que atendam à parte mais pobre da população, programas simples, mas programas objetivos, como o programa Bolsa Família, como o programa Luz para Todos, como o programa PPA, que é um programa de compra de alimentos, um programa para a Agricultura Familiar.

Essas são tomadas de decisões de políticas públicas que não estavam previstas no cenário político nacional. E eu acho que o povo brasileiro vive hoje mais feliz, vive melhor, e nós temos que ter consciência de que ainda falta muita coisa para fazer no Brasil, muita, mas muita coisa para fazer no Brasil. Eu espero que a companheira Dilma possa, nos próximos tempos, concluir o trabalho que nós começamos e que provamos que era possível ser feito no Brasil, e fizemos com muita força e, eu diria, com muita eficácia. Eu não quero ser presunçoso, mas eu acho que nós fizemos, do ponto de vista de política social, uma revolução aqui no Brasil, que ainda falta ser concluída. Tem muita coisa para fazer ainda, porque você não consegue desmontar todo o aparato de exclusão de 500 anos em oito anos. Mas nós temos uma base extraordinária, e eu acho que essa experiência precisa ser disseminada para outros países.

Porque algumas coisas são sagradas para nós. Você combinar crescimento econômico com inflação baixa, por exemplo. No Brasil, isso era impossível de acontecer. Você combinar aumento real dos salários e manter a inflação controlada, isso era impossível de acontecer no Brasil. Você manter uma política de exportação crescente e, ao mesmo tempo, uma política de fortalecimento do mercado interno brasileiro. Isso era impossível de acontecer!

Então, veja, todas essas coisas, todas essas coisas demonstram um grau de estabilidade nas políticas que nós fizemos, que se tiverem mais quatro ou mais oito anos de sequência nós certamente, dentro de pouco tempo, seremos a quinta economia do mundo, porque as condições estão colocadas.

E eu acho que isso tudo foi feito a partir da relação que nós estabelecemos com a sociedade. Eu tinha uma preocupação, antes de ser Presidente, que era a de definir qual seria a relação do estado com a sociedade e qual seria a relação do governo com a sociedade. Nós levamos algum tempo para que a parcela mais pobre da população, os trabalhadores organizados, começassem a ver, no exercício da Presidência, alguém deles. Hoje, milhões de brasileiros quando me vêem, eles me vêem com um deles que chegou lá, e isso deu mais credibilidade e dá mais possibilidade de a gente fazer mais coisas, e também mais irritação aos nossos adversários. Como os nossos adversários estão fragilizados nos seus partidos, utilizam de alguns meios de comunicação para fazer a grande oposição ao governo, e nós, ao invés de ficarmos nervosos, temos que ficar felizes, porque isso faz parte do processo democrático.

"Acabou o tempo em que a “casa grande” dizia o que a “senzala” tinha que fazer, acabou".

Eu digo sempre, acho que é importante dizer isso agora e não esperar outro momento, para dizer. Eu digo sempre que eu, às vezes, tenho a impressão de que tinha gente que tentava me provocar para que eu tentasse tomar uma atitude mais ríspida contra qualquer meio de comunicação, que eu tentasse fazer intervenção... E quanto mais eles me batiam, mais democracia; e quanto mais batiam, mais liberdade de expressão, até todo mundo perceber que só tem um juiz: é o leitor, o telespectador e o ouvinte. São eles que nos julgam. Ele só vai ler o que ele quiser ler e sabe interpretar, só vai assistir àquilo que assistir e sabe interpretar, e ele não quer mais intermediário, ele não quer mais o tal do formador de opinião pública. O cidadão coloca uma gravata, vai à televisão, dá uma entrevista e se autodenomina formador de opinião pública e acha que todo mundo vai segui-lo. Aí, você tem o presidente de uma Central Única, aqui no Brasil, que representa milhões de trabalhadores, esse não é formador. Então, essas coisas foram caindo por terra. O povo brasileiro não quer intermediário. Ele quer falar pela sua boca, enxergar pelos seus olhos e tomar decisões pela sua consciência. Acabou o tempo em que a “casa grande” dizia o que a “senzala” tinha que fazer, acabou.

"Na hora em que o povo for bem informado, todo mundo vai estar bem informado".

O povo brasileiro não tem possibilidade de ouvir os seus discursos, nem de ler. Só quem vai a um ato, então a imprensa fica um pouco de intermediária. Além de ser Presidente da República, tem a popularidade que tem. Só quem tem a chance de ir a um comício ou a um ato de governo tem a possibilidade de ouvi-lor. O senhor não acharia que seria necessário ter espaços em que o Presidente da República prestasse contas, falasse? Isso não é uma censura, uma limitação à liberdade de expressão, que a pessoa que é eleita e reeleita não possa... que seja às 3h da manhã do sábado, mas que diga: “Bom, na TV tal, o Presidente da República vai falar o que ele acha”. O senhor não acha que esse espaço é uma coisa que falta à democracia?

Presidente Lula: Olhe, eu temo por uma coisa oficial. Isso termina não tendo credibilidade. Pode até ter credibilidade durante um tempo, mas depois perde a credibilidade. Veja, eu tenho um programa de rádio de cinco minutos, toda segunda-feira, que eu já acho tempo para caramba. Eu gravo todo domingo à noite, e não é impositivo, ou seja, transmite quem quiser transmitir. Nós temos a NBR, que é uma televisão do governo, que ela divulga na íntegra as coisas que os governos faz, todo discurso meu é transmitido na íntegra, de onde eu estiver, de qualquer parte do mundo e do país. E ela é bem assistida por um grupo de pessoas que acompanham o governo.

E tem a TV pública que nós estamos construindo ainda, está em um processo de fortalecimento. Nós não queremos que a TV pública seja vista como um canal para transmitir atividades do Presidente. Nós não queremos, porque ninguém aguenta isso todos os dias. Acho que os meios de comunicação, todos eles, na hora em que todos nós tivermos compromisso com a verdade, nós estaremos contemplados. Na hora em que o povo for bem informado, todo mundo vai estar bem informado. Eu não acho que o Estado deva ter uma coisa oficial para transmitir. Acho que o Estado tem que ter uma TV pública que tenha uma programação de qualidade, competitiva no conteúdo, na forma. E acho que o Estado não deve nem competir com as privadas na questão de financiamento. O que o Estado precisa primar é, primeiro, pela pluralidade de informações, porque é isso que vai dar credibilidade ao Estado; e, ao mesmo tempo, pela seriedade das informações. A TV pública não tem que dizer que o presidente Lula está de terno branco ou de terno preto; que o Lula é bom de bola ou se ele é ruim de bola. Se tiver esse compromisso, pode ser que um presidente ou outro não goste, mas a democracia agradecerá.

Você sabe que eu primo muito a democracia, Emir, porque eu não sei se eu chegaria à Presidência se não fosse a democracia. Eu vejo, por exemplo, aquela foto do primeiro governo da Revolução Russa, você não tem um metalúrgico ali, na direção. E assim, normalmente, em várias revoluções, a direção é toda de classe média, intelectual... o peão está lá para trabalhar, tem pouca gente. Aí, aqui nós conseguimos democraticamente criar um partido com a maioria de trabalhadores, chegar à Presidência da República, em 20 anos. Eu lembro da primeira reunião que eu fiz, em junho de 1990, quando nós convocamos em São Paulo, no Hotel Danúbio, a primeira reunião da esquerda da América Latina. Por que, por que, hein?

Emir Sader: Oitenta...

Presidente Lula: Noventa. Eu tinha saído derrotado da eleição de [19]89, mas tinha saído fortalecido. Porque, em [19]82, eu fui candidato a governador de São Paulo, e eu fui o quarto colocado; eu tive 1.25 milhão de votos. E eu fiquei arrasado, eu me senti o mais insignificante dos seres humanos de ter tido só 1,25 milhão de votos. E o meu partido já tinha uma propaganda que era uma loucura, não poderia aparecer a gente falando na televisão. Aparecia uma voz dizendo o seguinte: “Luiz Inácio Lula da Silva: ex-tintureiro, ex-alfaiate, ex-engraxate, ex-torneiro mecânico, ex-sindicalista, ex-preso político. Um brasileiro igualzinho a você”. Aí, tinha outro que aparecia o seguinte: “Altino Dantas: filho de general, condenado a 96 anos de cadeia”. “Athos Magno: sequestrou o avião...” Ou seja, parecia mais um prontuário policial... boletim de ocorrência do que uma campanha política.

E eu, então, fiquei muito triste porque eu perdi para o Montoro. Aí, certa vez, eu fui a Cuba e, conversando com o Fidel, ele falou: “Ô Lula, você já se deu conta em que lugar do mundo um operário teve 1,25 milhão de votos? Não tem isso, Lula! Então, você tem que achar estupenda essa votação que você teve!”. E aí eu passei a achar que a minha derrota foi uma vitória. Então, em [19]89, eu tive 40 e poucos por cento dos votos no segundo turno, e eu achei que era possível a gente consolidar a democracia na América Latina. Então, convocamos todos os partidos de esquerda. Da Argentina vieram quatro ou cinco, da República Dominicana, dez ou 12, porque tinha grupos de esquerda de dois, de três... Eles não conversavam entre eles. Eu brinco sempre que a única coisa que unificava aquela esquerda ali era o Maradona, porque a Argentina estava na Copa do Mundo. E o que aconteceu? Nós tiramos o fórum de São Paulo, passamos a nos reunir e hoje todos os partidos chegaram ao poder.

Durante um encontro em El Salvador, eu não quis receber o Chávez. Não queríamos que ele participasse do fórum porque era golpista, na época. Então, hoje, você pega a América Latina, todo mundo que participou do Fórum de São Paulo chegou ao poder pela via do voto. Então, eu acho isso extraordinário. As pessoas aprenderam. Como é que um índio chegava ao poder na Bolívia se não fosse a participação popular? Eu acho que essa é a revolução: você pega Mandela na África do Sul, Evo Morales na Bolívia, Lula aqui no Brasil e Obama nos Estados Unidos. Não é pouca coisa os americanos votarem num negro para presidente. Primeiro houve uma revolução no partido Democrata, com a vitória dele sobre uma loira dos olhos azuis. Nada contra mulheres com os olhos azuis, porque a minha tem! E depois ganhar junto ao povo americano. Então, o Obama é um presidente que ele não precisa fazer muita coisa. Ele só tem que ter a ousadia que o povo americano teve ao votar nele. Só isso. Então, eu penso que a democracia está a todo vapor na nossa querida América Latina.

O senhor não caiu na provocação de parte dos meios de comunicação distorcendo a informação ou escondendo informação. Mas eu, observando de fora, me parece que são muito poucas as informações sobre o que o governo faz, o que considero uma obrigação jornalística. Esse tipo de comportamento seria uma marca do que é chamado por alguns de imprensa golpista no Brasil?

Presidente Lula: Eu não uso a palavra golpismo. Agora, para entender é preciso acompanhar a imprensa brasileira e ver o que tentaram fazer em 2005. A elite brasileira, em [19]54, levou Getúlio a se matar. É importante lembrar que eles diziam que Juscelino não podia ser presidente, não podia ser candidato, se fosse candidato não podia ganhar, se ganhasse, não podia tomar posse e se tomasse posse, não podia governar. Era isso que eles falavam do Juscelino em [19] 55, era isso! Essa mesma elite é a elite de hoje, às vezes, não representada pelos mais velhos, mas pelos mais novos, que herdaram não apenas o patrimônio, mas, às vezes, o mesmo comportamento e a consciência política. Esse é um dado, esse é um dado objetivo. Depois levaram João Goulart a renunciar, defenderam o golpe militar.

Bem, quando eu chego à Presidência, pensaram duas coisas: “Bom, vamos respeitar a democracia e vamos deixar o operário chegar lá”. O operário chegou, e eles torciam, acreditavam piamente que eu iria ser um fracasso total e absoluto, e que a esquerda e seu operário metalúrgico iriam sucumbir na incapacidade de governar o país. Era esse o pensamento. O que aconteceu? O operário deu certo e começou a fazer mais do que eles, e aí eles se quedaram nerviosos.

Bem, eu tenho um comportamento que vem desde o movimento sindical. A democracia, para mim, não é meia palavra. A democracia é uma palavra inteira, só que alguns entendem por democracia apenas o direito do povo gritar que está com fome, e eu entendo por democracia, não o direito de gritar, mas o direito de comer. Essa é a diferença fundamental, essa é a diferença fundamental. Democracia, para mim, é permitir o direito à conquista, e não permitir apenas o direito ao protesto. Então, esse é um tema delicado, é um tema delicado, é um tema nervoso.

Nós fizemos uma conferência de Comunicação aqui no Brasil, uma grande conferência de Comunicação. Participaram alguns donos de meios de comunicação, participou o pessoal da telefonia, participou tudo que é gente de movimento social, participaram os blogueiros, muita gente participou. Agora, alguns não quiseram participar, alguns não quiseram participar. Eu não vou ficar me queixando, aqui, mas você poderia acompanhar. Primeiro, o Emir deveria te convidar para fazer uma palestra aos donos de jornais para você poder dizer o que você disse aqui, que eles têm obrigação de informar. Aqui eles não acham que têm obrigação de informar. Muitas vezes têm obrigação de desinformar.

Pega as revistas e os jornais e veja o que fizeram nesses últimos tempos. Eu duvido que tenha havido um presidente que tenha tratado a democracia com a importância que eu tratei, porque eu sei o quanto ela é importante para mim. Mas alguns compreendem diferente, eu acho normal, acho... também isso é da democracia. Mas é importante compreender o que aconteceu no Brasil. O povo brasileiro levantou a cabeça, a autoestima num nível muito extraordinário, e eu penso que só vai melhorar. Quando a gente percebe que quanto mais pluralismo a gente tiver, quanto mais opções a gente tiver, mais bem informado o povo será, porque aí o povo tem uma cesta de informações.

Daí porque eu acho importante a revolução da internet, que muita gente ainda não compreende ou não quer compreender. Mas, hoje, tudo depois da internet está velho, tudo. Está tudo velho, porque a internet é tempo real, ou seja, eu acabo de dar uma entrevista coletiva, eu venho à minha sala, em 30 segundos, eu ligo lá, já estão todas as notícias no mundo inteiro. Não sei como é que o mundo vai sobreviver a essa avalanche de possibilidade de informações que a sociedade tem. As pessoas interagem, as pessoas interagem, as pessoas respondem, as pessoas criticam, as pessoas se sentem co-feitoras da notícia, então eu acho isso extraordinário.

O senhor mencionou o que ocorreu com Getúlio Vargas e responsabilizou as elites por muitos dos golpes de Estado cometidos e muitas das barbaridades que foram cometidas na América Latina. Há alguns dias, Noam Chomsky disse que o neoliberalismo e as transnacionais estão provocando maior destruição que a conquista colonial, e houve quem o tenha contestado...Mas ele insistiu...

Presidente Lula: Quem contestou?

Intelectuais o contestaram, entre eles gente da direita. Mas, de novo, surgiu essa questão das elites. O senhor alguma vez já desenvolveu isso, com relação às elites da América Latina e seus problemas de crescimento e de alcançar a democracia?

Presidente Lula: Apenas uma coisa para que a gente não cometa injustiça. É preciso diferenciar também que dentro da elite há vários setores. Você tem empresários brasileiros que são empresários de alta qualidade, empresários com uma forte visão nacional, com uma visão desenvolvimentista. Quando eu falo, eu falo da elite política, aqueles que decidem o destino do país. E na América Latina, nós tivemos uma mentalidade colonizada, até poucos dias. Até poucos dias, na Argentina, os governantes ficavam discutindo quem era mais amigo dos Estados Unidos, ou quem era mais amigo da Europa; aqui no Brasil, a mesma coisa. Vamos ser francos: depois do pequeno período Duhalde, com a entrada do Kirchner e da Cristina, você pode ter discordância – e é legítimo ter discordância –mas houve uma mudança na Argentina, com a visão dela do mundo de mais independência, de mais soberania. O mesmo aconteceu no Brasil, na Venezuela, no Equador, ou seja, está acontecendo no mundo.

"Eu nunca aceitei a idéia de ficar sentado sobre nossos erros, apenas criticando o imperialismo".

Então, o que eu acho? Eu nunca aceitei a idéia de ficar sentado sobre nossos erros, apenas criticando o imperialismo. “Ah, nós somos pobres por causa do imperialismo americano; nós estamos doentes por causa do imperialismo americano; não aconteceu por causa do imperialismo americano”. Isso é meia verdade. A outra verdade é que a elite política de cada país é que se subordinou quando não precisaria ser subordinada. Então, é mais fácil a gente ficar criticando os outros em vez de olhar os nossos defeitos.

Eu acho uma vergonha aquele muro do México e dos Estados Unidos. Acho uma vergonha, depois de toda a glorificação da derrubada do Muro de Berlim, a gente ter o muro do México e o muro de Israel. Acho muito feio para a humanidade. Eu acho que o único muro que nós deveríamos assimilar era a Muralha da China, que virou uma coisa turística. Os demais são muros segregadores, e ninguém fala nada, ninguém fala nada. Você não vê fotografia do muro separando o México dos Estados Unidos, nos meios de comunicação.

Acho isso grave. Acho que a gente não pode ficar jogando a culpa nos outros. Nós temos que saber o seguinte: onde nós falhamos, enquanto elite política, enquanto elite intelectual, enquanto povo, onde é que nós falhamos? Na construção da nossa imagem, da nossa personalidade, da nossa riqueza. Então, eu acho que essa é a discussão que nós precisamos fazer. Porque é muito fácil, por exemplo, o Chávez falar que a Venezuela era pobre por causa dos ianques, que estavam explorando lá, a PDVSA. Não, a Venezuela era pobre porque muita gente da elite da Venezuela se beneficiava com o comportamento dos americanos. Então, eu acho que essas coisas precisam ser ditas de forma muito categórica. Não foram os ianques que levaram a Bolívia ao empobrecimento. Eles podem ter feito políticas para a Bolívia, adotadas pela elite política da Bolívia, que levou o povo da Bolívia àquele empobrecimento. O que eu quero dizer é que a gente não pode apenas criticar os de fora sem compreender os serviçais de dentro.

GOLPES MIDIÁTICOS: Baudelaire, «Don Juan aux Enfers»,

Charles Baudelaire, «Don Juan aux Enfers», Les Fleurs du Mal, 1857

Tradução de Jorge Pontual

Quando ao mundo da treva desceu Don Juan,
Assim que a Caronte o óbolo pagou,
Um mendigo sombrio, mirada malsã
E braço vingador, cada remo tomou.

Com as roupas abertas e os seios de fora,
Um bando de mulheres, na negra manhã,
Rebanho sensual que matadouro implora,
Mugia atrás do herói num lânguido cancã.

Leporelo, a zombar, o salário cobrava.
O velho Don Luís, totalmente tantã,
Apontava a um morto, que ali passava,
O filho que jogou na lama o seu clã.

Histérica de dor, a casta e magra Elvira,
Ao marido traidor que era o seu afã,
Suplicava um último olhar sem mentira,
Um sorriso com a velha pose de galã.

O gigante de pedra, visão imponente,
Assomava à proa tal Leviatã,
Mas o calmo herói, a tudo indiferente,
Olhava sem temor o reino de Satã





MUJICA : ODE AOS MILITANTES



"Que seria deste mundo sem militantes?
Como seria a condição humana se não houvesse militantes?
Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso.
É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos.
Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano.
Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício.
É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".

MUJICA : ODE AOS MILITANTES

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"Que seria deste mundo sem militantes?
Como seria a condição humana se não houvesse militantes?
Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso.
É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos.
Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano.
Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício.
É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".

SERRA USA A PRÓPRIA FILHA COMO LARANJA PARA OCULTAR MANSÃO MILIONÁRIA DA JUSTIÇA

quinta-feira, 30 de setembro de 2010
cloaca news

Na Declaração de Bens que Zé Chirico entregou ao Tribunal Superior Eleitoral não se faz menção à nababesca residência em que vive o tucano, no Alto de Pinheiros, bairro nobre da zona oeste paulistana.
Como se sabe, o candidato do PSDB à presidência da República é morador de um palacete situado na rua Antônio de Gouveia Giudice, na região conhecida pelo ostentoso luxo das residências e pelo altíssimo padrão de vida de seus habitantes. Ali, os imóveis mais modestos raramente custam menos de R$ 2 milhões.
Comenta-se que o verdadeiro dono da aparatosa moradia seria ninguém menos que um certo Gregório Marin Preciado, espanhol naturalizado brasileiro, casado com a prima de José Serra, Vicencia Talan Marin.
Serra, em sociedade com sua filha Verônica, teve uma empresa de consultoria denominada ACP Análise da Conjuntura Econômica e Perspectivas Ltda. O negócio sempre funcionou no prédio da empresa Gremafer, especializada em trambiques (Rua Simão Álvares, 1020, Pinheiros, São Paulo), de propriedade de Gregório Preciado. Curiosamente, por ocasião da campanha presidencial de 2002, o tucano “esqueceu” de declarar a empresa entre seus bens, fato que obrigou o advogado Arnaldo Malheiros a divulgar uma enroladíssima nota à imprensa, como se pode ler no site Universo Jurídico.
Nessa mesma nota, o causídico apressou-se em dar explicações sobre “a casa em que o casal reside em São Paulo”, que, segundo ele, “é de propriedade de sua filha, Verônica Allende Serra, que a adquiriu em 2001, como declarou à Receita Federal neste ano. Ela teve rendimentos declarados à Receita Federal nos dois últimos anos-bases, em valor bem superior ao pago pelo imóvel, conforme documentos em meu poder”.
Neste momento, é grande a expectativa no esconderijo de Serra para a chegada da equipe da Polícia Civil de São Paulo, com investigadores e peritos criminais, para execução de “varredura” idêntica à procedida pelo esquadrão na casa do candidato do PC do B ao Senado, Netinho de Paula, acusado de “fraude” na sua declaração de bens.
Postado por Cloaca News às 16:04:00 4 comentários

Dilma: 'É um povo que te abraça, que deseja sorte”

Os quase três meses da campanha eleitoral proprocionaram vários momentos e experiências marcantes para Dilma Rousseff. Hoje, ela ficou emocionada ao comentar sua trajetória neste ano e lembrou as conversas que manteve com brasileiros que viram sua vida mudar para melhor.

A candidata afirmou que se transformou e sai melhor da disputa pela Presidência da República. “Fico muito emocionado quando o pessoal começa a agradecer. Tem uma cena, que tem um senhor que começa a falar o que ele conseguiu nesse período e levanta o chapéu para agradecer ao governo Lula”, disse, muito emocionada.

Dilma comentou que sentiu intensamente o calor do povo brasileiro, a alegria, a capacidade de rir das situações. “Nosso pessoal é muito carinhoso. É um povo que te abraça, que deseja sorte, que te anima, e tem esse lado de te envolver e, se bobear, te carregam. O brasileiro é espirituoso e faz comentários engraçados”, disse.

A energia positiva fez com que ela saia campanha melhor. “Sou outra pessoa. Tem uma pessoa que entrou e outra que vai sair. Pela experiência. Você perde um pouco a noção dos dias. Não fica pesado. É alegre fazer campanha no Brasil. A campanha te acrescenta em experiência. Que nem a vida. Valeu a pena ser candidata. Saí melhor do que entrei. Na vida, é muito importante quando você entra e sai melhor. Minha primeira vitória é essa, foi muito bom conhecer as pessoas que conheci”, revelou.

Propostas

Segundo Dilma, os candidatos conseguiram, no geral, apresentar suas propostas ao longo da campanha e fizeram uma disputa propositiva. Mas lembrou também que houve momentos em que isso não foi possível porque alguns candidatos recorreram a expedientes de baixo nível e de acusações sem provas.

“Nós nos esforçamos muito para fazer uma campanha propositiva para o eleitor ter conhecimento das nossas propostas. Houve momentos nessa campanha que isso não foi possível. E é importante assinalar que de qualquer jeito o balanço é muito positivo", afirmou. "Em que pese que alguns problemas ocorreram e em alguns momentos teve tentativa de destilar o medo, acusações sem provas, ainda é uma festa democrática.”

Dilma resaltou que são meras avaliações os recentes comentários da imprensa internacional, dando conta de que ela sairá vitoriosa do pleito no domingo e dizendo que será uma mulher com muita influência mundial.

“Tem parte [dessa avaliação] que é entusiasmo do momento. Primeiro que não fui sequer eleita e tirar conclusão sem eleição é entusiasmo", salientou. "No Brasil, o respeito ao povo brasileiro é que nos interessa e no dia 3 de outubro as urnas fecham às 17h. Aí teremos a apuração e saberemos o resultado.”

Como Dilma e Lula tiraram o Brasil da estagnação







Depoimento pró-Dilma : Bispo Manoel Ferreira

Depoimento ptó-Dilma : Padre Gabriel Cipriani

Depoimento ptó-Dilma : Padre Gabriel Cipriani

Depoimento ptó-Dilma Apóstolo Cesar Augusto

Depoimento pró-Dilma:Irmão Lázaro

Depoimento pró-Dilma: do professor Gabriel Chalita

SERRA: LIGAÇÕES PERIGOSAS

Mídia tentará associar Dilma ao PCC

Reproduzo matéria bombástica publicada no blog do sempre bem informado Paulo Henrique Amorim:

O Conversa Afiada reproduz texto que recebeu de amigo navegante. Perceba a possível conexão entre o teor do texto e a notícia veiculada em Brasília:

A “bala de prata” é a maior fraude da história política do Brasil.

Indivíduos do capital e da região de Sorocaba, com diversas passagens pela polícia (roubos, receptação, assaltos à mão armada, seqüestros etc.) foram contatados por políticos ligados ao PSDB local através de um elemento intermediário com trânsito mútuo;

Foram informados de que “prestariam serviços” e levados até um shopping da cidade de São José do Rio Preto;

Lá mantiveram encontro com outras três pessoas, descritas como “muito importantes”, e receberam um adiantamento em dinheiro vivo;

Não se tratava de qualquer encomenda de morte, assalto ou ato criminoso tão comum para os marginais recrutados;

Imediatamente, tais bandidos foram levados até o Rio de Janeiro, a um bairro identificado como Jardim Botânico, onde ficaram confinados por dois dias;

Uma equipe de TV, num estúdio particular, gravou longa entrevista com os bandidos. O script era o seguinte: “somos do PCC, sempre apoiamos o governo Lula e estamos com Dilma”. Não fugiu disso, com variações e montagens em torno de uma relação PCC/Lula/PT/Dilma;

Os bandidos recrutados também foram instruídos a fazer ligações telefônicas para diversos comparsas que cumprem penas em penitenciárias do Estado de São Paulo. A ordem era clara: simular conversas que “comprovassem” a ligações entre o PCC e a campanha de Dilma;

Tudo foi gravado em áudio e vídeo;

A farsa começou a ser desmontada quando o pagamento final pelo serviço veio aquém do combinado;

Ao voltarem para São Paulo, alguns dos que gravaram a farsa decidiram, então, denunciar o esquema, relatando toda a incrível história acima com riqueza de detalhes;

As autoridades já estão no encalço da bandidagem. De toda a bandidagem;

A simulação seria veiculada por uma grande emissora de TV e por uma revista depois do término do horário eleitoral, causando imenso tumulto e comoção, sem que a candidata Dilma Rousseff, os partidos que a apóiam e o próprio governo Lula tivessem o tempo de denunciar a criminosa armação;

Essa é a “bala de prata”. Já se sabe seu conteúdo, os farsantes e o custo, além dos detalhes. Faltam duas peças: quem mandou e quem veicularia (ou ainda terá o desplante de veicular?) a maior fraude da história política brasileira;

Com a palavra, as autoridades policiais.

A propósito, o amigo navegante enviou essa “nota” extraída da imprensa de Brasilia:

29/09/2010 – www.claudiohumberto.com.br

Almoço global

A Rede Globo oferece em São Paulo almoço vip, nesta quinta, data do último debate presidencial, a Leandro Daiello, superintendente local da Polícia Federal – que anda atarefada com inquéritos de Erenice & cia

Tracking Vox/Band/iG: Dilma mantém 55% dos votos válidos

ig

A três dias da ida às urnas, cenário da disputa permanece estável na medição diária realizada pelo instituto
Rodrigo Rodrigues, iG São Paulo | 30/09/2010 17:22


Faltando apenas três dias para as eleições, o cenário da disputa presidencial permanece estável, dando à candidata do PT, Dilma Rousseff, 55% dos votos válidos no tracking Vox Populi/Band/iG. A conta, que exclui os votos nulos e em branco, mantém a perspectiva de uma vitória da petista ainda no primeiro 1°turno, segundo o Vox Populi. Se a eleição fosse hoje, o tucano José Serra teria 29% dos votos válidos e a candidata do PV, Marina Silva, 13%.

Para vencer no primeiro turno, a candidata do PT precisa obter 50% dos votos válidos mais um.
Quando é analisado o total de intenções de voto, Dilma continua com 49%, mesmo patamar registrado nos últimos cinco dias. O candidato do PSDB, José Serra, aparece na segunda colocação, mantendo 26% da preferência do eleitorado, mesmo índice registrado na medição de ontem.

Marina também continuou com 12% das intenções de voto na medição de hoje, mesmo patamar do dia anterior. Os outros candidatos, juntos, alcançaram 1% dos entrevistados pelo instituto. Ainda segundo o Vox Populi, 4% dos entrevistados pretendem votar em branco no próximo domingo e 8% se declaram indecisos.

No atual cenário, Dilma mantém dez pontos de vantagem em relação à soma de todos os adversários. O melhor cenário para a candidata petista é o Nordeste, onde ela tem 64% das preferências – contra 18% de Serra e 7% de Marina.

No Sudeste, onde Dilma chegou a ter 48% das intenções de voto há dez dias, o índice chega agora a 42%. Ela oscilou um ponto percentual positivo em relação a ontem, tirando um ponto da candidata do PV, Marina Silva, que oscilou de 16% para 15%.

O maior avanço de Dilma na comparação com a medição de ontem foi no Sul, onde ela passou de 46% para 49%, oscilando além da margem de erro. Nessa mesma região Serra passou de 36% para 32% e Marina se manteve com 6%.

O tracking Vox/Band/iG conta com 2.000 entrevistas, sendo que um quarto dessa amostra é renovada diariamente. A pesquisa é registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 27.428/10.

Estabilidade no tracking: Dilma 49%; Serra 26%

30/09/2010 - 17:29

Estabilidade no tracking: Dilma 49%; Serra 26%

30/09/2010 - 17:29

Como a Folha tratou o relatório da CGU

blog do
luisnassif, qui, 30/09/2010 - 16:46

O relatório da CGU (Controladoria Geral da União) não conseguiu confirmar nenhuma das acusações contra Erenice Guerra, veiculada pela velha mídia nas últimas semanas.

Em apenas um ítem sinalizou indícios de irregularidade: o contrato do Ministério das Cidades com a FUB (Fundação Universidade de Brasília). Erenice não tem nenhuma participação no contrato. As denúncias a envolveram pelo fato de um irmão ser assessor da Secretaria Nacional de Transportes e Mobilidade Urbana (Semob) do Ministério das Cidades, e contratado
pela Editora UnB em períodos próximos. Apenas isso.

Aqui, o trecho do relatório que trata da questão:

Ministério das Cidades e FUB

Já na análise dos processos relativos à contratação da Fundação Universidade de Brasília (FUB) pelo Ministério das Cidades (MCid), para a elaboração de planos diretores integrados de mobilidade urbana em áreas metropolitanas, a auditoria da CGU, embora ainda não esteja concluída, encontrou indícios de irregularidades relacionadas, sobretudo, à escolha da instituição para a realização dos serviços e ao pagamento de R$ 2,1 milhões por produto que aparentemente não atendeu à demanda estabelecida pelo MCid. Em vista disso, a CGU está notificando o MCid, para que se manifeste e esclareça se tomou as providências cabíveis. Depois disso, será concluído o relatório.

Quanto ao possível envolvimento de José Euricélio Alves de Carvalho nesses fatos, o que se tem até o momento é constatação de que ele foi assessor na Secretaria Nacional de Transportes e Mobilidade Urbana (Semob) do Ministério das Cidades, e contratado pela Editora UnB, em períodos próximos e seguidos, na época dos fatos.

Aqui, a manchete da Folha Poder Online


CGU conclui auditoria de contratos ligados a Erenice e aponta irregularidades de R$ 2 mi
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FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA

A CGU (Controladoria-Geral da União) finalizou nesta quinta-feira quatro das nove auditorias sobre os contratos citados nos casos de tráfico de influência que envolveram familiares da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra.

Segundo a auditoria do governo, a atuação do irmão de Erenice na Universidade de Brasília tem indícios de irregularidade em contratos de R$ 2 milhões. Conforme a Folha mostrou, José Euricélio era coordenador-executivo de projetos na editora da UnB que, segundo o próprio governo e a UnB, não houve comprovação de que o serviço foi feito
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A análise dos contratos que passaram por José Euricélio, contudo, ainda não foi concluída. "A auditoria da CGU, embora ainda não esteja concluída, encontrou indícios de irregularidades relacionadas, sobretudo, à escolha da instituição para a realização dos serviços e ao pagamento de R$ 2,1 milhões por produto que aparentemente não atendeu à demanda estabelecida pelo Ministério das Cidades".

A auditoria diz ainda que Euricélio trabalhava, "em períodos próximos e seguidos", tanto no Ministério das Cidades e na editora da UnB. O ministério teve 15 dias para apresentar justificativas antes de a CGU concluir a análise.

Outro ponto analisado pela CGU foi relacionado aos pedidos de financiamento da empresa de energia solar EDRB junto ao BNDES. Como a Folha mostrou, o representante da EDRB, Rubnei Quícoli, afirma que o negócio não foi viabilizado porque não pagou a "taxa de sucesso" nem R$ 5 milhões, que disse ter sido cobrado pelo ex-diretor dos Correios Marco Antonio de Oliveira, para quitar supostas dívidas de campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT).

Segundo a CGU, o financiamento do BNDES foi rejeitado por questões técnicas. "Após analisar a documentação disponibilizada, a CGU concluiu que o pleito de financiamento teve o tratamento técnico previsto nas normas internas do BNDES e que o mesmo não foi aprovado por não atender aos requisitos exigidos pelos normativos internos", diz o texto.

O governo federal analisou ainda o processo de compra do remédio Tamiflu, usado para combater a gripe suína. Segundo a revista "Veja", o ex-assessor da Casa Civil, Vinícius Castro, recebeu R$ 200 mil de propina no caso.

"Sem possibilidade de disputa entre fornecedores, com preços previamente estabelecidos e internacionalmente divulgados pelo único laboratório fabricante, não se vislumbrou qualquer oportunidade para a alegada cobrança de propina", diz a CGU.

Segundo a CGU, também não foram encontradas irregularidades na contratação de escritório de advocacia ligado ao irmão de Erenice e na aplicação de multas de uma empresa de mineração do marido da ex-ministra
eu:é assim que funciona: a denúncia falsa continua na cronologia dos dados e jamais são retirados, apesar das informações que os desmentem...

Eleitor só precisa de um documento oficial com foto, decide STF

Folha.com

FELIPE SELIGMAN
LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quinta-feira, por 8 votos a 2, que o eleitor só precisa levar um documento oficial com foto na hora da votação. A maioria dos ministros acatou ação do PT contrária à obrigatoriedade de dois documentos.

A preocupação do partido era com um grande número de abstenção na hora da votação, levando-se em conta que muitas pessoas não encontram o título eleitoral no dia das eleições.

A relatora do caso, ministra Ellen Gracie, encontrou uma solução para não declarar a norma inconstitucional, mas permitir que o eleitor vote apenas com um documento com foto, como identidade, carteira de motorista ou passaporte, por exemplo.


Ela firmou que os dois documentos são obrigatórios, mas o eleitor só pode ser proibido de votar se não tiver consigo um documento com foto.

Para o presidente do STF, Cezar Peluso, a decisão é uma verdadeira "abolição do título eleitoral". "O título não é lembrete de local de votação", afirmou o ministro. Ele também disse que a exigência dos documentos "aprimora a consciência cívica".

O julgamento sobre a necessidade de portar dois documentos na hora da votação foi interrompido na sessão de ontem por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes., mas retomado nesta quinta-feira.

Em seu voto, Mendes votou contra a mudança, ou seja, pela obrigatoriedade de levar os dois documentos.

Foi seguido apenas por Peluso.

O Supremo julga ação direita de inconstitucionalidade proposta pelo PT contra legislação que obriga a apresentação de dois documentos --o título de eleitor e outro com foto_ na hora de votar.

Já a ministra Ellen Gracie foi seguida pelos colegas Marco Aurélio Mello, José Antonio Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Carlos Ayres Britto e Celso de Mello.

A avaliação é que o documento com foto já é suficiente para comprovar a veracidade daquele que irá proferir seu voto, já que no local de votação e na própria urna já estão presentes as informações o eleitor.

Ruralistas investem pesado nas eleições

nllog do miro

Por Altamiro Borges

O Portal Terra noticia hoje que a senadora Kátia Abreu, a demo que lidera os latifundiários, enviou ofício aos ruralistas pedindo doações para “senadores e deputados comprometidos com o setor”. Em anexo, também foi enviado boleto bancário para depósito na conta do Diretório Regional do DEM do Tocantins. A campanha financeira faz parte do movimento batizado de “Agricultura Forte”, que visa ampliar a bancada dos ruralistas no Congresso Nacional. O ofício garante que a verba arrecadada será totalmente destinada aos candidatos do setor, mas não cita quais.

Maracutaias e crimes eleitorais

Como observa o portal, a legislação eleitoral obriga a abertura de uma conta bancária específica para doações a candidatos e “proíbe que sejam feitas em contas preexistentes, como é o caso”. Na última sexta-feira (24), uma liminar expedida pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Tocantins tirou do ar o site www.agriculturaforte.com.br, que também era usado para coletar doações. O TRE ainda pede o bloqueio de todos os recursos arrecadados pelo diretório do DEM e exige informações do partido sobre qual o volume de dinheiro arrecadado até o agora.

A liminar do TRE foi uma resposta a ação da coligação Força do Povo, que acusa a senadora de realizar “caixa dois”. Em nota pública, a coligação acusa a campanha “Agricultura Forte” de ser uma forma de arrecadar dinheiro para a candidatura para deputado federal de Irajá Abreu (filho da senadora). Na sua prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral, entregue em setembro, Irajá declara que recebeu R$ 100 mil do DEM, de um total de R$ 710 mil já arrecadados.

Obstáculo à reforma agrária

Deixando de lado as possíveis maracutaias e ilegalidades desta campanha financeira, o que se nota no país todo é que as entidades ruralistas estão investindo pesado nestas eleições. Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e integrante da coordenação de finanças de José Serra, a senadora teme que uma mudança na correlação de forças no Congresso acelere os debates sobre reforma agrária, proibição do trabalho escravo e infantil, defesa ambiental, entre outros itens satanizados pelos demos. Daí o forte empenho para ampliar a bancada do latifúndio.

O jornalista Mauro Zanatta, em reportagem do jornal Valor de 14 de setembro, observa que a “bancada ruralista deve crescer de tamanho e ter ainda mais peso nas decisões da Câmara e do Senado... O núcleo mais ativo do ruralismo na Câmara, composto por 30 deputados, deve ser quase todo reeleito em outubro e terá reforços influentes para compor uma frente suprapartidária estimada em 100 parlamentares. No Senado Federal, alguns ex-governadores ajudarão a dobrar o tamanho de um dos maiores grupos de pressão em ação no Congresso”.

A pauta prioritária dos latifundiários

Apesar do barulho e do atraso que representa, a bancada ruralista conta hoje com cerca de 80 deputados e 15 senadores. Para ampliá-la, as campanhas estão sendo “vitaminadas por doações de empresas e associações corporativas do setor rural”, relata a matéria. Na pauta dos ruralistas estão, ainda de acordo com a reportagem, “a alteração do Código Florestal Brasileiro, a revisão dos índices de produtividade usados na reforma agrária e a renegociação das dívidas rurais”.

O cientista político Edélcio Vigna, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), avalia que a bancada deve crescer na próxima legislatura, o que dificultará avanços no campo. “Os ruralistas avançaram muito durante o governo Lula. Barraram a revisão dos índices da reforma agrária e a votação da PEC do trabalho escravo, e liberaram os transgênicos”, observa. No mesmo rumo, o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, também projeta que “os ruralistas virão mais fortes, com reeleições e caras novas”.

Elites não subestimam as eleições

Esta perspectiva sombria confirma que as classes dominantes, incluindo seu setor mais atrasado e reacionário, não subestimam as eleições. Os ruralistas estão investindo pesado nesta disputa. E os movimentos sociais do campo? Será que os que lutam pela reforma agrária não têm o que fazer no parlamento? Não seria mais correto combinar as lutas sociais e institucionais, visando avançar nas suas conquistas? A carência de parlamentares comprometidos, de fato, com os explorados do campo e com a luta pela reforma agrária indica a urgência de se repensar tais questões

Que raio de ditadura é essa do Chávez?

Max Altman,
membro da secretaria de relações internacionais do PT e observador nas recentes eleiçoes da Venezuela:

Os meios de comunicação internacionais e nacionais, em sua vil campanha midiática, há tempos vem submetendo o governo Chávez a um implacável bombardeio de calúnias e mentiras, afirmando sem peias que Chávez reduziu a economia do país a frangalhos e que seu socialismo fez desabar sobre a economia uma crise com reflexos devastadores para o nível de emprego, a inflação e a incontrolável criminalidade. E que para conter a ladeira abaixo só restava ao ditador Chávez acirrar a ditadura bolivariana, investindo contra a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão.

Mas que ditadura é essa? Após meses de campanha, feriram-se no dia 26 de setembro as eleições parlamentares previstas no calendário, o 15º confronto eleitoral desde a ascensão de Hugo Chávez. Campanha aberta e livre a ponto de às vésperas do pleito o tradicional jornal El Nacional estampar, sem se deter, a manchete: “Murió el Mono y queda el mico” (Morreu o Mono e falta o ‘mico’). Uma alusão à morte em ação bélica do líder das Farc, Mono “Jojoy”. Mono em espanhol é macaco e as elites venezuelanas costumam referir-se a Chávez como mico que também se traduz por macaco.

Elas amiúde dizem do presidente que ele é um ‘mico mandante, um arremedo de como os liderados de Chávez a eles se referem como‘mi comandante. Expressão desenfreada de discriminação racial e incitação ao magnicídio. De resto toda a imprensa escrita, televisada e radiofônica privada agiu como partido de oposição, raivosamente, sem limites, sem constrangimentos e a campanha dos candidatos dos múltiplos partidos de oposição foram regados com fartos recursos provenientes de fundos públicos e privados dos Estados Unidos.

E o que se viu nas ruas de Caracas e em todo o país? Um pleito democrático, tranqüilo, limpo, transparente, rápido e seguro, com presença maciça de eleitores - 66,45%, índice recorde e muito superior às eleições parlamentares anteriores - para pôr abaixo todas as acusações de fraude que os setores golpistas e conservadores alegavam para as suas derrotas. O CNE (Conselho Nacional Eleitoral), que é o braço do Poder Eleitoral, constitucionalmente autônomo como o são o Poder Executivo, Judiciário, Legislativo, organizou essas esperadas eleições que observadores internacionais aprovaram integralmente.

O eleitor chega ao centro de votação já com a presença do Plano República, soldados do exército encarregados da ordem pública, do transporte de todo o material eleitoral antes e após o pleito e da organização das filas que se formam. Munido de sua cédula de identidade, apresenta-a a um dos mesários que cuidam das máquinas que captam impressões digitais, apõe seu polegar direito e na tela aparece a reprodução de sua identidade. O mesário compara os dados e lhe informa por escrito em que mesa deverá votar. Apresenta-se na sala ao mesário que confere seu nome e dados no caderno de votação onde apõe sua assinatura e impressão digital. Dirige-se então ao presidente da mesa que lhe pergunta se sabe como votar e se necessita de explicação.

O eleitor dirige-se à mesa onde estão as máquinas eletrônicas protegidas por um biombo de papelão. O presidente aperta um botão e libera o voto. O eleitor vota secretamente e ao concluir seu voto pressiona um botão de finalização. A máquina emite um comprovante físico. O votante confere o seu voto nesta papeleta, dobra-a e a introduz numa urna. Em seguida, dirige-se a outro mesário e oferece seu dedo mindinho para limpar e mergulhar na tinta indelével, uma reafirmação visível de que não poderá votar uma segunda vez, visto que a máquina da impressão digital já impedia essa possibilidade. Finda a votação, a máquina emite a ata numa tira de papel. E ali mesmo é feita a auditoria, comparando-se a ata eletrônica com a urna onde foram depositados os comprovantes. Todos os dados são imediatamente enviados por rede à central de totalização do CNE.

A oposição à Chávez alegava antes e reafirma agora que Chávez preparou uma cama de gato ao aprovar nova demarcação das circunscrições eleitorais. Novamente uma grossa mentira para tentar desqualificá-lo. Fundamentalmente porque é o Poder Eleitoral, e só ele, quem define as regras do jogo. E essas regras, ou seja, o sistema eleitoral, respeitaram o art. 186 da Constituição da República Bolivariana da Venezuela que reza: “A Assembleia Nacional estará integrada por deputados eleitos em cada entidade federal, por votação universal, direta, personalizada e secreta com representação proporcional segundo uma base proporcional de 1,1 por cento da população total do país. Cada entidade federal elegerá, ademais, três deputados.

São 165 as cadeiras da Assembléia Nacional assim distribuídas: 72 assentos correspondentes aos 3 deputados por cada um dos 24 estados; 90 assentos distribuídos na rigorosa proporção da base populacional de cada estado; 3 assentos à representação indígena. São 87 as circunscrições eleitorais distribuídas nos vários estados. Cinqüenta e dois deputados são eleitos proporcionalmente em lista partidária. (voto por lista) Há estados de maior população que elegem 3 por lista e os demais, 2. Cento e dez deputados são eleitos nominalmente dentro de suas respectivas circunscrições (voto distrital). Portanto todos os conceitos eleitorais universalmente aceitos estão aí contemplados.

O resultado final mostrou o seguinte: PSUV de Chávez, 98 cadeiras; Partidos de oposição, 64; Pátria Para Todos (PPT), 3. Os deputados indígenas já estão aí incluídos. A oposição alardeia cinicamente a manipulação das regras eleitorais gritando que tendo recebido perto de 48% dos votos deveria receber semelhante representação parlamentar

Vejam o que ocorreu, por exemplo, no estado de Zulia, tradicionalmente opositor e que contribuiu com o maior número de deputados, 15. O PSUV de Chávez obteve 44,42% dos votos e elegeu apenas 3 deputados (20%). Os partidos de oposição tiveram 54,82% dos votos e ficaram com 12 vagas (80%). Algo ainda mais evidente ocorreu no estado de Anzoátegui. Isto a mídia esconde.

Os jornalões estampam em títulos gritantes: "Derrota de Chávez", "Chávez sofre um estrondoso revés político". Conquistar 98 num parlamento de 165 cadeiras é vitória expressiva em qualquer lugar do mundo. É verdade que Chávez e o PSUV imprimiram à campanha um caráter plebiscitário, almejando a conquista de 110 assentos, maioria qualificada, que lhes permitiria avanços mais céleres no processo revolucionário, inclusive reformas constitucionais. Levaram pouco em conta que em eleições parlamentares outros fatores que não os políticos podem ter peso decisivo. Não tendo alcançado a meta, deverão rever suas táticas e estratégia. E se é certo que será mais difícil avançar com a futura composição parlamentar, é praticamente impossível qualquer recuo nos avanços já conquistados pela revolução bolivariana.

Nos dois anos que separam das eleições presidenciais de 2012, o governo Chávez deverá se preocupar em resolver ou atenuar alguns dos graves problemas que afligem o povo venezuelano: melhoria drástica da eficiência administrativa do governo central e dos governos estaduais e municipais; retomada do crescimento econômico e conseqüente volta à redução do desemprego; fortalecimento e aprimoramento de todos os programas sociais em curso; combate implacável à delinqüência; medidas enérgicas para reduzir a inflação; postura intransigente a atos de corrupção, desvios e facilidades.

A boa resposta governamental a essas preocupações da população atrairá parcelas que se sentem incomodadas e negam apoio na hora de votar. Ao lado disso, é essencial repensar o jogo político, defender e consolidar as conquistas, enfrentar com firmeza as tentativas internas ou externas de desestabilização, aprofundar a consciência ideológica e o grau de organização de suas bases, mas também construir alianças, trazendo para o campo revolucionário fatias da sociedade que se afastaram e atrair parte dos setores profissionais, da intelectualidade da área artística e da juventude. Serão dois anos difíceis em que será preciso livrar o bom e inteligente combate.

O desespero da mídia golpista

Wagner Gomes, presidente da CTB,
blog ctb

Tem sido muito interessante observar a movimentação da chamada “grande imprensa” brasileira nos últimos meses. A cada semana, seu rancor e desprezo em relação ao sucesso do governo Lula e à provável vitória de Dilma Rousseff se traduzem em mau jornalismo, parcialidade escancarada e em flerte com o golpismo. Até onde esse desespero pode chegar? Quais seriam suas consequências?

A bola da vez é a tentativa de grudar na figura do presidente Lula o carimbo de “antidemocrático”. Um eventual governo Dilma, por sua vez, tem sido imaginado como um atentado à liberdade de expressão no Brasil. Em outro cenário, esse comportamento da imprensa poderia ser visto como anedota; na atual conjuntura e com o retrospecto golpista de parte da elite a quem o chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista) representa, cabe à sociedade ficar atenta.

Já não é novidade nenhuma o fato de a imprensa no Brasil ter adotado para si o papel de partido político de oposição ao atual governo. Fosse Lula o déspota descrito por alguns jornalistas, estes jamais teriam a liberdade de desrespeitar com tamanha frequência a imagem do presidente da República – e muito menos de tachá-lo como alguém que viola a Consituição do país.

Volto ao parágrafo inicial: tem sido interessante acompanhar essa decadência da imprensa brasileira, pois é nítido que, assim como partidos como o DEM e o PSDB, ela não entende que é possível fazer oposição a um governo de forma honrosa, sem apelar para o golpismo e nem ofender a inteligência de seus leitores e telespectadores.

O PIG parece não ter notado que a sociedade brasileira do século 21 evoluiu muito. Hoje, os mais pobres não dependem de “formadores de opinião” para decidir o rumo de suas vidas. Já nas eleições de 2006 esse fenômeno foi visto por alguns estudiosos. Em 2010, isso se tornará ainda mais nítido.

O que realmente importa para a população carente, para a classe trabalhadora e para aqueles que sempre foram marginalizados na sociedade brasileira é a sensação real, de seu cotidiano, das transformações que atualmente estão em curso no Brasil. O país que é visto no “Jornal Nacional” e nas capas da “Veja” e da “Folha de S.Paulo” não é o mesmo daqueles que hoje se veem em uma situação melhor do que há dez anos e que agora podem usufruir – ou ao menos planejar – uma vida mais digna.

Diante desse cenário, até onde pode chegar esse desespero da mídia? Quais serão os novos escândalos? Quanto tempo o PIG precisará para se dar conta de que a própria imprensa é uma das instituições menos democráticas do país? Esse discurso golpista simplesmente não tem o menor respaldo da maioria dos brasileiros, mas também não pode ser ignorado. É por isso que qualquer tentativa de golpe tem que ser enfrentada em seu ninho, de forma firme e combativa.

Mais uma vez, a classe trabalhadora está do lado correto no processo político do país, junto de outros movimentos populares e das forças democráticas brasileiras. Mais do que isso: estamos prontos para enfrentar essa batalha da forma que for preciso. Dia 3 de outubro faremos isso nas urnas. Depois disso, no embate ideológico do dia a dia e, se for necessário, estaremos prontos para ir às ruas defender a liberdade que já nos custou tão caro em um passado não tão distante.

Uma história de Fiori e Paulo Freire

blog do
luisnassif, qui, 30/09/2010 - 11:13

Por Corinta Geraldi

É de fato um enorme prazer acompanhar esse debate suscitado pelo artigo de Fiori.

Talvez vcs não saibam, (afinal  essa é uma informação de quem é do campo da educação), Fiori foi o prefaciador da primeira edição do livro mais importante da obra de Paulo Freire: Pedagogia do Oprimido, lançado em espanhol pela Siglo XXI, em 1970. Devido a ditadura (ditabrana para a FSP) esse livro só foi editado no Brasil em 1975.

Porém, em 70 mesmo teve sua primeira edição em inglês, lançada nos Estados Unidos, onde foi muito bem recebido pelo pensamento radical americano das universidades mais importantes, como Harvard, entre outras. Em 1973, seu livro já estava na nona edição (cf Palma Fº,1992) e foi se constituir na obra catalisadora do movimento que produz a ruptura com o paradigma técnico-linear, concebido como uma "peça" técnica e neutra, na Primeira Conferência sobre Teoria de Currículo, em Nova York , ocorrida nesse ano (cf Jose Luiz Domingues, 1988).

urioso de tudo isso é que a reforma educacional da ditadura militar aqui no Brasil, foi buscar inspiração nesse paradigma técnico-linear, que estava sendo duramente criticado na matriz, com base nas reflexões de “nosso intelectual orgânico” Paulo Freire. Diz Palma:

Curiosa e triste ironia essa que a História nos pregou. Exatamente no momento em que, no Brasil, o pensamento educacional oficial se esforçava em adotar nos currículos oficiais o paradigma técnico-linear, através da elaboração pelas Unidades da Federação, dos Guias Curriculares, o citado paradigma começava a ser criticado nos seus fundamentos, e a partir das propostas educacionais de um emérito educador brasileiro, que naquele momento estava impedido de aqui expor suas idéias.(Palma Filho,1992, p.33).

Pois é... como disse meu querido amigo Tomaz Tadeu S (1992), durante muitos anos absorvemos e consumimos, de forma constrangedoramente acrítica, as formulações americanas sobre currículo, mas presunçosamente ignoramos seus desenvolvimentos posteriores.

Retorno ao tema pra dizer que tem, sim, uma certa intectualidade brasileira, mesmo pós-ditadura, que nunca deu ao Paulo Freire o valor e o significado que suas idéias tiveram no mundo todo. Só pra completar, qdo Paulo Freire morreu, em 1997, esse livro já tinha atingido a cifra de um milhão de exemplares em língua inglesa.

Sempre ligado nos movimentos sociais das periferias (do primeiro mundo, America latina e África), ele atualizou sua obra a partir de reflexões sobre/com as revoluções africanas e com a influência das discussões de gênero e ecológicas.

Paulo Freire foi um intelectual original que irritou profundamente um certo pensamento de “alunos forever” não de americanos, mas dos conhecimentos produzidos no primeiro mundo, ou eurocentristas.

Sobre os intelectuais latino-americanos emergentes, Paulo Freire é um exemplo pela coragem de ser sábio (Benjamin diz que a sabedoria é o lado épico da verdade), criativo e envolvido com seu complexo entorno.

Concluindo...

Não sei dizer se há uma revolução em curso ou se o conceito de Kuhn é pertinente ao caso, mas chamaria um outro intelectual tb original e por isso criticado nos meios acadêmicos, Boaventura de Souza Santos, entusiasta dos Fóruns Sociais Mundiais, para evocar a “sociologia das ausências e emergências” para talvez nos ajudar a compreender (e para mim esta é a questão) o que está ocorrendo na America Latina com suas mudanças de ordem econômica, social, cultural, ecológica e políticas e para onde apontam. As teorias estabelecidas de que dispomos dão conta?

Acho que não. E tem uma coisa curiosa q diz o Kuhn. Aquele pensador que pesquisa num paradigma já assentado e reconhecido, não consegue “ver o real” de fora desse paradigma e está fadado a defendê-lo até o fim.

Inflexão brasileira e desilusão dos EUA

Do Valor



Marcio Pochmann

30/09/2010

Nesta primeira década do século 21, os dois maiores países do continente americano convivem simultaneamente com modelos bem distintos de promoção do desenvolvimento. Enquanto os Estados Unidos registram sinais crescentes de relativa decadência mundial, o Brasil apresenta desempenho econômico e social favorável e promissor para os próximos anos.

Da posição de 14ª economia global em 2000, o Brasil ocupa, atualmente, a 8ª colocação, podendo, daqui a seis anos, situar-se entre os cinco maiores Produtos Internos Brutos do mundo.

Essa constatação, contudo, diverge profundamente da diversa realidade vivida pelas duas grandes economias no final do século passado. Nas décadas de 1980 e 1990, por exemplo, os Estados Unidos surfaram satisfatoriamente na onda neoliberal de abertura econômica e financeira global. De grande centro produtivo mundial dos últimos 150 anos, os Estados Unidos foram passivamente aceitando, desde o governo Reagan, o deslocamento de suas principais atividades econômicas por meio das redes de produção global e da terceirização das fontes produtivas de suas grandes corporações transnacionais para diferentes regiões geográficas mundiais, sobretudo asiáticas.


m isso, a marcha estadunidense permitiu que o custo de vida de sua população permanecesse baixo por constante importação de produtos estrangeiros a substituir a produção nacional. Ademais da sofisticação dos novos e criativos mecanismos de financeirização de sua economia, houve a difusão do endividamento das famílias, permitindo a formação de grandes bolhas insustentáveis de expansão da riqueza fictícia sem correlação com a produção interna. A opção pela riqueza sem produção gerou uma zona de conforto socioeconômico sustentada por gradual ampliação da desigualdade de renda. Entre 1980 e 2001, por exemplo, o grau de desigualdade na repartição da renda estadunidense cresceu 24,2% (índice de Gini).

Durante esse mesmo período de tempo, o Brasil manteve-se prisioneiro das opções que fez para enfrentar a crise da dívida externa do início da década de 1980. Com o abandono do projeto nacional-desenvolvimentista iniciado ainda na década de 1930, o país assistiu ao avanço da regressão econômica e social. Entre 1980 e 2000, o Brasil decresceu da 8ª para a 14ª colocação na economia mundial, subindo da 13ª para a 3ª posição no ranking mundial do desemprego.

O baixo dinamismo econômico, permeado por altas taxas de inflação, desorganização das finanças públicas e desmantelamento do setor público gerado pelas medidas neoliberais de privatização e focalização do gasto social, colocou o país em posição destoante da dos Estados Unidos. Mesmo assim, a tardia submissão do Brasil ao neoliberalismo fez avançar também a macroeconomia da financeirização da riqueza, sugadora de recursos orçamentários para o reduzido contingente de proprietários de títulos públicos.

A grande crise global de 2008 permitiu observar o quanto as trajetórias de desenvolvimento dos Estados Unidos e do Brasil divergem. Diferentemente do verificado durante as duas últimas décadas do século XX, o Brasil encontra-se em posição superior à dos estadunidenses. Um bom indicador disso pode ser percebido pelo comportamento recente da taxa de pobreza, uma vez que nos dois últimos anos os Estados Unidos a viram crescer 14,4%, enquanto no Brasil a proporção de pobreza no total da população caiu 17,3%. Até 2003, entretanto, a trajetória da pobreza não parecia se distinguir muito entre os dois grandes países do continente americano. Somente a partir de 2004 o sentido da evolução das taxas de pobreza se diferenciou positivamente para o Brasil, sobretudo na crise global de 2008.

Em grande medida, a inflexão brasileira assenta-se na convergência política recente em prol da prosperidade social-desenvolvimentista. A defesa do avanço da produção nacional, compartilhada por políticas distributivas e de sustentação do Estado de bem-estar, permite combinar satisfatoriamente a redução da pobreza e da desigualdade da renda do trabalho. Nos Estados Unidos, contudo, a emergência de uma nova retomada da macroeconomia da financeirização da riqueza tende a desiludir os anseios por mais produção e menos pobreza e desigualdade de renda.

Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp. Escreve mensalmente às quintas-feiras.

Maierovitch e o impeachment de Gilmar

blog do
luisnassif, qui, 30/09/2010 - 12:26
Por Vieira

A idéia de ser processado o "impeachment" de Gilmar Mendes está lançada! É um deplorável atentado à dignidade da função jurisdicional em seu mais alto nível!

Do Terra Magazine

Nos corredores do Supremo, fala-se em impeachment de Gilmar Mendes

A matéria apresentada pelo Jornal Folha de S. Paulo, informando que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes interrompeu o julgamento do recurso apresentado pelo PT contra a exigência de dois documentos na hora de votar, causou perplexidade entre alguns ministros da Casa.

O barômetro em Brasília indica alta pressão. Já se fala, mas não se sabe se é o momento adequado, no impeachment do ministro Gilmar Mendes. É o que ecoa a "rádio corredor" do Supremo, caso seja comprovada a denúncia. A "rádio corredor" ecoa nos gabinetes e ministros frequentam os corredores.


O telefonema foi testemunhado pela reportagem da Folha de S.Paulo, que publicou relatos assinados por Mocayr Lopes Júnior e Catia Seabra.

O julgamento da ação proposta pelo PT transcorria sem nenhuma dificuldade de ordem técnica-processual. Em outras palavras, a matéria examinada pelos ministros não tinha complexidade jurídica, a gerar divergências. Sete ministros já tinham votado pelo acolhimento da pretensão apresentada, ou seja, ao eleitor, sem título eleitoral, bastava apresentar um documento oficial, com fotografia. A propósito, a ministra Ellen Gracie observou que a exigência da lei "só complica" o exercício do voto.

O que surpreendeu, causou estranheza, foi o pedido de vistas de Gilmar Mendes. Como regra, o pedido de vistas ocorre quando a matéria é de alta complexidade ou quando algum ministro apresenta argumento que surpreende, provocando a exigência de novo exame da questão para se mudar de posição ou se reforçar argumentos contrários.

Também causou estranheza um pedido de vista, de matéria não complexa, quando, pela proximidade das eleições, exigia-se urgência. Importante: não adianta só a decisão do Supremo. É preciso a repercussão da decisão pela imprensa, o que impõe urgência na solução do caso. Quanto antes for divulgadado, esclarecido, melhor.

O terceiro ponto: a votação era conduzida no sentido de que, em primeiro lugar, está o exercício da cidadania. A meta toda era, como se disse no julgamento, facilitar e não complicar o exercício da cidadania que vai ocorrer no próximo domingo, dia das eleições.

Um pedido de vista, a essa altura, numa questão simples, em que os sete ministros concluíram que a lei sobre a apresentação de dois documentos para votar veio para complicar, na realidade, dificultava o exercício de cidadania. O pedido de vistas numa questão que tem repercussão, é urgente e nada complexa, provocou mal-estar.

Os ministros não querem se manifestar sobre a notícia divulgada pela Folha, uma vez que, tanto José Serra quanto Gilmar Mendes negaram. Mas vários delas acham que a apuração do fato, dado como gravíssimo, se for verdadeiro, é muito simples. Basta quebrar o sigilo telefônico.

Pano rápido. O fato é grave porque coloca em jogo o direito de cidadania. Trata-se de um ministro do Supremo, que tem como obrigação a insenção. Serra e Mendes desmentiram. A denúncia precisa ser apurada pelo Ministério Público.

A única forma de se tirar um ministro do Supremo, já que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) não tem poder correcional sobre eles, é o impeachment. Ministros do Supremo só perdem o cargo por impeachment.

O único caminho, quando se trata de grave irregularidade, de crime perpetrado - e esse caso, se comprovado, pode ser caracterizado como crime -, é o impeachment. Na história nunca houve impeachment de ministro do STF. Já houve cassação pela ditadura militar, e cassação por motivo ideológico.



http://maierovitch.blog.terra.com.br/2010/09/30/nos-corredores-do-supremo-fala-se-em-impeachment-de-gilmar-mendes/

Os óbitos iminentes do pós-eleição - Wanderley Guilherme dos Santos

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luisnassif, qui, 30/09/2010 - 12:27
Do Valor

Repartição de renda faz sua última eleição

Wanderley Guilherme dos Santos| Do Rio
30/09/2010

Registro dois óbitos iminentes: o da eficácia eleitoral da política de redistribuição de renda e o do poder desestabilizador da grande mídia. São movimentos dessa natureza que brazilianistas e a nova direita chic, os comunistas nostálgicos, não antecipam. Há quem acredite que nada mudou no Brasil desde a Primeira Missa. Outros, que mudou para pior desde a Primeira República. São ecos do passado, nutridos pela lerdeza real com que o país tem resolvido alguns problemas clássicos da modernidade. A urbanização custou a chegar, assim como a industrialização e a transformação da estrutura ocupacional. Argentina, Chile e Uruguai brilhavam com taxas européias de urbanização e alfabetização (nada de industrialização, é bem verdade) quando o mundo era campestre e a poesia e o romance, bucólicos. Em um par de décadas, contudo, a urbanização e a transformação ocupacional brasileiras bateram recordes históricos, deixando na rabeira não só a América do Sul, mas China, Índia e, em alguns aspectos, a Rússia, inventando ao longo da travessia um eleitorado de 136 milhões de votantes, indomável a qualquer elite leninista e, cada vez mais, insubmissa ao comando coronelista. A poda das oligarquias hereditárias ocorre de Norte a Sul do país. Por fim, descobriu-se uma classe média (próxima de 90 milhões de pessoas) quase do tamanho do Japão. Dezenas de milhões de "japoneses", digamos assim, falando português, mas com igual apetite consumista, invadiram as lojas de eletrodomésticos, de roupas, agências de viagens, aviões, hotéis e, até mesmo, as revendedoras de automóveis japoneses propriamente ditos. Não há nostalgia que suporte isso sem virar ressentimento. Mas, a contragosto, será nesse depósito que a história obrigará os conservadores a colher votos no futuro.

Do berço ao túmulo, a população brasileira passou a ser assistida por complexa rede de políticas sociais institucionalmente inéditas, em grande parte, e incomparáveis em sua cobertura. Multidões foram extraídas à miséria e à pobreza em prazo mínimo, se confrontado aos quase cem anos que o sistema social europeu exigiu para ser elaborado e implementado. Evidentemente, nossos séculos preguiçosos legaram tal espetáculo de carências que a profunda subversão de prioridades operada pela era Lula não está senão a meio caminho da empreitada em seus efeitos estruturais. Metas ainda por atingir, ocasionais gestões deficientes, equívocos de formulação inicial de alguns programas fazem parte da história real do período e comparecem na queda de braço das argumentações eleitorais. Mas não é nesse discurso ao tele-espectador que se encontra o coração da matéria.


de parte das políticas sociais em curso dispensa intermediários. Os atingidos têm acesso direto aos benefícios, extinguindo-se o pedágio de gratidão que deveriam pagar aos agentes executivos das ações distributivas. A fruição dos bens sociais a que têm direito independe de conexão com algum doador individualizado, subordinando-se tão somente ao vínculo formal com a apropriada agência de implementação. O funcionamento do sistema, naturalmente, claudica aqui e ali e a eficiência da máquina não é uniforme. Isso tende a melhorar. E tende a melhorar na exata medida em que os beneficiados deixam de aceitar o serviço ou o bem como favor (a cavalo dado não se olham os dentes) e a entendê-lo como obrigação do Estado. Nessa mesma medida o voto-gratidão ou se transforma em voto-confiança ou migra. Em breve a população brasileira sentirá a rede social em expansão (volume e qualidade) como estado da natureza, solo sobre o qual se desloca sem prévia licença de autoridade política a que deva lealdade. Certamente que o eleitorado, sobretudo o mais antigo, preserva um estoque de confiança nas lideranças que deram origem à re-fundação do pacto político original. Mas a simples lembrança daquele momento pode se tornar insuficiente para a renovação da confiança. E é assim que deve ser.

Parte considerável da nova classe média tende ao conservadorismo por entender com absoluta lucidez que existem limites à mobilidade social ascendente e que mudanças, dadas certas circunstâncias, serão, provavelmente, para pior. É sociológica e economicamente impossível que a totalidade das pessoas que alcançaram ou venham a alcançar em breve o topo salarial ou de posição em algum ramo do comércio, serviços ou ocupação industrial, se transfiram para um patamar acima na estratificação social, dando início a nova trajetória ascendente. A maioria das moças e rapazes que, recém alfabetizados ou saídos de escolas profissionalizantes, encontram vagas em abundância como atendentes, vendedoras, caixas, recepcionistas etc., irão se aposentar na mesma profissão ou em profissão aparentada. Algumas chegarão a supervisora ou gerente de filial; pouquíssimas a postos de direção. Grandes agregados sociais não costumam pular dois degraus na estratificação, independente da orientação dos governos e dos sociólogos de boa vontade. A ascensão inter-geracional é outra história. Em uma geração, porém, o jovem que se entusiasmava com o fervilhante trânsito social é o mesmo adulto maduro que, seguro em sua posição atual e aposentadoria próxima, teme promessas de solavancos sociais. O mais provável é que o solavanco o desaloje. Alguns chamam o fenômeno de "aversão ao risco", mas podemos chamá-lo, sem ofensa, de "potencial de votos conservadores". Em próximas eleições, o aceno da consolidação de conquistas feitas pode ser tão ou mais atraente do que prometida alvorada de grandes transformações.

E eis que o poder desestabilizador da grande mídia parece agônico. Poder que detinha menos em função do jornalismo político investigativo, exacerbado em períodos eleitorais, e mais pelas ilações que faz, os olhos que a liam e os ouvidos que as ouviam. Acusar a mídia de omitir informações, procede, com frequência, mas é trivial. Negar os resultados reais do jornalismo investigativo é tolo e inútil. O mesmo leitor que recusa o exagero aceita o fato comprovado. E o que importa, em primeiro lugar, são os fatos comprovados. Culpa cabe ao governo, ao atual, aos anteriores e a todos os que vierem depois, por entregarem seus eleitores e apoiadores aos embaraços de se verem expostos aos resultados de uma política negligente de recrutamento de pessoal para cargos de absoluta relevância e respeitabilidade. Não é aceitável, em nenhum governo, que ocupantes de cargos de confiança estejam a salvo para operar sem sistemático escrutínio da legalidade e lisura de seus atos. Os órgãos de segurança do governo devem ser responsabilizados pelas constantes provas de incompetência que vêm dando. Um aparato estatal oligárquico, historicamente destituído de capacidade operacional para implementar políticas de grande envergadura - por isso mesmo obrigado a recrutar rapidamente quadros capazes, mediante concursos e funções de confiança - está especialmente sujeito a ser penetrado por funcionários cuja idoneidade ainda está para ser comprovada. O cuidado com o funcionamento da engrenagem governamental deve ser permanente e habilidoso, antes que meramente burocrático. Não é o governo que se torna vulnerável. Isso pode passar. São os seus eleitores que se envergonham e gaguejam, pagando enorme preço em estima social pela confiança que depositaram em governantes, e que a transferiram à desonra. Por isso, não é a grande mídia a responsável. Ao contrário, deve-se ao jornalismo investigativo de boa fé a fiscalização que órgãos governamentais deixam escapar e que a desídia de uma oposição de nariz arrebitado não exercita.

Referia-me ao jornalismo investigativo de boa fé. As ilações editoriais pertencem a outro departamento. Fora da temperatura eleitoral, não há pessoa de bom senso suscetível à idéia de que o presidente Luiz Inácio, ou qualquer outro presidente normal, tenha montado um governo para saquear o país ou promover o nepotismo como política oficial. Não haveria recursos, tempo e sequer mão de obra para, ao mesmo tempo, reduzir espetacularmente a miséria, redistribuir renda e estimular o desenvolvimento econômico. A transferência de significado dos reais ilícitos administrativos para deliberadas intenções políticas se deve ao exercício do poder desestabilizador da grande mídia. Não consta de nenhuma apuração jornalística nem faz qualquer sentido no contexto geral das eleições. Mas é recorrente no Brasil. Assim aconteceu em 1950, 1954, 1960, 1964, no século passado, e em 2002 e 2006, no atual. Ao contrário de épocas pretéritas, todavia, suspeito que esse poder desestabilizador agoniza e, por isso, esperneia.

Tudo começou, creio, com a decisão do então presidente Fernando Henrique Cardoso de criar o Ministério da Defesa, entregando seu comando a um civil. O grande economista Inácio Rangel sorriria ao verificar que, mais uma vez, teria que ser um membro da elite a tomar medidas bastante ousadas. Fernando Henrique, candidato preferencial que fora da oficialidade militar, fez, sem susto, o que Lula, certamente, não teria condições de fazer, à época. Firmou-se constitucional precedente e a sucessão de ministros naturalizou a condição civil do cargo. Despreocupado com problemas de soberania, contudo, Fernando Henrique levou as Forças Armadas à mesma dieta do resto do funcionalismo público e das instituições do Estado, fazendo-as raquíticas, quando não as esfacelando. Outra vez, coube agora ao ex-espantalho Lula, comprometido com a recuperação do povo e da soberania nacional, re-incorporar as Forças Armadas à sociedade e integrá-las em projeto comum. Hoje, nem o Exército nem as demais forças militares estão em busca de identidade, como diria o sociólogo Edmundo Campos, distinta da identidade dos demais segmentos do país. Não obstante resquícios de privilégios, preconceitos e temores herdados de passado nem tão remoto, o entendimento entre as instituições civis e militares se manifesta na total discrição e profissionalismo com que os responsáveis pelos comandos armados têm agido de tempos para cá. Na verdade, o que está fugindo ao poder desestabilizador da grande mídia são os olhos e ouvidos militares. Ela nunca interpretou, fora raros momentos, o sentimento da maioria da população, valham as sucessivas derrotas de seus candidatos como recibo da afirmativa. Mas vociferava aboletada em tanques. Hoje, resta-lhe o potencial para assassinatos de caráter - algo ainda terrivelmente assustador. Tímidas tentativas de se aconchegarem aos bivaques, entretanto, diria o marechal Castelo Branco, têm sido apenas patéticas.

A influência dos meios de comunicação nos processos eleitorais é inteiramente normal em democracias. Inevitável, ademais. Perigoso é quando, além da malícia retórica, o poder desestabilizador busca se realizar, irresponsável, pela mão de terceiros. Isso, parece, está fora de cogitação. A propósito, em 2012 o opúsculo "Quem Dará o Golpe no Brasil?" completará cinquenta aninhos.

E para não dizer que não falei de flores: o poder desestabilizador se concentra, hoje, nesse fóssil institucional que é a Justiça Eleitoral.

Wanderley Guilherme dos Santos integra a Academia Brasileira de Ciências/Universidade Candido Mendes