FAZES-ME FALTA
Daqui, desta Lisboa de onde vos escrevo, o escritor Alexandre O'Neill, que morreu no dia 21 de agosto de 1986, faz-nos muita falta. É um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos. Em Portugal, divulgou a obra de Vinicius e quando lançou a sua obra completa, em 1982, teve a seu lado João Cabral de Melo Neto.
Durante muitos anos a crítica esqueceu-o, os jornais não falavam dele e temo que aí, pelo Brasil, a memória dele também se tenha perdido.
Por cá, as coisas recompuseram-se. A Assírio & Alvim tem reeditado a sua obra e, na Dom Quixote, saiu "Alexandre O'Neill - Uma Biografia Literária", de Maria Antónia Oliveira.
O poeta sabia que um dia andaria alguém a espiolhar-lhe a vida e escreveu o poema: "Diz-lhe que estás ocupado/ a entrevistar-te a ti mesmo/ mesmo porque se não/ o pões desde já porta/ fora estás quilhado vai/ espiolhar-te apalpar-te/ meter-te o dedo no cu/ querer saber a quantas/ quais mulheres ofereceste/ teu recortado coração (pelo picotado)/ em quantos quais sonetos meteste/ o quatorze e quantas quecas/ te saíram pela ejaculatra/ e ainda que livros levarias/ para uma ilha deserta [...]".
Escreveu fados para Amália e vivia do dinheiro que lhe dava a publicidade. É dele o famoso "slogan" que ficou para a história e faz parte dos dicionários de provérbios portugueses: "Há mar e mar, há ir e voltar".
Inventou a frase numa noite. Tranquilamente em sua casa, O'Neill sentou-se em frente da sua velha máquina de escrever e tac, tac, tac, saiu-lhe essa frase extraordinária. Um homem que escreve "Digo-te adeus/ e como um adolescente/ tropeço de ternura/ por ti" não é igual aos outros. Não pode ser. Se forem para a tal ilha deserta, por favor não se esqueçam do homem que tropeçava de ternura por nós.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
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