Por outro lado, pesquisa anual do Latinobarómetro mostra que cresceu preocupação com criminalidade
Para quase um quinto dos entrevistados, Brasil é o país mais influente da América Latina, à frente dos EUA
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
O Brasil é hoje o país mais otimista da América Latina, com quase 70% de cidadãos dizendo que sim, estamos fazendo progresso, segundo a última pesquisa da ONG chilena Latinobarómetro.
O estudo da organização traz também más notícias -o medo da criminalidade cresceu e é a principal preocupação dos latinos em 2010, à frente do desemprego.
A publicação oficial da pesquisa está marcada para hoje, mas a revista "The Economist" divulgou ontem com exclusividade uma prévia de alguns do principais resultados (a maior parte com números aproximados).
Apesar de a liderança no ranking do otimismo não ser inédita, esta foi a primeira vez em que todos os indicadores de progresso pesquisados no Brasil foram positivos, disse à Folha a diretora do estudo, Marta Lagos.
"Economia, política, sensação de progresso, percepção de igualdade. Tudo melhorou", afirmou ela.
A exemplo do ano passado, o Brasil também é considerado bem mais influente do que os EUA na região: aparece como o mais proeminente para cerca de 19% dos entrevistados.
Americanos e venezuelanos são os mais influentes para 9%.
OUTROS TEMAS
Em relação ao crime, 2010 é apenas a segunda vez em que esse ponto aparece à frente do desemprego como a principal preocupação desde o início das pesquisas anuais, em 1995.
A primeira vez foi em 2008, e a diferença entre os dois temas aumentou bastante de lá para cá.
No período, o continente testemunhou a explosão da barbárie em países como México, por conta da guerra entre autoridades e narcotraficantes, e Venezuela.
O estudo foi feito em setembro e outubro, com base em 20 mil entrevistas, em 18 países, com margem de erro de três pontos percentuais.
Antes, portanto, da operação policial em favelas com apoio das Forças Armadas no Rio de Janeiro, após ataques e incêndios em veículos que assustaram o país desde o fim do mês passado.
Aproximadamente 26% dos latinos elencam crime como a principal preocupação, contra cerca de 19% que apontam o desemprego. Em 2008, os números ficavam em torno de 17% e 15%, respectivamente.
De acordo com Lagos, dois fatores contribuem para o avanço desse medo. Um é que com o crescimento econômico, o medo do desemprego cai e as pessoas atentam para outros temas.
Mas o principal é que aumentou a percepção de criminalidade na região, mais do que a violência em si.
Cerca de 31% do ouvidos disseram ter sido vítimas ou que familiares foram vítimas de crime no último ano -a cifra mais baixa desde o início da pesquisa.
O apoio à democracia seguiu estável no continente, com cerca de 62% dos cidadãos preferindo esse sistema.
No entanto, apenas cerca de metade dos entrevistados no Brasil (54%) e no México (49%) são democratas convictos, o que faz cair a média regional para menos de 60% quando o peso populacional destes países é levado em consideração
Apoio à democracia é resistente, diz diretora
Para Marta Lagos, crise econômica não favoreceu suporte a ditaduras
Para ela, percepção de proeminência do Brasil na região, maior até do que a dos EUA, é um fator muito positivo
DE WASHINGTON
Para Marta Lagos, diretora do grupo chileno Latinobarómetro, a maior surpresa da pesquisa anual de 2010 foi a resistência do apoio democrático na região apesar da crise econômica. Ela também acredita que o crescimento da percepção de liderança do Brasil no continente -com queda de proeminência americana- é positiva para toda a região. (AM)
Folha - O que surpreendeu mais na pesquisa?
Marta Lagos - A resistência à crise. É uma grande novidade. Temos muitas provas de que é possível sair bem de uma crise e que apesar dela pode aumentar o apoio democrático. Esperávamos que a crise tivesse afetado o apoio à democracia.
Como a noção da liderança do Brasil na região se compara com anos anteriores?
Em 2009, a liderança do Brasil era similar, mas as visões sobre a preponderância da influência dos EUA e da Venezuela caíram desde então. Há agora dez pontos de distância entre o Brasil e os EUA. Essa é uma notícia muito boa. Historicamente os EUA lideravam. Agora temos uma liderança que vem de dentro.
É verdade que os EUA abriram mais espaço para liderança de outros países depois do 11 de Setembro. Mas quando é que a América Latina foi foco de atenção americana? Nunca.
Agora, sobre a proeminência do Brasil, a pergunta continua: a liderança era do país ou de Lula?
O número de brasileiros e mexicanos que preferem sempre a democracia a outros sistemas é de apenas cerca de metade...
Mas o importante não é o número total, e sim o avanço. Esse índice já esteve em 30% no Brasil [em 2001]. O apoio à democracia cresceu mais de 20 pontos na década. Se o país mantiver essa velocidade estará muito bem. Foi um avanço gigante. Não podemos pensar em chegar a 100%, isso não existe.
O caso do México é diferente. Nunca tiveram 30%, sempre tiveram entre 40% e 50%, e a taxa não está aumentando muito.
Por que aumentou tanto o temor da violência?
A taxa de vitimização em muitos países na verdade diminuiu. O que vem crescendo nos últimos anos é a percepção da vitimização. Por exemplo, Venezuela e México são dois países que historicamente tiveram taxas muito altas de delinquência, mas agora os cidadãos se dão mais conta disso. Ainda que os governos estejam atacando o crime, autoridades não conseguiram controlar a percepção da opinião pública
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