segunda-feira, 16 de maio de 2011

Discutindo a nova mídia - blog do luisnassif

seg, 16/05/2011 - 13:17
No IV Congresso Latino Americano de Opinião Pública da WAPOR, Belo Horizonte, um dos trabalhos mais consistentes sobre a Blogosfera e os novos meios de comunicação foi "Eleições 2010: internet em alta, mídia de massa em baixa?" de Anderson Ortiz, Mestrando em Novas Tecnologias da Comunicação – PPGCOM/Uerj, professor das Faculdades Integradas Helio Alonso.

A ação política da velha mídia

O primeiro passo do trabalho foi tentar identificar a atuação política da mídia. A análise constatou que:

a) a atuação mais ativa dos meios de comunicação em sistemas avançados de mídia como o brasileiro é um fenômeno presente em democracias liberais;

b) um padrão de discurso e cobertura de matriz norte-americana exerce forte influência em sociedades com tal alinhamento;

c) este padrão alia desenvolvimento comercial, entretenimento, profissionalização do político, antagonismo entre políticos e jornalistas, resultando em cinismo e apatia da opinião publica em relação à vida política;

contemporaneamente a televisão ocupa papel de destaque como um dos mais influentes meios de comunicação para a área política;

e) o papel da imprensa deve ser vigiar o poder público sendo, portanto, exagerado esperar que atue como definidora da agenda pública política aprofundada.

O trabalho constata que o escândalo é o limite máximo da cobertura jornalística. É dentro desse modelo, basicamente influenciado pela mídia norte-americana, que se desenvolvem os valores midiáticos, dentre os quais o autor destaca:

O paradigma comercial como fator de proliferação de meios massivos; a abordagem dos assuntos sob um viés editorial voltado para o entretenimento; a adequação da figura do político e dos eventos públicos para a cobertura midiática dos assuntos; um antagonismo crescente entre jornalistas e políticos; cinismo recorrente do público em relação à política graças à visão dos jornalistas que prevalece nos enquadramentos dados pelos conteúdos.

Durante as eleições, é quase impossível à mídia discutir temas relevantes ou apontar os melhores candidatos, porque sua posição é a de "captar o fato novo, aquilo que é fora do comum e pode ser retratado na linguagem de cada meio sob seus aspectos e enfoques sensacionalistas".

Essas constatações são de estudiosos estrangeiros e não enfocam especificamente as situações em que a mídia passa a se comportar como partido político.

O circuito do espetáculo midiático-político

A mídia define uma agenda voltada para o espetáculo e candidatos e partidos se esforçam para atende-la atuando de maneira dramatizada ou espetacular. O que define a cobertura são as necessidades dos meios de comunicação, não o interesse público.

Ponto interessante do trabalho é a descrição de mecanismos que levam ao processo de formação da opinião da massa.

Segundo Noelle-Neumann (1972) "os meios de comunicação de massa participam na formação da opinião pública à medida que dão ao indivíduo uma idéia do que pensa o restante da coletividade sobre um dado tema. Este interesse em conhecer e se adequar ao sistema de valores socialmente aceitos faz com que o indivíduo corrobore suas crenças, mude seu pensamento para se adaptar ao grupo, ou simplesmente se exima de emitir sua real opinião (conceito da espiral do silêncio). Tal comportamento parte da premissa de que o indivíduo tenta evitar divergências que possam isolá-lo da coletividade".

Reside aí a maior parte do poder mais pernicioso da mídia. Alias, um outro trabalho apresentado durante o Congresso mostrou como a mídia tradicional sufocou a Última Hora em 1964. Bastava insinuar que abrigava comunistas para imediatamente provocar uma retração dos anunciantes. Esse foi o mesmo principio do macartismo e do movimento midiático brasileiro nos últimos anos.

Cria-se uma “denúncia” qualquer do adversário, dentro do modelo de assassinato de reputação e, com isso, inibe-se as relações especialmente com segundo e terceiro escalaão de empresas;

A regulação na Internet

Outro bom momento do trabalho é o da classificação dos internautas, em relação ao modelo de regulação da Internet, a discussão sobre a democracia digital.

Há duas correntes que se antagonizam ao falar sobre a democracia digital procurando responder se este meio de comunicação pode condicionar um novo modelo de participação (Zittel, 2004). Para os ‘ciberotimistas’, a popularização da base de equipamentos conectados, a entrada maciça de parcelas cada vez maiores dos estratos sociais, a possibilidade de comunicação descentralizada do modelo tradicional ‘um-todos’, passando para modelos ‘um-muitos’ ou ‘um-poucos’ e a interação com pessoas em diferentes pontos do globo de uma maneira fácil e conveniente são argumentos que mostram que uma nova esfera social se forma em torno do aparato tecnológico da internet. Na corrente oposta, cientistas políticos percebem esta e-democracia mais como uma forma de reforçar velhas estruturas da política tradicional do que transformar o fazer político.

Já a corrente “democrata-participacionista” preceitua que a internet é um espaço para colocar o cidadão como um elemento atuante nas decisões políticas. As questões colocadas em evidência são a participação e o engajamento (...). Graças ao poder da comunicação direta e equilibrada em rede, diminui a necessidade de mediação do elemento político e demais gatekeepers (órgãos do poder público, partidos políticos, empresas, entidades de representação, imprensa) na relação entre sociedade e Estado.
Mas há quem coloque em duvida essa democracia.

Segundo Gomes (2008) "ao contrário de uma participação ampliada da sociedade civil, o que se constata é que o público médio apresenta baixo interesse pelos assuntos políticos e nota-se um predomínio de atores sociais já relacionados à política fora da rede de computadores que utilizam o espaço como mais uma ferramenta do fazer político tradicional.
Há dúvidas também em relação ao tema democracia direta.

Autores como Zittel registram três níveis de democracia digital.

A dimensão jurisdicional baseia-se na probabilidade de as decisões serem tomadas coletivamente ou por um ator social autônomo, daí decorrendo que o novo meio digital aumenta os laços sociais e o engajamento cívico, um campo que se auto-regula com novos tipos de comunidades virtuais.
Na dimensão decisional, preceitua-se que este espaço pode se transformar num foro apropriado para decisões diretas da opinião pública.
Graças à dimensão representacional, tem-se que a distância entre o cidadão comum e as instituições representativas pode diminuir graças à internet.

A Internet apresenta vantagens obvias: a superação dos limites de tempo e espaço para participação política; quantidade e armazenamento de informações on-line sempre à disposição; comodidade, conforto e conveniência para acessar informações; facilidade e extensão de acesso; baixo controle e poucos filtros como parte da própria natureza do meio.
A topologia das redes sociais

Mas quais são os gatilhos que despertam a atitude engajada? A pauta é dada pela velha mídia. A blogosfera “reenquadra” a matéria (re-framing) sob um viés contestador.

O objeto de disputa no ativismo digital vai ser a informação. O campo opositor, portanto, é a própria mídia tradicional, sendo o desafio maior do ciberativismo obter êxito em reverter o fluxo da comunicação pautando a mídia estabelecida para um enquadramento diferente consoante os interesses daquele grupo.

A partir daí, forma-se a seguinte corrente:

a) os blogs se abastecem do material produzido pelos meios tradicionais, ampliando ou replicando a cobertura de veículos;
b) o fluxo de passagem da produção ainda se dá mais no sentido dos meios tradicionais migrando seu conteúdo para internet;
c) Na apropriação dos conteúdos, veículos tradicionais conferem maior credibilidade ao autor, tanto para apoiar quanto para refutar.
Em relação à topologia das redes sociais, a divisão é entre as redes igualitárias (aquelas em que todos os ‘nós’ ali presentes têm o mesmo número de conexões), redes mundos pequenos (cujas conexões mostram que há a existência de poucos graus de separação entre as pessoas na formação de famílias de grupos) e redes sem escalas (que postula a existência de ‘nós’ mais centrais na rede, mais fortes que outros e atuando como mediadores e multiplicadores).

Há também uma vasta conceituação sobre a maneira como as redes se interligam e as notícias se propagam.

Os conteúdos começam nas redes com capital relacional forte. No caso de “grupos sociais de capital cognitivo” (sociologuês para definir grupos em que há conteúdo mais denso), como os blogs políticos, a discussão fica limitada a grupos mais localizados e restritos, com maior grau de interesse pelo assunto abordado.

O trabalho divide as comunidades da Internet em ‘emergentes’, ‘associativas’ ou ‘híbridas’.

As “emergentes” baseiam-se nas interações recíprocas dos autores

No caso dos weblogs ligados à política, ou simplesmente blogs2, constata-se que a autoridade na produção de conteúdo inicia na figura de seus colunistas. Dali se dá o processo de difusão de informações para outras redes, quando outros participantes se abastecem de fatos e os replicam para outros ‘nós’.

A reputação é um aspecto importante neste jogo de apropriação e é corroborada pela garantia institucional de um veículo também presente em outros meios de comunicação offline. Há de se observar, portanto, o papel que o veículo desempenha em relação ao autor do blog como uma garantia prévia de credibilidade da fonte.
O trabalho minimiza a extensão dos grupos políticos que se degladiam na Internet. Em geral as discussões políticas ficam restritas a grupos de militantes, sem alcançar públicos maiores.

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