sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os aliados e os inimigos do recesso

24/07/2009 06:23

Os aliados e os inimigos do recesso parlamentar

Feichas Martins [*]


BRASÍLIA [ ABN NEWS ] - O recesso parlamentar tem apenas dois aliados fiéis - a maioria dos parlamentares e dos funcionários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal - e muitos inimigos figadais, dentro e fora das duas Casas.

Os inimigos figadais se dividem em ocasionais - como os oposicionistas que estão querendo derrubar o presidente do Senado, José Sarney - e os inimigos permanentes - aqueles cujos interesses de toda ordem são prejudicados pela paralisação dos trabalhos do Congresso Nacional.

Basta verificar a imensa visibilidade na mídia, ávida por notícias, obtida pelos senadores Pedro Simon (PMDB-S), Cristovão Buarque (PT-DF) e Arthur Virgílio (PSDB-AM), ao insistirem na convocação do Conselho de Ética do Senado Federal para exame das denúncias contra Sarney.

É natural que o parlamentar tente explorar a carência de notícias provocada pelo recesso parlamentar. Basta ao deputado e senador que quiser explorar essa oportunidade aparecer, nos corredores das duas Casas, onde repórteres, fotógrafos, iluminadores e filmadores se plantam pacientemente à espera de uma "matéria", que, se aparecer, terá divulgação garantida e com destaque, tratamento que nem sempre ocorre durante o funcionamento normal do Legislativo.

Entre os inúmeros inimigos permanentes se destacam:

- o Poder Executivo, que fica exposto sozinho à opinião pública, deixando o Presidente da República e seu ministério no foco central da mídia e da população. É a versão do rei despido em público, sem o manto protetor do Parlamento;

- a imprensa ou a mídia em geral, que necessita de alimentar seus espaços noticiosos e publicitários e justificar os salários dos funcionários, entre os quais os repórteres destacados para a cobertura setorial do Congresso Nacional, pródigo em matérias jornalísticas;

- o lobby organizado das empresas nacionais e transnacionais, dos sindicatos e das associações atuantes junto ao Legislativo, que não tem como justificar sua presença em Brasília e, por conseguinte, suas diárias e verbas destinadas à atividade;

- as empresas de aviação, que perdem muitos passageiros entre parlamentares, lobistas, jornalistas e turistas que demandam a Capital da República;

- a rede hoteleira do Distrito Federal, literalmente atropelada pela paralisação dos trabalhos, principalmente no recesso mais longo de final de ano; e

- os clubes de serviços, as empresas de turismo, os restaurantes, os shoppings e o comércio em geral, seriamente afetados pela evasão dos habitantes em férias no trabalho e nos colégios e universidades.

A propósito das economias que estão sendo feitas pelo Senado e pela Câmara neste recesso, é salutar e necessário lembrar que produzir leis é um processo de altíssimo custo em qualquer país, sendo o preço da própria democracia representativa a garantia de que o Legislativo, em todos os níveis, sirva de estuário para as idéias, os anseios, os interesses e as reivindicações nacionais, sob pena de se instalar a anomia e a própria anarquia, ante-salas das autocracias e dos totalitarismos.


[*] Feichas Martins, articulita colaborador da ABN NEWS, é Jornalista, Mestre em Ciência Política pela UnB, Professor Universitário, Especialista em Planejamento Político-Estratégico e Consultor Político-Eleitoral, membro do Comitê de Ética e Liberdade de Expressão da Associação Brasiliense de Imprensa [ ABI-DF ] e da Federação Nacional da Imprensa [ Fenai ]

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