quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

fsp - Lula enaltece seu governo e afaga Dirceu

Lula enaltece seu governo e afaga Dirceu

Em evento para 800 pessoas, presidente agradece ex-ministros e prevê que Brasil será 5ª economia em 2016

Balanço de realizações com 2.200 páginas foi registrado em cartório; petista cita aprovação de 80% e elogia Alencar

LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA

Diante de cerca de 800 convidados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enalteceu feitos de seu governo, afagou o ex-ministro José Dirceu, demitido no mensalão, e previu que, sob Dilma Rousseff, o país será a quinta economia do mundo.
A duas semanas de deixar o governo, Lula reuniu ministros, ex-ministros, sindicalistas e governadores para apresentar um balanço -registrado em cartório- de realizações de 2.200 páginas.
Lula agradeceu aos ex-colaboradores por suas "contribuições extraordinárias". Além de Dirceu, citou nominalmente Marina Silva (PV), que deixou a pasta de Meio Ambiente em 2007, após atritos com Dilma, então ministra-chefe da Casa Civil.
A candidatura de Marina pelo PV acabou empurrando a eleição para o segundo turno e adiando a vitória de Dilma sobre José Serra (PSDB).
Lula disse que todos são "sempre ministros". "Nós juntos passamos por momentos difíceis e por momentos gloriosos".
"O dado concreto é que a somatória dos erros e acertos que possamos ter cometido dá uma síntese -vamos terminar nosso mandato com mais de 80% de aprovação."
Para os que avaliam o governo como ruim ou péssimo, Lula pediu que entendam que "errar é humano".
A maior homenagem foi para o vice, José Alencar, que está em tratamento contra câncer. "Duvido que algum governante tenha um vice melhor. Nós provamos que um grande empresário e um médio sindicalista se juntaram e fizeram pelo Brasil o que muitos outros pensavam que sabiam e não fizeram."
Dilma, que foi ao evento como ex-ministra, chegou a ser mais aplaudida que Lula.
O presidente citou a sucessora várias vezes, afirmando que o país deverá subir para o posto de quinta maior economia do mundo até 2016, no que depender de "dona Dilma" e "dom Guido". O Brasil ocupa hoje a oitava posição.
As escolhas da eleita, segundo o petista, são "da cabeça dela", e não ordens. Ele afirmou que os ministros que ficarão no governo são "muito mais amigos" de Dilma.

Dados da Educação desmentem balanço

Documento diz que matrículas e qualidade do ensino médio subiram, o que diverge de informações do próprio MEC

Balanço, dividido em seis volumes, ignora o mensalão, maior escândalo de corrupção dos 8 anos de governo

DE SÃO PAULO
DE BRASÍLIA

O balanço oficial do governo Lula afirma, no item "educação", que houve "considerável aumento da matrícula" e "melhoria de qualidade no ensino médio". Dados oficiais do próprio Ministério da Educação, porém, divergem dessas conclusões.
Segundo o Censo Escolar, o número de alunos no ensino médio vem caindo: 9,1 milhões em 2003; 8,9 milhões em 2006; e 7,9 milhões em 2009 (último disponível).
Além disso, a qualidade nessa etapa está praticamente estagnada. O Ideb, indicador federal que vai de 0 a 10, mostra que o ensino médio do país foi de 3,4 em 2005 para 3,6 em 2009.
O balanço também cita a aplicação do Pisa, exame que avalia o nível de aprendizagem de jovens de vários países. Entre os piores do mundo, os resultados do Brasil não são apontados no texto.
O balanço, subdividido em seis volumes e que trata da macroeconomia ao combate à corrupção, ignora o maior escândalo de corrupção no governo: o mensalão.
No capítulo, são informadas várias ações investigativas do governo, entre elas as operações Sanguessuga e Vampiros, que foram feitas em ministérios. Mas as ações de investigação nos contratos de publicidade e nos Correios, que originaram a crise, foram ignoradas.
No capítulo econômico, o balanço destaca a expansão da renda, do emprego e do crédito, mas reconhece que a inflação e o deficit nas transações de bens e serviços com o exterior se elevaram no final da administração.
Na área energética, o governo ressaltou que foi feito um novo modelo de comercialização para o setor e houve a retomada do planejamento energético, o que assegurou a oferta de energia ao longo do mandato.
Sempre desprezada ou tratada por Lula como "entrave" ao progresso, a área ambiental acabou se tornando um dos setores em que seu governo teve mais a mostrar.
A maior conquista mencionada no balanço de governo é a redução de 53% na taxa de desmatamento.
As derrotas, porém, foram esquecidas. O governo federal não menciona o decreto do ano passado que permite a destruição da maior parte das cavernas do Brasil ou o adiamento da obrigação de fornecimento de diesel mais limpo.
Sobre a Política Externa, há referência ao acordo nuclear do Irã, selado com Brasil e Turquia. Porém o desfecho é omitido: o acordo não foi aprovado pela ONU

NÁLISE

Presidente esquece a Índia ao prever crescimento econômico

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A economia brasileira até poderia se tornar a quinta maior do mundo em 2016, como previu ontem o presidente Lula, não fosse a Índia no meio do caminho.
O Brasil vem ganhando posições no ranking de maiores potências -medidas pelo PIB (Produto Interno Bruto) nominal em dólares.
Estava no 12º lugar no início da década e alcançou o oitavo em 2009.
Nos últimos anos, a economia brasileira se tornou maior que a espanhola e a canadense e está quase encostando na italiana.
Mas o Brasil não está sozinho com países ricos -fortemente abalados pela crise global- nessa corrida.
Há muitos emergentes crescendo a ritmo mais forte que o Brasil há anos.
Entre eles, a Índia-11ª maior economia em 2009, mas que deverá crescer acima de 8% nos próximos anos, contra projeções de 4,5% a 5% para o Brasil.
Nesse ritmo, a Índia deverá passar o Brasil -e outros - nos próximos anos. Com a perspectiva de continuação do crescimento medíocre na Europa, a economia brasileira poderá até desbancar a francesa e a britânica.
Mas ainda assim chegaria em 2016 em sexto lugar, atrás de EUA, China, Japão, Alemanha e Índia.
Mesmo que Lula erre sua previsão, se tudo correr bem, baterá na trave. Além disso, quinta ou sexta maior economia estaria de bom tamanho para um país com histórico nada longínquo de crescimento fraco e errático.
Resta saber, se o Brasil realmente chegará lá. Paira no ar a dúvida se o novo governo adotará medidas que garantam crescimento entre 4,5% e 5%.
Riscos a esse desempenho -de infraestrutura deficiente e recente excesso de gastos públicos a ambiente externo desfavorável- abundam.

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