sexta-feira, 29 de abril de 2011

blog do nassif - A blogosfera nas eleições de 2010 -

Enviado por luisnassif, sex, 29/04/2011 - 13:35
Na próxima semana, durante o IV Congresso de Opinião Pública da WAPOR (do World Association for Public Opinion Research) em Belo Horizonte, um dos trabalhos apresentados será o paper “Informação e contra-informação: o papel dos blogs no debate político das eleições presidencias de 2010”, de Rafael de Paula Aguiar Araujo (Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Claudio Luis de Camargo Penteado (Professor da Universidade Federal do ABC; pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP )e Marcelo Burgos Pimentel dos Santos (Doutorando em Ciências Sociais pela PUC-SP; pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP)

A análise se concentra no nosso blog aqui e no Viomundo, do Luiz Carlos Azenha.

Aqui, trechos do trabalho:

As acusações contra Dilma provocaram uma imediata reação de seus partidários e simpatizantes, que acusavam os grandes meios de comunicação de fazer uma campanha sistemática para desestabilizar a candidatura petista e servir aos interesses de José Serra. Esse embate, encontrou no universo digital da Internet, um campo de contestação das informações publicadas,promovendo um intenso debate que foi além da disputa partidária, colocando em oposição os críticos das grandes empresas de comunicação e os representantes desses setores.

(…) Alguns outros, com uma postura mais radical, chegavam a chamar os grandes veículos de comunicação de PIG – Partido da Imprensa Golpista, termo que se espalhou com rápida velocidade na Internet. O segundo grupo, encabeçado pelas grandes empresas de mídia tradicional, representados pelos profissionais da área, acusava o governo de censura, afirmando que os petistas eram contra a liberdade de imprensa, patrocinando “pseudojornalistas” para defenderem o governo. Existe uma relação conflituosa entre a mídia tradicional e a Internet sob diferentes aspectos.

(…)Os jornalistas que atuam na blogosfera, na maioria das vezes, passaram por vários veículos de comunicação tradicionais e possuem credibilidade assegurada, são, portanto, portadores de um capital simbólico dentro do jornalismo, inclusive os dois blogueiros que analisaremos neste artigo. Há, entretanto, blogueiros e usuários que atuam no espaço da Internet sem a formação jornalística e realizam um trabalho mais semelhante ao de uma militância.

(…) A disputa entre veículos tradicionais e NTICs chamou a atenção para o poder da Internet no debate político contemporâneo, em que o aumento do número de acessos e a importância nas relações sociais possibilitaram a criação de um espaço alternativo de informação, quebrando o monopólio do processo informacional, centrado nos grandes meios de comunicação tradicionais.

(…) Entre esses episódios podemos destacar três que merecem menção especial por serem bem significativos no embate entre as forças majoritárias do pleito presidencial, a saber: a acusação de tráfico de influência na Casa Civil envolvendo a ex-assessora de Dilma, Erenice Guerra. Outro caso significativo foi o evento conhecido como o “caso da bolinha de papel” e, por fim, a denúncia de quebra de sigilo de pessoas ligadas ao candidato José Serra, entre eles sua esposa e filha.

O caso da bolinha de papel
O “caso da bolinha de papel” corresponde a uma situação em que o candidato tucano José Serra, durante uma caminhada de campanha, é atingido por um objeto lançado por supostos manifestantes petistas.

Esse acontecimento recebeu diferentes coberturas nos noticiários, cabendo destacar as reportagens do Jornal Nacional e do Jornal da Record.

O primeiro mostra o confronto entre os militantes e, em seguida, imagens de Serra com a mão na cabeça indo para um hospital receber tratamento médico e realizar exames.

O segundo identifica o objeto como uma bolinha de papel e mostra cenas em que o candidato tucano somente coloca a mão na cabeça, local onde foi atingido, depois de receber um telefonema.

A reportagem do Jornal da Record teve uma ampla repercussão na Internet, porque os apoiadores de Dilma logo fizeram circular suas imagens da reportagem na Web.

No dia seguinte, o Jornal Nacional levou ao ar uma nova reportagem sobre o evento, com novas imagens em que o candidato Serra também teria sido atingido por um outro “objeto”, que justificaria a necessidade de atendimento médico. Para confirmar essa nova versão, convidaram o “perito” José Molina1, que afirmou na reportagem que provavelmente o que atingiu a cabeça do candidato foi um rolo de fita crepe.

Em reação a essa reportagem, a blogosfera circulou diversas informações questionando a veracidade das imagens. Com análise das imagens, quadro-aquadro, os blogs procuram demonstrar, com a participação de outros peritos, que o vídeo exibido no Jornal Nacional foi montado2.

O dossiê
Contudo, o acontecimento mais emblemático foi aquele denominado como o caso da “quebra de sigilo” de pessoas ligadas à José Serra, que o noticiário da mídia tradicional relacionou à campanha petista, acusando-a de fazer um dossiê contra o candidato tucano.

Nesse caso, houve dois momentos em que a notícia ganhou destaque, durante o primeiro turno, quando Dilma Roussef já aparecia em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, e, posteriormente, no segundo turno, com o vazamento do resultado da investigação da Polícia Federal sobre o caso.

Em ambos os momentos, as reportagens vinculavam a quebra do sigilo à campanha petista, havendo indícios de que o dito dossiê teria sido produzido em Minas Gerais por pessoas ligadas ao também tucano Aécio Neves. Nesse caso, o dossiê seria fruto de uma disputa interna dentro do próprio PSDB.

(…)É possível dizer que a venda de dados sigilosos da Receita Federal não era algo novo naquele momento e já era de conhecimento público. Mais ainda, a emissora SBT já havia feito uma reportagem, em que tratava da compra e venda de dados sigilosos em São Paulo.

O programa SBT Brasil fez a reportagem intitulada Senhas do Crime, pela qual entrevistou o então presidente do Superior Tribunal Federal, Gilmar Mendes, além do então governador de São Paulo, José Serra.

Na reportagem Serra chega a afirmar que já sabia dessa possibilidade e reitera que também era possível encontrar os dados das suas esposa e filha, além de seus próprios dados pessoais. Além disso, citava a possibilidade de quebra de sigilo do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, dos ministros da Fazenda e da Justiça, Guido Mantega e Tarso Genro, respectivamente, além do próprio Presidente da República.

Dessa forma, é possível dizer que no momento em que o caso do dossiê ganha espaço nos noticiários, não era novidade ser possível comprar informações sigilosas de qualquer cidadão do país. E, mais ainda, os fatos permitem dizer que as vendas não tinham interesses partidários ou ideológicos específicos, pois atingiam várias pessoas de diversas matizes ideológicas e políticas.

Blogs e mídia tradicional
Diferentemente dos meios de comunicação tradicionais que são conhecidos por serem uma fonte de informação de mão única, ou seja, dos emissores para os receptores, as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) possuem uma característica diferente pois também permitem aos receptores participarem dos processos de produção de informações.

Assim, através do desenvolvimento tecnológico, atualmente, há uma nova relação de força na produção de informações (políticas ou não) que pode ser considerada como mais horizontalizada, em detrimento da relação mais verticalizada produzida pela mídia tradicional.

Em outras palavras, já são notórios no Brasil os coletivos de blogs pelos quais diversos blogueiros se reúnem para formalizar uma rede de troca de informações e notícias independente dos grandes veículos de comunicação tradicionais.

Na mídia tradicional, a informação, até ser veiculada, passa por diversos filtros hierárquicos em sua edição, os chamados gatekeepers, que podem ocasionar, inclusive, uma edição final completamente diferente daquela que foi imaginada por seu autor inicialmente.

Com as NTICs, em especial os blogs, isso dificilmente acontece. Os indivíduos têm maior liberdade para publicar o material que desejam, pois as informações não precisam passar pelo crivo de um editor. Cada autor é seu próprio editor, de forma que os filtros hierárquicos acabam por se tornar muito mais fluidos ou mesmo obsoletos.

(…) Ou seja, diferentemente do que ocorria no século anterior, o ativismo político hoje se realiza na e pela mídia, na ágora virtual, ao invés da ágora real e concreta das cidades, transformando aos poucos os mecanismos da ação e participação política. Todo esse ativismo via Internet pôde se desenvolver graças ao número de acessos de banda larga no Brasil e no mundo, que permite maior rapidez na obtenção e troca de informações, sobretudo quando são circulados fotos e vídeos pela rede com o intuito de produzir novos conteúdos informacionais.

(…)Antes do surgimento das NTICs, a mediação entre Estado e sociedade ocorria através da representação institucional dos partidos políticos e órgãos da administração pública. Depois essa mediação passou ao controle dos grandes conglomerados de mídia, que passaram a influenciar diretamente a opinião pública, o que limitou o cidadão à condição de expectador da luta política e a um consumidor de políticas.

As NTICs permitiram, por exemplo, uma dinâmica inovadora na execução das práticas políticas, estabelecendo uma interação mais direta entre o Estado e os cidadãos sustentada por um aparato tecnológico de comunicação em rede. Atualmente, no Brasil, é possível a participação via Internet de discussões no desenvolvimento do ciclo de políticas públicas, como é o caso do Ministério da Cultura durante o governo Lula, que se empenhou na construção de espaços de deliberação e pesquisa em seu site9.

A quebra do sigilo
No Viomundo houve um equilíbrio entre posts com enquadramento informativo indireto e avaliativo crítico. Os textos informativos indiretos se caracterizam por trazer informações de outras fontes, isto é, o blogueiro replica em seu site reportagens de outros meios de informação. O blogueiro nesse caso faz uma seleção das informações que acha mais importantes. Nesse episódio, Azenha buscou desconstruir o noticiário oficial da mídia tradicional, questionando o comportamento da mesma e o resultado dessas ações na corrida eleitoral. Os posts com enquadramento avaliativo crítico se posicionaram sobre a atuação da grande imprensa, analisando e denunciando o comportamento parcial favorável à campanha de José Serra.

No blog Luis Nassif Online o enquadramento dos posts também foi muito semelhante. A maior parte teve um enquadramento informativo indireto, havendo a postagem direta das notícias dos grandes veículos de comunicação tradicionais, principalmente dos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo e da revista Veja, seguidos, muitas vezes, de um comentário irônico do blogueiro, além de uma análise argumentativa crítica.

Foi verificado o enquadramento informativo indireto em 78,5% dos posts, a presença de ironia em 30,5% dos posts e de uma avaliação crítica em 36,5% dos textos postados.

No início da cobertura do caso, o blogueiro apresentou sua postura crítica frente a maneira como a mídia tradicional estava realizando seu enquadramento. Isso estabeleceu o blog como espaço de contra-informação, de tal forma que os próprios usuários passaram a colaborar com a apresentação de novos dados, reafirmando dessa maneira uma nova prática do jornalismo colaborativo que existe na rede mundial de computaores.

Em muitos posts, Nassif apenas postou a reportagem publicada pela “velha mídia” deixando as conclusões para os leitores. Vale também dizer que em alguns casos, Nassif trouxe uma informação direta, valendo-se de seu prestígio e credibilidade, como foi o caso do post em que o jornalista divulga a vontade de Luiz Lanzetta, dono da empresa Lanza Comunicações, ligada ao caso, em ser convocado para depor no Congresso ou em praça pública.

A informação foi obtida através de telefonema de Lanzetta ao próprio Nassif, o que reforça a idéia de que os blogs são também espaços privilegiados de informação, fornecendo novos elementos que estão ausentes na mídia tradicional. Essa característica contribui para a atração de boa parte dos leitores. Não é à toa que o número de acessos a blogs informacionais aumenta em períodos eleitorais11.

Na composição de seus textos, Azenha utilizou de diversas fontes (tabela 02), tanto da mídia tradicional, como das novas mídias (blogs e portais da Internet). A recorrência aos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e ao portal do UOL (pertencente ao mesmo grupo jornalístico que mantém a Folha de São Paulo) foi feita para ilustrar como esses meios distorciam ou escondiam as informações do acontecimento, ou para divulgar resultados de pesquisas avaliando o impacto da denúncia. O destaque da mídia tradicional foi para a replicação de reportagens da revista Carta Capital, escrita por Leandro Fortes, que teve um papel essencial nesse episódio, mas que somente teve repercussão na Internet, sendo praticamente ignorada pela grande mídia. Em relação às novas mídias podemos destacar os posts retransmitidos do Luis Nassif Online, Conversa Afiada (do jornalista Paulo Henrique Amorim) e Observatório da Imprensa (portal dedicado a fazer uma avaliação crítica do funcionamento da imprensa). Os textos de Nassif e Amorim foram centrais no processo de desconstrução do noticiário da grande mídia, trazendo informações que questionavam o conteúdo veiculado por esses meios.

No blog do jornalista Luis Nassif existe uma diferença no que diz respeito ao uso de fontes. Nassif parece ter reconhecido seu papel no caso pelo pioneirismo no tratamento das informações. Ele foi fonte para outros blogs, como é o caso do Viomundo, mas não citou nenhum outro blog de grande repercussão em seus posts. Exceção para o Conversa Afiada, citado uma vez e, ainda assim, por um leitor em um comentário.

Ao analisarmos a tabela 03, é possível ver que Nassif se utiliza mais das fontes tradicionais do que das novas mídias, mas com uma perspectiva semelhante a de Azenha. Os textos são publicados seguidos de comentários críticos e irônicos, com o intuito de desconstruir a credibilidade desses meios tradicionais e evidenciar seus posicionamentos políticos.

Vale destaque para o fato de Nassif se valer com freqü.ncia de participações de seus colaboradores, algumas vezes pessoas que lhe passam informações pessoalmente, que em seguida são publicadas pelo blogueiro, outras vezes os próprios leitores colaboram com novas análises e interpretações, como foi o caso do vídeo publicado no Youtube com a entrevista da candidata Dilma Roussef discutindo com Sérgio Dávila sobre o suposto dossiê.

Quando surge a denúncia do caso da quebra de sigilo e o suposto “dossiê”, Azenha retransmite em seu blog post de Nassif indicando que esse era um caso antigo, antes do início da campanha (início de 2008 e que já comentamos aqui), e que se referia a um livro a ser lançado pelo jornalista Amaury Ribeiro Junior, sobre denúncias de irregularidades no processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso.

Simpatizantes e militantes da campanha petista circularam essa abordagem nos mais variados fóruns da Internet (blogs, Twitter, redes sociais, e-mails etc). Azenha também postou o texto de Paulo Henrique Amorim em que o autor acusa a “grande mídia” de ajudar o candidato Serra, criando factóides contra a campanha de Dilma, além de disponibilizar um link para ter acesso a um capítulo do livro de Ribeiro Junior. Em um segundo momento, quando foi “vazado” o resultado das investigações da Polícia Federal sobre o caso da quebra de sigilo, a mídia tradicional buscou identificar Ribeiro Junior como participante de uma equipe de “inteligência” da campanha de Dilma. Em reação, Azenha publicou em seu blog informações e avaliações ligando Amaury, que na época trabalhava no jornal O Estado de Minas, com o ex-governador mineiro Aécio Neves. Segundo as análises exibidas no blog Viomundo, como reportagem de Leandro Fortes para a revista Carta Capital (divulgada no blog), a “quebra do sigilo de tucanos é fruto da guerra Serra-Aécio”, isto é, uma disputa interna pela indicação do partido para a candidatura a presidência. Contudo, a cobertura do noticiário enfatizou a ligação de Amaury Ribeiro Júnior com Luiz Lanzetta, responsável, até então, pela coordenação de comunicação da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República

Um outro evento importante que revela o papel de contra-informação da blogosfera foi a repercussão da reportagem da mesma Carta Capital sobre o envolvimento de empresa ligada a Verônica Allende Serra e Verônica Dantas Rodenburg, filhas de José Serra, e do mega-investidor Daniel Dantas, como responsável por disponibilizar em seu site o sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros12.

Apesar de não ter repercussão nos noticiários da mídia tradicional, essa reportagem ganhou destaque dentro da Internet, principalmente em alguns blogs e no Twitter, possibilitando que o caso fosse utilizado pelos simpatizantes e militantes da campanha de Dilma.

No blog Luis Nassif Online pôde-se observar um comportamento parecido, principalmente na crítica à grande mídia. O blogueiro teve um papel ainda mais atuante pois participou diretamente na desconstrução do caso, questionando as informações publicadas e a forma do enquadramento desse acontecimento. Como se pode observar no trecho abaixo:

A notícia sobre o suposto dossiê, que ninguém sabe dizer se existe de fato, veio a público em uma reportagem confusa da revista Veja e ganhou lentamente as páginas dos jornais durante a semana até ser brindada com uma forte reação do PSDB e de Serra. Na quarta-feira 2, o pré-candidato tucano acusou Dilma Rousseff de estar por trás da “baixaria” e cobrou explicações. A petista disse que a acusação era uma “falsidade” e o presidente do partido, José Eduardo Dutra, informou que a cúpula da legenda havia decidido interpelar Serra na Justiça por conta das declarações13.

Nassif, em seu blog, assumiu uma posição crítica ao que ele chamou de “velha mídia”, acusando-a de favorecer a campanha de Serra e distorcer as informações em favor de tal candidatura.

Até hoje a noite, esconderam o jornalista da história, pois o conteúdo de seu livro era (e é) destruidor para a candidatura de Serra. Pois bem: a estratégia suja desta velha imprensa e dos serristas é chamar o livro de Amaury Jr. de "livro-dossiê", acusá-lo de fazer parte da campanha de Dilma e afirmar que o PT sabia da existência deste material contido no "livro-dossiê" desde 2009. Esta obra de pesudo-jornalismo merece 12 A reportagem da revista Carta Capital foi praticamente ignorada pela grande mídia, que acusou a revista de estar a serviço do governo federal (jornalismo “chapa-branca”), produzindo informações favoráveis a candidata petista.

Enquadramento comentários:
Foi possível notar um número significativo de comentários nos dois blogs. É preciso alertar que, diferente do Blog do Noblat e do Blog do Josias, como já evidenciado em outros momentos15, os blogs do Azenha e Nassif possuem um perfil mais analítico, mais crítico, enquanto os outros primam por serem mais informativos.

Seus usuários têm uma argumentação um pouco mais sofisticada, ou seja, utilizam-se de dados e outras fontes para uma construção lógica de raciocínio, enquanto em outros blogs as participações ficam constantemente nas impressões pessoais e “achismos”. De tal forma que naqueles blogs o número de comentários, em geral, é muito maior que nesses, mas a qualidade crítica também é menor.

O debate, por se tratar de um período eleitoral, de uma forma ou de outra evidenciava posicionamentos políticos dos usuários, mas isso não foi significativo ao ponto de se verificar embates ideológicos e comentários avaliativos morais em que se desqualificam a discussão.

De maneira geral a grande contribuição dos comentários dos posts foi no sentido de evidenciar o papel dos blogs como espaço de contra-informação. Nesse sentido, os enquadramentos dos comentários são, na sua maioria, informativos diretos, avaliativos críticos e irônicos, e em alguns casos é possível encontrar textos informativos indiretos, seguindo um mesmo padrão dos posts dos blogueiros. Isto significa que os leitores destes blogs também estão preocupados com um conteúdo mais transparente de informação.

Avaliação geral:
Os blogs estudados tiveram um papel importante ao criticarem a parcialidade da cobertura da mídia tradicional, durante o processo eleitoral de 2010, mais especificamente no caso da “quebra de sigilo”. Assumiram, dessa maneira, uma postura mais questionadora e investigativa.

Os blogueiros buscaram trazer uma nova interpretação para os acontecimentos, com o fornecimento de novos dados, análises e interpretações, chamando a atenção para as distorções das reportagens publicadas na grande mídia, evidenciando o seu posicionamento contrário à candidatura de Dilma Rousseff.

Nassif se diferenciou por atuar mais diretamente no questionamento da cobertura da Folha de São Paulo. Logo após a repercussão da reportagem da Veja, o blogueiro buscou elucidar que o caso se referia a um livro (como citado acima) e não a composição de um dossiê, e que a “velha mídia” estava tentando relacionar esse fato a um trabalho de “espionagem” do comitê de campanha petista contra a candidatura tucana.

Por outro lado, Azenha também teve um papel importante, principalmente na repercussão e ampliação deste debate. O blogueiro utilizou seu espaço para divulgar as análises de Nassif, publicar informações de outros meios, da mídia tradicional ou mesmo de outros blogs, ou então, realizando uma avaliação crítica do evento, buscando elucidar o “escândalo”. Essa atuação possibilitou que na web as denúncias fossem “neutralizadas”, minimizando possíveis impactos na corrida eleitoral, pois na medida em que as notícias eram depuradas pela Internet, ganhavam um “coro dos contrários”, que era veiculado na imprensa escrita e televisiva. Naquilo que Pierre Bourdieu (1997) denominava de “mecanismo de circulação circular” da informação, ou seja, aquilo que é retratado por um meio, logo deverá ser tratado por outro, sob risco de ficar desatualizado ou à margem do sistema de informações. É preciso lembrar que isso também ocorre porque muitas vezes, as fontes são as mesmas e os jornalistas também são os mesmos.

Um outro fator que merece destaque é a formação de uma rede colaborativa interligada pela rede mundial de computadores, que começou a ganhar maior espaço no debate político, enfraquecendo o monopólio do controle da produção, divulgação e circulação de informações da mídia tradicional, ampliando o debate para a participação de outros atores. Percebe-se que alguns jornalistas, como no caso estudado, tem um papel de centralização nesse processo comunicativo, exercendo a função do nó da rede, destacando no episódio Luis Nassif, Luiz Carlos Azenha e também Paulo Henrique Amorim, que por possuírem maior credibilidade (capital simbólico) e visibilidade atraem um número muito grande de leitores e participantes, que contribuem com material para incrementar os debates. A blogosfera tem o papel de ampliar o debate e circular a informação para além desses fóruns, atuando de forma interativa e colaborativa, criando uma nova dinâmica no processo político contemporâneo, que tem no universo digital da Internet um novo

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