domingo, 6 de dezembro de 2020

Descobrem na Argentina um manual da ditadura para espalhar notícias falsas

 “Notícias não verificáveis ​​criadas artificialmente são transmitidas, pretendendo representar eventos reais, circulando para um público-alvo selecionado e frequentemente comunicadas de forma imprecisa”.
Manual do “Gabinete do ódio”? Entreouvido numa reunião da Secom com youtubers? Estratégia não escrita de véspera eleitoral que ajuda a explicar tantas reviravoltas de última hora nas últimas eleições no Brasil?
Certamente também, mas o trecho acima, que algum dicionarista poderá aproveitar para melhor impossível definir as chamadas “fake news”, o trecho acima, dizíamos, consta em um documento chamado “Guia Para Planejamento de Ação Psicológica ‘S'”, datado de 1980 e da lavra da Side, famigerado órgão do aparato repressivo da ditadura argentina.
O “S” é de secreto. O jornal portenho Página/12 teve acesso ao documento, que acaba de ser encontrado na sede da Agência Federal de Inteligência da Argentina (AFI). Sente-se para ler as instruções da Side e aprecie as semelhanças com os modernos exércitos de trolls e disparos de Whatsapp:
Disseminar boatos baseados em preconceitos; difundir slogans sem autoria; espalhar memes, ou melhor, piadas ridicularizantes de oponentes; criar um clima de permanente desconfiança supersticiosa sobre a realidade; explorar a pornografia, no melhor estilo mamadeira de piroca.
“A chave está, a SIDE sabe, nas zonas cinzentas e em conhecer os humores sociais”, diz o Página/12, que pontua o fato de que o guia da “usina de notícias falsas” da Side foi impresso no momento em que a ditadura argentina passou a exportar seu “conhecimento” da repressão para outros países da região.
No rol de semelhanças com a desgraça hodierna, não falta sequer um clássico do fascismo à brasileira: “direitos humanos para humanos direitos”. O Página/12 lembra que em 1979, antes do manual e por ocasião de uma visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos à Argentina, a ditadura de Videla, Massera e Agosti fez circular o slogan “nós, argentinos, somos humanos e direitos”.
Se a ascensão da “nova direita” no Brasil está em grande parte ligada à reação de oficiais da ativa e da reserva das Forças Armadas aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, talvez o apreço e o apelo desta direita fascista às chamadas “fake news” tenham algum tributo a pagar a velhas juntas militares da mentira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário