sexta-feira, 30 de julho de 2010

Campanha de Dilma cria G7 para centralizar decisões

Além da candidata e de Lula, cúpula inclui Dutra, Palocci, Franklin Martins, João Santana e Gilberto Carvalho

ANA FLOR
DE SÃO PAULO

A campanha petista ampliou há poucas semanas sua coordenação política para integrantes de partidos aliados, mas quem dá as cartas na estratégia eleitoral há pelo menos seis meses são apenas sete pessoas.
Sob a liderança do presidente Lula e a chancela da candidata Dilma Rousseff, a cúpula inclui o ex-ministro Antonio Palocci, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o publicitário João Santana, o ministro Franklin Martins (Comunicação Social) e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente.
Foi nos jantares semanais no Palácio da Alvorada que se decidiu as alianças nos Estados -Minas, por exemplo, consumiu horas de debates.
Na última reunião do grupo, dia 19 -ela não ocorreu nesta semana- ficou definido que o PT não iria entrar com representação no Conselho Nacional do Ministério Público contra a vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau.
Um dia após o encontro, tanto Dilma como Dutra já apresentavam um discurso mais ameno em relação ao episódio. Cureau fez críticas à participação de Lula na campanha presidencial.
Outra decisão tomada pelo núcleo é a agenda política do presidente durante a campanha, a agenda de Dilma e os compromissos em que ambos participariam juntos.
As reuniões se iniciaram no final de 2009 e desde fevereiro deste ano se tornaram semanais. O encontro ocorre em geral em um jantar no Alvorada no domingo ou na segunda. Entre terça e quarta se reúne o grupo ampliado, com outros petistas e aliados.

LULA
Os jantares são de conhecimento de líderes do PT. Petistas que não fazem parte do grupo justificam dizendo que essa é a única forma de Lula se envolver na campanha.
Desde o início da pré-campanha, quando Dilma começou a viajar pelo país, seus encontros com Lula, que também tem uma agenda de viagens intensa, são garantidos pelo encontro semanal.
As reuniões sempre têm uma análise de conjuntura, onde se debatem pesquisas e comportamento da oposição.
Segundo um líder petista, as reuniões começaram quando a aliança ainda não estava formalizada, por isso se restringiu ao PT.
Outro líder afirma que, com a entrada da coordenação política, que reúne representantes dos outros nove partidos, as decisões tendem a ficar "diluídas".
A principal consequência das reuniões do G7 é enfraquecer os demais grupos -além do conselho político, há a recém-criada "coordenação operativa". Aliados dizem estar insatisfeitos. Eles têm pouco acesso a Lula e Dilma não participa regularmente dos encontros.

G7 é ensaio de Lula para ter protagonismo

Presidente gostaria de ter Antonio Palocci e Gilberto Carvalho num eventual governo de Dilma Rousseff


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EX-TITULAR DA FAZENDA É COTADO PARA A CASA CIVIL; CHEFE DE GABINETE ASSUMIRIA OUTRO POSTO DA LINHA DE FRENTE
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KENNEDY ALENCAR
DE BRASÍLIA

O G7 da campanha de Dilma Rousseff é uma evidência de como deve ser visto com cautela o discurso de Luiz Inácio Lula da Silva de que será um ex-presidente que não dará palpite no governo da eventual sucessora.
Lula é o número 1 do G7. Escolheu Dilma sem discutir com o PT. Mais: dos integrantes do grupo, ele gostaria que dois fossem ministros do eventual governo Dilma.
Já falou que Antonio Palocci Filho, ex-ministro da Fazenda, seria um bom chefe da Casa Civil de Dilma.
E pediu ao seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, que permaneça no governo caso a petista seja eleita. Carvalho não ficaria em função tão próxima cotidianamente da candidata. O chefe de gabinete seria outro.
Carvalho é cotado para uma pasta na área social ou no Palácio do Planalto, como uma Secretaria Geral mais poderosa do que hoje.
O marqueteiro João Santana tem mais ligações profissionais e afetivas com Lula e Palocci do que com Dilma. Relaciona-se bem com a candidata, mas é homem da confiança de Lula.
O presidente, aliás, atua também como dublê de marqueteiro. Ensinou a candidata a ser mais natural no contato com o povo e a discursar andando de um lado para o outro no palanque. Até foto para divulgação já aprovou.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, é o quarto integrante do G7. Não era o preferido para presidir o partido. Conseguiu a posição porque Lula pediu a Carvalho que ficasse no governo. Mas cresceu ao longo da campanha. Sua atuação é elogiada por Lula e Dilma.
Dutra tem presença constante no noticiário fazendo contraponto aos ataques tucanos à candidata. Representa ainda a ala de moderados petistas que comanda o PT.
Quando aparecem propostas vistas como mais esquerdizantes, logo diz que o discurso tem de ser amplo e levar em conta as sugestões dos aliados.
O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, chegou ao governo por sugestão de João Santana. Ganhou relevância e assumiu posição próxima à de Lula.
Foi um dos maiores defensores de Dilma quando ela tinha índices de intenção irrisórios nas pesquisas. É muito ouvido pela candidata do PT, que, como ele, foi uma militante da esquerda armada que lutou contra a ditadura militar de 1964.
Por último, integra o G7 a própria candidata. Leal a Lula, tem personalidade forte. Erram os que apostam que será uma marionete. Tendem a acertar aqueles que creem que Dilma poderá ser um caso raro de criatura que não se voltará contra o criador.

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