domingo, 19 de dezembro de 2010

Balanço do PIG - fsp : Lula honrou boa parte dos compromissos assumidos numa trajetória épica

EDITORIAL
fsp
Saldo favorável

Prestes a encerrar seus oito anos de mandato, o presidente Lula apresentou quarta-feira um extenso balanço da gestão. Como era de esperar, o relato contém abundantes autoelogios, algumas fantasias e nenhuma autocrítica.
No entanto, ao observador isento o exame dos resultados durante os dois governos consecutivos indica um saldo muito favorável.
Político intuitivo, Lula descartou a tentação do manejo demagógico da economia. Manteve a política econômica responsável iniciada por seu antecessor e colheu os frutos dessa sábia decisão.
No período, a economia cresceu 37,3% (média anual de 4%). As exportações do país mais do que triplicaram. A inflação caiu de 12,5% para 5,6% ao ano. A taxa básica de juros reais também cedeu, de 15% para 6%. O desemprego foi reduzido pela metade. A dívida externa foi paga.
Seu governo foi beneficiado, é verdade, por um contexto internacional favorável. Apesar da crise financeira de 2009, o formidável dinamismo da China puxou o crescimento das principais economias emergentes, que nestes oito anos se expandiram até mais do que o Brasil.
Ainda assim notável, o progresso obtido não é imune a críticas. Lula não soube aproveitar a imensa popularidade acumulada para promover reformas que tornassem a economia mais competitiva e o Estado mais eficiente.
Impondo à sociedade uma carga tributária superior a um terço do Produto Interno Bruto, o Estado presta serviços em educação, saúde e infraestrutura que, apesar de avanços, continuam a ostentar má qualidade. Houve uma incrustação maciça de militantes na máquina federal, bastando ressaltar nesse sentido que os cargos de confiança aumentaram 50%.
Quanto aos costumes políticos, o desempenho foi deplorável. Para garantir hegemonia no Congresso, o governo utilizou expedientes escusos sob evidente beneplácito presidencial. O mais notório dos escândalos, o mensalão -revelado pela Folha em junho de 2005-, foi a ponta visível de um iceberg de ilegalidades impunes.
A política externa foi orientada pelo elogiável intento de ampliar a autonomia do país e sua influência no mundo. Sua consecução, porém, pecou por desnecessária proximidade com autocracias como Cuba e Irã e pela complacência para com outros violadores de direitos humanos.
Tais ressalvas não empanam o maior êxito do governo Lula, expresso numa relevante melhora nas condições de vida dos mais pobres. Isso deveu-se ao próprio crescimento econômico, mas também à expansão dos programas de transferência de renda, do crédito popular e do aumento real no salário mínimo. Em resultado, o estrato mais carente da população, aquele que recebe até R$ 140 mensais per capita, diminuiu de 33,3% do total em 2001 para 15,5% em 2008.
Apesar das ressalvas, o presidente Lula deixa o governo como estadista democrático que honrou boa parte dos compromissos assumidos numa trajetória épica.

CRESCIMENTO, AVANÇOS SOCIAIS E ESCÂNDALOS

João Brito - 14.out.2010/Folhapress

Presidente Lula é abraçado em Teresina, no Piauí, após discursar durante a entrega das obras de ampliação de um instituto educacional

O pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, 65, encerra seus oito anos na Presidência com 83% de aprovação, segundo o Datafolha. No pós-ditadura, nenhum presidente eleito diretamente deixou o cargo tão bem avaliado, o que se explica sobretudo pela melhora do emprego, da renda e de sua distribuição. Entre 2003 e 2010, foram criados 14 milhões de postos de trabalho com carteira assinada, e a classe C se tornou majoritária. A expansão da transferência de renda -pelas vias do Bolsa Família e do salário mínimo- e o estímulo ao crédito popular, ações do governo federal, contribuíram para o resultado.
O Brasil dobrou, para 4% ao ano, a média de alta do PIB das duas décadas anteriores, embora tenha crescido menos que quase todos os países emergentes relevantes. A dívida externa foi superada, graças à pujança da economia mundial, em especial a chinesa, que impulsionou as exportações brasileiras.
Educação e saúde não evoluíram no mesmo ritmo. O Brasil, que subiu quatro posições e é hoje a 8ª maior economia do planeta, registra quase 1 milhão de casos de dengue. Seus alunos ocupam a 53ª posição em leitura e a 57ª em matemática no principal teste internacional de desempenho, que avaliou 65 países.
Não mudaram os costumes políticos, como se viu no mensalão. Os escândalos derrubaram a cúpula do PT e alguns dos auxiliares mais próximos do presidente. Abriram caminho para a tutela personalista de Lula no segundo mandato, o que culminou na imposição da candidatura de Dilma Rousseff, neófita em eleições.
A 40ª presidente herda de Lula um país socialmente mais inclusivo e dinâmico, além de mais destacado no cenário internacional. Recebe também serviços públicos de qualidade medíocre, a despeito da elevada carga de impostos, bem como desequilíbrios crescentes nas despesas do governo e nas contas externas

4 EM CADA 5 BRASILEIROS CONSIDERAM O GOVERNO LULA ÓTIMO OU BOM

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

Luiz Inácio Lula da Silva chegou lá: aos 65 anos, sairá do Palácio do Planalto no dia 1º como o mais bem avaliado ocupante daquela cadeira entre todos os eleitos pelo voto direto pós-ditadura. Está com 83% de aprovação popular.
O Datafolha apurou a popularidade de Lula em uma pesquisa realizada de 17 a 19 do mês passado, em todo o país, com 11.281 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Para 13% dos brasileiros, Lula faz um governo regular. Apenas 4% classificam a administração federal do PT como ruim ou péssima. A magnitude da aprovação de Lula torna-se mais impactante se comparada com as dos antecessores.
Fernando Collor deixou o cargo em 1992, após um processo de impeachment, com meros 9% de aprovação.
Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil por oito anos. Debelou a inflação, criou o real e estabilizou a economia. Ainda assim, deixou o Planalto com 26% de aprovação -57 pontos percentuais abaixo de Lula.
Uma curiosidade: o presidente classificado em segundo lugar como o mais popular ao sair do cargo depois do retorno das eleições diretas foi Itamar Franco. Só que ele não foi eleito. Herdou a cadeira de Collor, em1992, pois era o vice. Ao passar o cargo a FHC, em 1995, Itamar era aprovado por 41%.
O Datafolha também quis saber se as pessoas acham que o Brasil está melhor, igual ou pior depois de oito anos sob Lula. O resultado é quase idêntico à popularidade do petista: 84% acham que o país está melhor.
Já com FHC ocorreu uma assimetria. Embora 35% dissessem em 2002 que o Brasil estava melhor depois de oito anos administrado pelo tucano, só 26% o aprovavam. Outro presidente civil do período pós-ditadura foi José Sarney. Eleito de forma indireta, ele governou o país de 1995 a 1990,mas o Datafolha não fez pesquisas nacionais naquele período.

MENSALÃO
O pior momento de Lula nos oito anos se deu em dezembro de 2005. Sofria os efeitos do mensalão-um esquema no qual congressistas recebiam dinheiro em troca de apoio ao governo. Na época, segundo o Datafolha, só 28%achavam o governo Lula bom ou ótimo.
A taxa de ruim ou péssimo era de 29%, e 41% classificavam a gestão como regular.
Em 2006, Lula se recuperou. Foi reeleito presidente. Manteve certa estabilidade até 2007.De 2008 em diante veio a arrancada, batendo vários recordes de aprovação.
A crise econômica mundial de 2009 foi só um soluço na popularidade de Lula.Sua taxa recuou cinco pontos no primeiro trimestre daquele ano, de 70% para 65%.Mas o petista entrou em 2010 já com 73%. Expandiu esse percentual até os atuais 83%.

PIOR E MELHOR
Numa lista montada de maneira espontânea na pesquisa Datafolha sobre o que não vai bem no governo Lula, 23% apontaram o sistema de saúde. A segurança pública vem em segundo lugar, com 19%. Depois, educação, com 7%, e corrupção, 6%.
As áreas nas quais saiu-se melhor foram o combate à fome e à miséria (19%) e a condução da economia(13%).
O presidente petista vai bem no Brasil inteiro, mas há um descompasso entre as avaliações feitas por pobres e ricos. Ou entre Nordeste versus Sul e Sudeste.
Lula é aprovado por 67% dos ricos. Entre os pobres, a taxa vai a 84%. No Nordeste, 88% acham o governo Lula ótimo ou bom. No Sul, 77%.
No Sudeste, 79%. Essas mesmas diferenças, numa gradação um pouco diferente, surgiram nas urnas neste ano -quando Lula usou toda sua popularidade para ajudar eleger Dilma Rousseff como sucessora.


LULA DEU A PALOCCI 4 DIAS PARA SE LIVRAR DE CULPA

KENNEDY ALENCAR
DE BRASÍLIA

RESUMO
Apesar de ter sido informado de que Antonio Palocci Filho ordenara quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, Lula deu prazo de quatro dias para o ministro da Fazenda tentar um acordo pelo qual o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, assumiria a culpa. Lula queria demitir José Dirceu da Casa Civil desde março de 2004, nos desdobramentos do caso Waldomiro Diniz. Mas só agiu quando Roberto Jefferson enviou um recado na Câmara de que deixaria de preservá-lo se Dirceu permanecesse. Revelações como essas estarão no livro do repórter Kennedy Alencar sobre o governo Lula a ser lançado no ano que vem pela Publifolha.

Leia, a seguir, alguns trechos do livro.

BOMBA
A primeira grande crise do governo Lula começou no aniversário de 24 anos do PT, a sexta-feira 13 de fevereiro de 2004. Reportagem da revista "Época" revelava o vídeo no qual Waldomiro Diniz pedia propina, em 2002, ao empresário do setor de jogos Carlinhos Cachoeira.
Homem de confiança de José Dirceu e subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro fora filmado quando presidia a Loterj no Rio de Janeiro.
Na segunda-feira, dia 16 de fevereiro de 2004, Dirceu pôs o cargo à disposição em reunião com Lula e ministros. Pesquisa telefônica do publicitário Duda Mendonça mostrava que a maioria achava "importante" uma CPI no Congresso.
No começo da reunião, Dirceu surpreendeu ao sugerir que poderia sair: "Estou disponível". O ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) defendeu a permanência.
Palocci também.
Lula avaliou que a demissão equivaleria a confissão de culpa e enfraqueceria o governo. Fazia menos de uma semana que dissera que Dirceu era o "capitão" do time.
Em recente reforma ministerial, tirara atribuições políticas da Casa Civil e pedira ao ministro que priorizasse o gerenciamento dos ministérios, o que já era muito.
Depois, Lula soube que Dirceu desejava ficar. Antes da reunião em que pôs o cargo à disposição, ele havia pedido socorro a dois senadores: Antonio Carlos Magalhães, do antigo PFL baiano, e José Sarney (PMDB-AP). Ouviu deles que não deveria sair e que os três atuariam juntos para abafar a CPI.
Ao deixar o governo no mensalão, Dirceu se arrependeu de não ter ido embora no caso Waldomiro.

POR POUCO
Duas semanas depois, Lula mudaria de opinião. Na manhã de 2 de março de 2004, a Folha manchetava uma pesquisa Datafolha: "Maioria quer afastamento de Dirceu, mas poupa Lula".
Segundo o levantamento, 67% dos entrevistados queriam o afastamento do ministro- chefe da Casa Civil.
Naquela manhã, o ministro da Fazenda dera entrevista à Rede Globo para repetir pela enésima vez que a política econômica não mudaria.
Lula e Palocci estavam contrariados com ações de Dirceu para transferir parte da crise para a área econômica.
O ministro da Casa Civil estimulou documento do PT com crítica à notícia de queda de 0,2% do Produto Interno Bruto em 2003 -depois, esse número seria revisado para 1,1% de crescimento.
Por causa da entrevista, Palocci faltou à tradicional caminhada com Lula no Palácio da Alvorada. O ministro pediu a seu assessor Marcelo Netto que telefonasse para o Alvorada e perguntasse se poderia ir lá tomar um café.
Netto não localizou Freud Godoy, secretário particular do presidente. Falou com a telefonista. Ela consultou Lula, que autorizou a visita.
Sem camisa, de bermuda, passando manteiga no pão para dar à cadela Michelle, Lula discutiu a pesquisa com Palocci: "Precisamos pensar no afastamento do Zé Dirceu. A pesquisa foi muito ruim para ele".
Palocci concordou.
Os dois acertaram que tentariam convencer Dirceu a tirar licença e reassumir o mandato de deputado. No entanto, ao longo do dia,Dirceu teve um aliado inesperado.
Após prometer uma bomba, o senador Almeida Lima, então no PDT, fez um discurso vazio e deu argumentos a favor de suposta campanha para desestabilizar o governo derrubando Dirceu. Lula e Palocci recuaram.

ISOLAMENTO
Em março de 2005, José Dirceu tinha consciência de que perdera a proeminência política para Palocci. Numa conversa, na residência oficial da Casa Civil, na Península dos Ministros, no Lago Sul, desabafou enquanto tomava café com leite e comia torrada com mortadela. "O Palocci me disse no final do ano que já tinha pedido demissão cinco vezes ao presidente.
Filho da puta. Sempre consegue o quer."
Queixava-se também da indicação de Romero Jucá para ministro da Previdência. "O PMDB está indicando, mas é ladrãããooooo", falou, com o característico sotaque do sul de Minas Gerais. Jucá durou quatro meses como ministro, mas, hábil conhecedor do Congresso, virou um líder do governo no Senado útil durante todo o resto do governo.
Dirceu criticava Lula: "É conservador. Esse pessoal do sindicalismo do ABC sempre teve casa, carro. Não é como o pessoal que viveu clandestino na ditadura. O Lula fala cada coisa. Quando fala em família, fico me controlando para não rir. Já disse para o presidente que fiz a minha parte. Já tive três famílias".
A irritação era maior com Antonio Palocci. Em 2004, em um intervalo de 20 dias, o chefe da Casa Civil e o ministro da Fazenda tiveram dois embates pesados.
No dia 22 de novembro de 2004, Lula se reuniu com ministros do PT na Granja do Torto. O encontro fora planejado pelo presidente do partido, José Genoino, para discutir os resultados das eleições municipais de outubro. Mas a economia acabou virando o assunto principal.
Ministros atacaram os juros altos. "Enxugamos gelo", disse Dirceu. Quando Palocci começou a responder à crítica, Dirceu o interrompeu: "Palocci, aqui não tem nenhum imbecil para aceitar essa explicação".
O ministro da Fazenda se virou para Lula: "Assim não tenho como continuar". Lula o apoiou: "Está dando certo. O caminho é esse". A reunião acabou em constrangimento.
No dia seguinte, Antonio Palocci disse a Jaques Wagner, ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que Dirceu havia sido desleal: "Você poderia ter me inquirido daquele jeito. Ele não. Sabe de coisas que eu não posso falar. Sabe de coisas que só falo com ele e com o presidente. Anotei no meu caderno".
É revelador o desabafo de Dirceu sobre outro encontro, a reunião ministerial de 11 e 12 de dezembro de 2004: "No final do ano, não engoli o desaforo.
O Lula ficou elogiando o Palocci. Até aí, tudo bem. É duro de engolir. Tava todo mundo lá bebendo, relaxando. Mas, depois, começou a elogiar o [Henrique] Meirelles [presidente do Banco Central]. Fechei a cara.Todo mundo foi ficando preocupado.
O Jaques [Wagner] me passou a palavra. Eu disse: 'Bom Natal, feliz Ano Novo e boa noite'. Foi o fim''.

NA MARRA
Lula sempre teve uma relação fria com Dirceu.
Mas reconhece seu papel fundamental na vitoriosa estratégia de chegar ao poder com a guinada do PT ao centro na política e na economia.
Também considera que Dirceu paga um preço mais alto do que sua culpa pelo mensalão: "Ele não pode nem sair de casa. Não pode andar de avião que é ofendido, como se fosse bandido".
Quando Jefferson destampou a panela de pressão do mensalão, Lula ficou atordoado.
Reservadamente, responsabilizava Dirceu, que queria cuidar do gerenciamento do governo e da articulação política, mas não dava conta do recado.
Dirceu culpava Lula pelo veto à aliança com o PMDB na formação do governo, em dezembro de 2002, o que o obrigou a fazer composições políticas no varejo com o pior do Congresso.
Em 12 de junho de 2006, um domingo, Jefferson deu à Folha a segunda de três entrevistas demolidoras. Nela, bombardeou a cúpula do PT, mas resguardou Lula. "Várias vezes conversei com o [José] Genoino [presidente do PT] e com o Delúbio [Soares, tesoureiro do partido] no gabinete do ministro Zé Dirceu", disparou.
No mesmo dia, Lula convocou Dirceu para uma reunião na Granja do Torto. Dirceu chegou às 18h. Lula foi claro: "Isso não vai parar se você não sair". O presidente defendeu um afastamento temporário que ambos sabiam definitivo. Lula dizia que o governo estava paralisado com um chefe da Casa Civil que tinha de se explicar permanentemente.
Dirceu resistiu. Voltou a falar em "confissão de culpa". Presente, José Genoino lhe deu apoio. O presidente cedeu: "Vamos esperar um pouco mais".
Jefferson socorreria Lula em breve. Na terça, dia 14 de junho, no Conselho de Ética, o presidente do PTB disse: "Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, vai fazer réu um homem bom, o presidente Lula". Recado entendido, Lula reuniu de emergência 16 ministros no dia seguinte.
Avaliação unânime: repercussão péssima do depoimento de Jefferson,mas Lula havia sido preservado. Naquela tarde, Lula conversou com Dirceu. "Não dá mais." O chefe da Casa Civil negociou a saída para a manhã seguinte. Impediu Palocci de assumir a Casa Civil.
Bancou Dilma, então ministra das Minas e Energia. Isso explica a atenção que a presidente eleita dispensa a ele nos bastidores.

CONTRA O RELÓGIO
A queda de Palocci foi um golpe mais duro para Lula. Tempos depois, o presidente a enxergaria como positiva. Pôde afrouxar o rigor fiscal e monetário com menor resistência interna.
Grato pelo arrocho do primeiro governo, o que julga um dos fundamentos do sucesso de seus oito anos, Lula tirou Palocci do purgatório e o indicou para a Casa Civil de Dilma. Não foi a primeira vez que o ajudou.
Na tarde de 16 de março de 2006, no Palácio do Planalto, Palocci contou ao presidente da Caixa, Jorge Mattoso, que soubera que o caseiro Francenildo Costa havia recebido muito dinheiro. O caseiro dissera ter visto Palocci numa casa frequentada por lobistas em Brasília.
Palocci pediu para Mattoso averiguar a movimentação financeira do caseiro na conta da Caixa. De noite, Mattoso foi à casa do ministroe lhe deu o extrato.
No dia seguinte, sexta, o assessor de imprensa de Palocci, Marcelo Netto, passou o documento para "Época", que o publicou no blog da revista. Mas a versão do caseiro se sustentou: dinheiro do pai que hesitava em reconhecêlo como filho. Começava a ruína de Palocci.
Nos dias seguintes, em reuniões com colegas, Palocci negava ter dado a ordem de violação. Mas o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, tinha informações em sentido contrário. Para a Polícia Federal, Palocci era culpado. Dois assessores de Thomaz Bastos, que estiveram com Palocci na noite de 16 de março, convidados para uma reunião fora da agenda, responsabilizavam Palocci.
Mattoso foi explícito numa conversa com um auxiliar de Lula. Disse que Palocci fora o mandante.
Ciente disso, Lula chamou Palocci e Thomaz Bastos para beber um uísque 12 anos no gabinete presidencial no final da tarde de 23 de março.
Nessa conversa, Palocci admitiu ter pedido a Mattoso que levantasse informações sobre a movimentação financeira do caseiro, mas criticava a forma como o presidente da Caixa a efetuara e como o seu assessor de imprensa a divulgara. Palocci disse que não era para a ação ter sido feita daquele jeito.
"Palocci, sabe qual foi o teu erro? Foi ter mentido", disse Lula.Para o presidente, se tivesse admitido que fora à casa, o testemunho do caseiro cairia no vazio. Francenildo simplesmente jurava que vira Palocci na casa em que lobistas de Ribeirão Preto (SP), amigos do ministro, faziam festas com garotas de programa.
"A questão é a seguinte. Se até segunda essa coisa não tiver sido resolvida com o Mattoso, você vai ter de pedir demissão", advertiu Lula. "Ta bom", respondeu Palocci.
Nos próximos dias, o ministro da Fazenda tentou convencer Mattoso e Marcelo Netto a assumir a culpa pela violação e divulgação. Eles não aceitaram.
Na segunda 27, Thomaz Bastos deu a Lula informações do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Em depoimento à PF, Mattoso admitira ter dado a ordem interna na Caixa para quebrar o sigilo e imprimir um extrato. Contou que entregou o documento nas mãos de Palocci. Não disse que recebera ordem do ministro, mas não o inocentou, como queria Lula.
Na hora, o presidente telefonou para Palocci. Disse que ele teria de pedir demissão. O ministro tentou afastamento temporário. Lula refutou. Já escolhera o substituto: Guido Mantega, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Publicamente, Palocci sempre negou ter ordenado a violação e a divulgação do sigilo. Alega ter triturado o extrato em 17 de março de 2006 sem tê-lo visto. Netto sempre negou a divulgação.
Numa votação apertada em 27 de março de 2009, o Supremo Tribunal Federal rejeitou, por falta de provas, a denúncia do Ministério Público contra Palocci e Netto. O STF decidiu que Mattoso responderia a processo criminal na primeira instância

SUCESSÃO
LULA COGITOU APOIAR PALOCCI A PRESIDENTE

Dilma poderia ter perdido o lugar na fila para Lula em 2010. Em setembro de 2004, um amigo sugeriu que ele não tentasse a reeleição em 2006 e passasse essa missão a Palocci. Era um tempo pós-Waldomiro, mas pré-mensalão. Lula tinha dúvida se valia a pena um segundo mandato-ele achava que FHC errara em 1998. Lula concordou que Palocci seria o nome, mas brincou: "Será que ele deixa eu voltar depois?"

LULISMO É FENÔMENO POLÍTICO RECENTE E POLÊMICO

FERNANDO DE BARROS E SILVA
COLUNISTA DA FOLHA

O lulismo é um fenômeno recente. Mais novo que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002, quando ele se elegeu pela primeira vez, houve, na Folha, apenas quatro menções à expressão "lulismo" nas páginas do jornal. Em 2006, ano da reeleição, a palavra foi escrita 55 vezes. No ano passado, ela apareceu em 65 ocasiões. Neste ano, outras 128 até o final de novembro.
O lulismo está relacionado à consagração popular do presidente no segundo mandato. Mas vai além dela. Há quem o veja como sintoma de uma regressão política. Há quem o compare, a partir da empatia e do vínculo direto com as massas, ao getulismo -Vargas era o "pai do pobres". Isso aproximaria o lulismo da tradição populista.

Há, no entanto, quem discorde tanto da aproximação com Getúlio como do enquadramento populista. O significado político e o legado histórico do lulismo estão abertos e em disputa.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sociólogo de formação, vê diferenças importantes entre Getúlio e Lula: "O Lula passou a se dirigir aos pobres, mais do que aos trabalhadores organizados. Há nele um componente messiânico, um traço de Antonio Conselheiro, mais do que de Getúlio, que era um membro das elites dominantes e incorporou os trabalhadores à política por meio de sindicatos atrelados ao Estado, num contexto de expansão do emprego industrial".
Segundo FHC, "classe social" é uma categoria que "não entra na cabeça" de Lula: "O negócio dele é a mesa onde exercita a conciliação geral das classes. Para ele, todo mundo é companheiro".
O cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da FGV-SP, recusa a caracterização de Lula como político populista. Diz que o populismo não se define pelo apego à demagogia nem apenas pela liderança carismática: "A marca distintiva do populismo é o seu anti-institucionalismo. E Getúlio governou, de fato, por cima das instituições, destruindo várias e criando outras tantas, que formaram o arcabouço do Estado moderno e da burocracia pública brasileira".
Lula, lembra Couto, cometeu pecadilhos, como afrontar a legislação eleitoral, mas "nunca colocou sua liderança pessoal acima e à frente das instituições".

NOVA BASE SOCIAL
A discussão sobre o lulismo foi levada a um novo patamar pelo cientista político André Singer. Porta-voz de Lula no primeiro mandato e hoje professor da USP, ele publicou no final de 2009, na revista "Novos Estudos", do Cebrap, o ensaio "Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo", que logo ficou famoso.
Ali, identifica, durante a campanha de 2006, um deslocamento do eleitorado de baixíssima renda na direção de Lula, ao mesmo tempo em que setores das classes médias, historicamente simpáticos ao PT, dele se afastavam, impactados pelo escândalo do mensalão, que eclodiu em meados de 2005.
São dois, portanto, os fenômenos do que Singer chama de realinhamento eleitoral: a mudança da base social que vota em Lula e a desconexão, em 2006, entre as bases do lulismo e do petismo.
Se é verdade que o presidente, "só depois de assumir o governo, obteve a adesão do segmento de classe que buscava desde 1989" (quando Collor conquistou os "descamisados"), parece menos conclusiva a tese de que Lula e PT representam hoje segmentos sociais distintos.
Couto concorda com a análise de Singer, mas acredita que as bases do lulismo e do petismo tendem a se aproximar e mesmo a se confundir: "Isso em parte já aconteceu agora, na eleição de Dilma. E é o petismo que vai ser avaliado daqui em diante".
O lulismo, de qualquer forma, surge em 2006 sob os escombros do mensalão, que dizimou a cúpula do PT, lastreado no povão, como expressão política do que o economista Marcelo Neri, da FGV-RJ, chamou de "Real de Lula" -ou seja, a redução em torno de 20% das pessoas abaixo da linha da pobreza entre 2003-2005, índice semelhante ao obtido por FHC nos primeiros anos do Real.
As políticas de inclusão social (Bolsa Família, aumento do salário mínimo e expansão do crédito, além do avanço do emprego formal) convivem, sob Lula, com a defesa ortodoxa da estabilidade econômica, plataforma até então estranha ao PT. O lulismo, diz Singer, "uniu bandeiras que pareciam não combinar" ao "combater a desigualdade dentro da ordem".
Esse amálgama é o pulo do gato de Lula e corresponde, segundo o autor, a "nada menos que um completo programa de classe", a partir da construção de "uma substantiva política de promoção do mercado interno voltada aos menos favorecidos".
É claro que essa nova base social "lulista" se soma a setores organizados historicamente ligados ao PT, como o MST e as centrais sindicais, cooptados pelo governo pela transferência de recursos públicos em escala inédita.

VANGUARDA DO ATRASO
Singer, em grande medida, escreve contra o diagnóstico de Francisco de Oliveira, sociólogo que se desligou do PT ainda no primeiro mandato e para quem o "lulismo é uma regressão política, a vanguarda do atraso e o atraso da vanguarda".
Em 2007, num artigo chamado "Hegemonia às Avessas", ele escreve que Lula "despolitiza a questão da pobreza e da desigualdade" e "funcionaliza a pobreza", transformando-as "em problema de administração".
Segundo Oliveira, o lulismo "não é nada parecido com qualquer das práticas de dominação exercidas ao longo da existência do Brasil", o que o tornaria especialmente nocivo para a esquerda.
Essa é uma visão que foi amplamente derrotada. Nas palavras de Cláudio Couto, "o maior legado do lulismo é um novo regime de políticas públicas voltadas à redução da pobreza". Talvez fosse preciso acrescentar: e tê-lo feito sem contrariar os interesses dos mais ricos.

ANOS LULA SE DIVIDEM EM ANTES E DEPOIS DO MENSALÃO

RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL

FABIO ZAMBELI
DO PAINEL

Foram dois mandatos, mas o marco divisório dos oito anos da era Lula é outro: antes e depois do mensalão.
Revelado em junho de 2005, o escândalo derrubou o principal ministro do governo, dizimou a cúpula do PT e inaugurou uma temporada turbulenta de CPIs que, um ano mais tarde, viria a ceifar o outro polo de poder na Esplanada.
Reeleito e escaldado, o presidente reconfigurou sua base de sustentação no Congresso Nacional, incorporando oficialmente o PMDB, e impôs a seu partido não apenas a candidatura de Dilma Rousseff como todas as concessões necessárias para elegê-la.

O termo mensalão entrou para o vocabulário político brasileiro na primeira entrevista dada à Folha pelo então deputado Roberto Jefferson. Presidente do PTB, ele se vira exposto, semanas antes, num caso de corrupção miúda e explícita nos Correios.
Convencido de que o Planalto o escolhera como bode expiatório de uma batalha por espaço na estatal, Jefferson, que havia pouco tempo recebera Lula para jantar, foi ao ataque, acusando o PT de operar, sob as ordens de José Dirceu na Casa Civil, um esquema de pagamentos a parlamentares aliados. "É mais barato pagar exército mercenário do que dividir poder."
A segunda entrevista introduziu no noticiário o nome de Marcos Valério Fernandes de Souza, o pagador do mensalão. Apresentado como "publicitário", ele na verdade atuava como captador, intermediário e distribuidor de dinheiro, maximizando, em parceria como tesoureiro petista, Delúbio Soares, papel que desempenhara no governo do tucano Eduardo Azeredo em Minas.
As entrevistas deram início a um período de baixas sequenciais. "Sai daí rápido, Zé", disse Jefferson em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara. E José Dirceu saiu, não sem antes afirmar: "Nada fiz, à frente do PT ou da Casa Civil, de que Lula não estivesse informado".

OS DEGOLADOS
Do PT foram degolados, além de Delúbio, o presidente, José Genoino, e o secretário-geral, Sílvio Pereira. Todos em pouco tempo e obedecendo ao mesmo roteiro de negação-evidência-queda.
Na terceira e última entrevista, Jefferson apontou o diretor de Operações de Furnas, Dimas Toledo, como arrecadador de recursos para políticos de diversos partidos. Esse caiu no mesmo dia.
A crise atingiu seu momento mais agudo em 11 de agosto, quando o marqueteiro Duda Mendonça admitiu à CPI dos Correios ter recebido de Valério, num paraíso fiscal, R$ 15,5milhões relativos à campanha de 2002.
O presidente -que, segundo Dirceu, hoje estaria disposto posto a ajudá-lo a desmontar "a farsa do mensalão"- recorreu a um pronunciamento em cadeia nacional: "Eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia e chocam o país".
Indagado em várias ocasiões, Lula jamais esclareceu por quem teria sido traído.
A aprovação ao governo mergulhou para 31% no Datafolha publicado um dia depois do depoimento de Duda e até 28% em outubro (hoje, são 83% os satisfeitos).

DEIXA SANGRAR
Foi também nessa altura que a oposição arquivou a ideia de um pedido de impeachment, apostando em "deixar Lula sangrar" até a eleição do ano seguinte.
Do lado do governo, já estava em execução a estratégia concebida por Márcio Thomaz Bastos (fato negado pelo ex-ministro da Justiça): reduzir o dano a crime eleitoral. Tratava-se de martelar a tecla de que não teria havido corrupção, mas apenas caixa dois -"recursos não-contabilizados", no eufemismo cunhado por Delúbio- para financiar campanhas. Algo que "todo mundo faz".
Jefferson foi cassado em setembro. Dirceu, em dezembro. Entre as duas votações e ao longo de 2006, 12 deputados que receberam dinheiro vivo do esquema, um deles o ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (PT-SP), foram absolvidos por seus pares. Um perdeu o mandato (Pedro Corrêa, PP-PE). Quatro renunciaram para escapar.
No final de 2005, eram visíveis os primeiros sinais de que o ano eleitoral seria diferente do sonho da oposição.
Em 1º de janeiro, Lula concedeu ao "Fantástico", da Rede Globo, entrevista na qual buscou circunscrever a crise ao assunto caixa dois e projetar a recuperação de sua popularidade na esteira do crescimento econômico. "Meu papel é cuidar deste país, dizer à população que a economia vai crescer e que temos a oportunidade única de sair da condição de emergente para desenvolvido."
Entre janeiro e fevereiro, pesquisas começaram a captar a inversão da curva.
Em abril, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, apresentou ao STF denúncia contra 40 pessoas envolvidas na "sofisticada organização criminosa", Dirceu à frente do "núcleo principal da quadrilha". Hoje, 38 respondem por crimes como peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha e evasão de divisas.
A notícia não interrompeu a rota ascendente de Lula, tampouco afetada pela saída, no final de março, do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no episódio da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Terminou em agosto passado a etapa de depoimentos do processo do mensalão, relatado no STF pelo ministro Joaquim Barbosa. A expectativa é que o julgamento ocorra até o final de 2011.
Com Dilma eleita, o presidente voltou a falar sobre o mensalão, retomando o discurso de que tudo não teria passado de "tentativa de golpe". Como isso o aproxima da causa de Dirceu e dos demais petistas pendurados no Supremo, há quem enxergue no movimento o embrião do projeto Lula 2014.
Seja como for, não faltam vozes a desautorizar essa narrativa, a começar pelo futuro ministro da Justiça. Em 2008, na condição de ex-integrante da CPI dos Correios, o deputado petista José Eduardo Cardozo declarou: "Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para aliados? Teve. É ilegal? É. É indiscutível? É. Não podemos esconder esse fato da sociedade".


APÓS DOIS MANDATOS, LULA DEIXA REFORMAS PARA DILMA

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

No primeiro discurso com a faixa no peito, o presidente Lula afirmou, no Planalto, que "nenhum momento difícil" o impediria de fazer "as reformas que o povo brasileiro precisa".
Oito anos depois, ele descerá a rampa do palácio longe de cumprir a promessa. Deixará para a sucessora, Dilma Rousseff, o desafio de modernizar a Constituição nos campos político, previdenciário, tributário e trabalhista.
O programa que levou o PT ao poder, em 2002, serve como inventário das ideias esquecidas. Do financiamento público de campanhas ao fim da guerra fiscal, quase todas ficaram na gaveta.
Sobre as mudanças, só há um consenso: sem elas, será difícil manter o país na rota do crescimento.

Entre a posse em 2003 e a despedida em 2010, o governo promoveu seminários, criou grupos de trabalho e enviou ao Congresso diferentes propostas de reformas.
No entanto, as iniciativas esbarraram em lobbies contrários, na desarticulação dos aliados e na falta de vontade política do próprio Lula, que deixou de tratar o tema como prioridade depois de garantir a reeleição.
Em seu primeiro ano, a administração petista chegou a aprovar a versão inicial de duas reformas: a tributária, que visava eliminar a cumulatividade de impostos sobre a produção, e a da Previdência, que propunha, para os servidores públicos, um teto de aposentadoria equivalente ao do setor privado. Mas os textos ficaram aquém do script original e não tiveram a continuação prevista.
Em outros campos, o fracasso foi maior. Para formular a reforma sindical, o governo chegou a montar um fórum de 600 integrantes, que levou dois anos para encaminhar relatório à Câmara. O texto nunca foi votado.
A reforma política, sempre defendida nos discursos presidenciais, também ficou fora da pauta parlamentar. Foi trocada por duas minirreformas eleitorais e pelo ativismo do Judiciário, que instituiu a fidelidade partidária.
Entre aliados, a avaliação é que o escândalo do mensalão, em 2005, selou o abandono das mudanças. O deputado Maurício Rands (PT-PE), ex-líder do partido na Câmara, vê o episódio como decisivo: "A crise do mensalão estagnou o curso das reformas. Depois disso, a oposição se radicalizou e o governo canalizou toda a energia política para se defender".
No segundo mandato, os projetos de reformas perderam espaço para os investimentos de infraestrutura do PAC e os programas sociais.
O governo chegou a apresentar uma minuta de reforma política no ano passado, mas ela também não foi à frente. Agora, o presidente diz que se empenhará fora do poder para aprová-la.
No mesmo tom da posse de Lula, o programa de governo apresentado há oito anos anunciava um ambicioso "programa de reformas".
A reforma tributária previa a unificação das alíquotas de ICMS dos Estados e o imposto sobre grandes fortunas. No campo trabalhista, o PT se comprometia a dar fim às contribuições obrigatórias. E, na Previdência, a acabar com as distorções entre os setores público e privado.
"À medida que a população envelhece, a reforma fica mais urgente", alerta o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio. "Todos concordam que o sistema atual é inviável. A pergunta é se a Dilma vai pagar o preço necessário para mudá-lo."
A exemplo de Lula, a presidente eleita caprichou nas promessas durante a campanha deste ano. Chegou até a fixar prazo de cem dias para a reforma tributária.
Mesmo que se empenhe, enfrentará a oposição dos Estados produtores, já que a cobrança do ICMS será feita nos Estados consumidores. "É o problema de toda reforma no Brasil", diz Rands. "No começo todo mundo é a favor. Já na hora de votar..."

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