terça-feira, 19 de outubro de 2010
Wim Wenders desembarca no Masp
Cineasta alemão expõe fotos inéditas e é homenagea do na Mostra Internacion al de São Paulo
Carlos Cecconello/Folhapress
Wim Wenders, 65, na escadaria do Masp, no último domingo
JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se é na estrada que se passa boa parte dos filmes de Wim Wenders, é também a ela que o cineasta alemão recorre para criar imagens que não se movem.
Para a exposição de fotografias que abre amanhã e fica em cartaz até janeiro no Masp, "Lugares, Estranhos e Quietos", ele percorreu sítios distantes como a Armênia, o Brasil, a Austrália e o Japão em busca de segredos que apenas seu olhar viajante poderia desvelar.
O homem que, ao lado de Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog e Volker Schlöndorff ajudou a reerguer o cinema alemão após a Segunda Guerra Mundial é ainda um dos homenageados da 34ª Mostra Internacional de Cinema, que começa nesta sexta e se encerra em 4 de novembro.
Wenders, 65, produziu um dos cartazes desta edição do festival -o outro leva a assinatura do diretor japonês Akira Kurosawa (1910-1998), que também ganha homenagem por seu centenário.
Ele traz a São Paulo uma seleção com o melhor de sua produção: há o deserto vasto de "Paris, Texas" (1984) , a solidão angelical de "Asas do Desejo" (1987) e "Um Filme para Nick" (1980), em que registra a morte de Nicholas Ray (1911-1979).
Mostra ainda pela primeira vez no Brasil a versão definitiva, editada por ele, de "Até o Fim do Mundo" (1991), com 280 minutos de duração. Wenders foi convidado pela organização para apresentar o filme, mas ainda não confirmou sua presença.
No momento, ele conclui um documentário sobre a bailarina e coreógrafa alemã Pina Bausch, que morreu subitamente vítima de um câncer, no ano passado.
O filme, idealizado há mais de 20 anos, foi feito inteiramente em 3D e deve estrear na Alemanha em 2011.
Fotos de cineasta envolvem em mistério imagens improváveis
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO
As imagens que o diretor alemão Wim Wenders apresenta a partir de amanhã em mostra no Masp (Museu de Arte de São Paulo) não têm nada a ver com seus longas.
Ao menos do ponto de vista da realização.
"Minhas fotos são um produto totalmente autônomo.
Viajo sozinho e no mínimo uma vez por ano para realizá-las. Às vezes, faço também imagens enquanto rodo um filme, mas nunca do set", disse Wenders à Folha, fazendo questão de caminhar e contar a origem de cada uma à reportagem.
As 23 imagens em exposição foram feitas em quase todos os continentes do planeta. Japão, Austrália, Armênia, Estados Unidos, Alemanha e Brasil são alguns dos países retratados por ele.
No entanto, ao contrário da obra cinematográfica, que sempre usa a identidade de cidades como parte essencial da trama -caso de Berlim, em "Asas do Desejo" (1987), ou de Los Angeles, em "O Fim da Violência" (1997)-, suas fotografias são misteriosas, dando poucas pistas de suas origens.
Há imagens de desertos na Austrália e nos EUA, grandes cidades como São Paulo ou Berlim, mas identificar cada local não é tão fácil.
A imagem paulistana, por exemplo, é uma panorâmica da cidade feita do alto de um edifício no centro, que tem em primeiro plano um maquinário verde, provavelmente para ventilação. Pequenas plantas crescem dentro deles. Aqui, vê-se como Wenders foge dos estereótipos de cartões postais.
Essa espécie de deslocamento pode confundir quem vir a imagem com os grafites da dupla Osgemeos.
"Essa foto é meio paulista, meio alemã", brinca Wenders, que explica ter feito a imagem em Wuppertal, na Alemanha, recentemente, enquanto preparava seu novo filme, "Pina".
Essa mescla de imagens de primeiro plano estranhas e quase irreais, colocadas em contextos de difícil identificação, segue praticamente em toda a exposição, como um improvável dinossauro no deserto de Mojave, na Califórnia.
Já outra diferença entre seus longas e suas fotos é que, enquanto no cinema Wenders usa o sistema digital, em suas fotografias, ele usa o analógico: "Nelas, não tem nada de efeitos especiais ou de manipulação digital".
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