Museu de Nova York exibe projeto em favela do Rio numa mostra sobre soluções para populações carentes
Gilberto Scofano
Entrega dos primeiros apartamentos do PAC em Manguinhos
Fernanda Godoy* e Célia Costa – O Globo
RIO e NOVA YORK. Onze projetos de arquitetura que atendem a habitantes de comunidades pobres, imigrantes e vítimas de exclusão social, entre eles os moradores do Complexo de Manguinhos, no Rio, ganharam o espaço nobre das galerias do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, e estão mostrando ao mundo visões inovadoras de urbanismo para populações carentes. O curador da exposição, o alemão Andres Lepik, admite que até os arquitetos selecionados ficaram surpresos ao serem convidados para expor trabalhos em um lugar que viam como elitista.
Um dos trabalhos escolhidos para a exposição “Escala pequena, mudança grande — novas arquiteturas de engajamento social” foi a Rambla de Manguinhos, dentro do Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC), desenvolvida pelo arquiteto argentino Jorge Mario Jáuregui, da Metrópolis Projetos Urbanos.
Envolvido com projetos em favelas desde 1993, Jáuregui desenhou uma estação de trem suspensa sobre uma estrutura de concreto, com uma grande área de lazer e recreação. O objetivo dele é integrara comunidade e combater a exclusão social dos moradores.
No vídeo que acompanha os desenhos e as fotos apresentados no MoMA, o arquiteto aparece percorrendo a comunidade a pé, conversando com os moradores. Jáuregui destaca que é preciso primeiro entender a estrutura do problema, para depois propor a solução.
Foi essa exatamente a abordagem que o museu buscou. Um critério fundamental para a seleção, em um processo que durou quase um ano, foi o de que os projetos já tivessem sido executados ou estivessem em andamento.
— Todos os arquitetos selecionados são pessoas com um profundo conhecimento da comunidade onde trabalham.
Não são pessoas que fazem uma visita de duas semanas e elaboram um projeto.
Queríamos mostrar trabalhos que tratassem dos problemas reais do mundo de hoje, não de debates acadêmicos ou da discussão de ideias — diz Lepik.
*Correspondente do Globo
Rambla também será tema de evento na Bélgica
Vice-governador diz que obras terão um grande impacto social
Inspirado na rambla de Barcelona, uma bela rua para passear, o projeto da Rambla de Manguinhos também será exposto no Festival Europalia, que vai acontecer na Antuérpia, na Bélgica, em setembro de 2011. Para Jorge Mario Jáuregui, a repercussão de seu trabalho é o reconhecimento de 15 anos dedicados ao urbanismo social. Na Antuérpia, no entanto, a exposição será da obra já concluída.
A foto de apresentação, segundo ele, mostrará pessoas usando a rambla.
— Será uma rua de pedestre com automóveis “domesticados”, obrigados a se comportar e a respeitar os pedestres.
É um projeto que mostra que as questões social e estética estão juntas — analisou Jáuregui.
O vice-governador Luiz Fernando Pezão ressaltou a importância do impacto social que as obras vão causar na comunidade.
— O projeto de Manguinhos leva urbanização e segurança à linha férrea. As ideias são fantásticas e todas serão premiadas. Também já são finalistas do prêmio de melhores práticas no aspecto social, que acontecerá em Dubai — disse o vicegovernador.
Teleférico em Caracas também está na mostra
No MoMA, o projeto de Manguinhos está na mesma sala daquele que conta a experiência da implantação de um teleférico em favelas de Caracas, um dos projetos sociais mais conhecidos do governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Em Bangladesh, na Ásia, e em Burkina Faso, na África, os projetos destacados são os de construção de escolas com materiais locais. Já na França, trata-se de outro tipo de tentativa de inclusão social: a dos imigrantes, com a remodelação de um prédio modernista na periferia de Paris.
Também há projetos habitacionais no Líbano, no Chile e nos Estados Unidos, próximo à fronteira com o México. A exposição tem uma área para quem quiser explorar melhor os projetos pela internet, em sites que podem ser acessadas por qualquer um, como o da Open Architecture Network ( www.openarchitecture-network.org).
Para Andres Lepik, a arquitetura pode servir como um ponto de partida para projetos mais amplos de transformação social, e o MoMA, como instituição, é uma boa plataforma para esse debate.
— A arquitetura não é uma forma de design dirigida a 2% de privilegiados — diz o curador.
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